Ainda distante da liderança no ranking mundial de veículos elétricos (VEs) - dominado por BYD, Tesla e, bem mais atrás, pela Volkswagen –, a montadora alemã BMW apresenta no Salão do Automóvel de Munique, a partir de sexta-feira, 5 de setembro, sua aposta tecnológica desenvolvida nos últimos quatro anos, ao custo de € 10 bilhões, pela plataforma Neue Klasse.

O utilitário esportivo iX3 será o primeiro modelo de veículos elétricos, entre os 40 previstos para serem lançados nos próximos dois anos, controlados por software e movidos por "supercérebros" desenvolvidos pela plataforma, cuja característica principal é o sistema de computador centralizado que substitui o hardware como o recurso mais importante.

“Com a Neue Klasse, estamos fazendo grandes avanços em todos os campos tecnológicos relevantes”, disse o CEO Oliver Zipse. “O novo BMW iX3 será a referência em nosso setor.”

A tecnologia incorporada pela plataforma, assegura a BMW, oferecerá mais de 20 vezes o poder de computação dos veículos atuais e reduzirá a complexidade da eletrônica do carro. Além da nova geração de veículos elétricos, a plataforma também fornecerá a base para seus futuros modelos de combustão interna e híbridos.

A expectativa em torno da nova plataforma da BMW se deve ao fato de a montadora alemã – que também é dona das marcas Rolls-Royce e Mini – tenha se mostrado cautelosa quanto ao ritmo da mudança global para veículos elétricos, adotando uma abordagem multienergética.

O foco nos VEs, porém, chama a atenção, numa mostra de que a BMW pretende brigar com as montadoras chinesas por esse mercado. As vendas de seus veículos elétricos — que têm o mesmo design e aparência de seus equivalentes a gasolina e híbridos — cresceram, com veículos movidos a bateria respondendo por cerca de 18% de suas entregas globais durante o primeiro semestre do ano.

A frota da Neue Klasse, por exemplo, prevê uma maior autonomia elétrica de até 800 km e carregamento mais rápido, com motoristas capazes de adicionar mais de 350 km de alcance em apenas 10 minutos. Além disso, os quatro "supercérebros" melhoram significativamente a comunicação dentro do veículo, telas de infoentretenimento, direção automatizada e outras funções.

A mudança para veículos movidos por um computador centralizado tende a abrir uma nova tendência no mercado automobilístico, permitindo que as montadoras melhorem o desempenho dos veículos mesmo depois que eles forem vendidos aos consumidores, por meio de atualizações, e ofereçam serviços que criem novas fontes de receita.

Salto científico

Frank Weber, membro do Conselho de Administração da BMW AG, afirma que os quatro supercérebros desenvolvidos pela plataforma Neue Klasse permitirão o próximo salto científico na condução automatizada.

“São computadores de alto desempenho que trabalham em conjunto de forma inteligente no que, até agora, se processam por separado”, diz. “Com isso, integram todo o sistema de motorização e a dinâmica de condução com até dez vezes mais precisão.”

Segundo ele, com a plataforma Neue Klasse, a eficiência global do veículo atinge um novo nível. “A sexta e mais recente geração da tecnologia BMW eDrive é fundamental para isso: além das unidades eDrive melhoradas, também apresenta novas células de bateria de íon de lítio, agora redondas, com uma densidade de energia volumétrica mais de 20% superior às células prismáticas utilizadas anteriormente.”

Apesar do otimismo com os lançamentos, o balanço financeiro do primeiro semestre de 2025 da BMW não foi positivo. A receita global montadora alemã caiu para € 67,6 bilhões, uma redução de 8% em relação a 2024.

No segundo trimestre, o faturamento foi de € 33,9 bilhões, 8,2% abaixo do mesmo período do ano anterior. A retração é atribuída à demanda mais fraca na China e aos efeitos negativos da variação cambial.

O BMW Group (incluindo Mini e Rolls-Royce) vendeu 109.516 veículos totalmente elétricos (BEVs) no mundo no primeiro trimestre do ano, um crescimento de +32,4% em relação ao mesmo período de 2024.

A montadora alemã já ultrapassou a marca de 1,5 milhão de veículos 100% elétricos vendidos globalmente, representando cerca de 2,5% a 3% do mercado global de BEVs em 2025 — ainda atrás de marcas como BYD, Tesla, Geely e SAIC.