O maior apetite por risco, alimentado pela alta das apostas em cortes de juros nos Estados Unidos, vem impulsionando o Ibovespa a renovar máximas históricas e impondo perdas a casas que estavam vendidas na bolsa brasileira. O efeito é mais visível nos ativos de maior beta, com ações consideradas mais arriscadas avançando forte e forçando os short sellers a desmontarem suas posições.
Depois do rali das ações das Casas Bahia no início da semana, fenômeno semelhante ocorre agora com a Azul. Nem mesmo a determinação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para que a empresa interrompa o acordo para compartilhamento de voos com a Gol freou o movimento.
Na sexta-feira, 5 de setembro, as ações da Azul disparam pelo segundo pregão consecutivo, chegando a subir 25% na máxima do dia. Os papéis também tiveram forte alta na segunda-feira, 2, e caminham para fechar a semana com 70% de alta.
As apostas de queda nas ações da Azul estavam na máxima histórica, com incertezas sobre a fusão com a Gol e a possibilidade de um novo aumento de capital que diluiria mais os atuais acionistas.
Dos 812,3 milhões de papéis preferenciais fora das mãos dos acionistas de referência, 23,8% estavam alugados. Em termos nominais, a posição vendida era, até o início do pregão, 15 milhões de ações maior do que em maio, pouco antes de a companhia protocolar o pedido de recuperação judicial.
Quem pegou aquele short surfou uma queda expressiva: os papéis da Azul recuaram 55% em abril e acumularam mais 40% de baixa em maio. Agora, porém, o movimento se inverteu. A disparada recente das ações vem “stopando” essas apostas e forçando o fechamento de posições vendidas, o que retroalimenta a pressão compradora.
“É muito provável que esteja acontecendo um short squeeze. Eu nunca shortearia um ativo desse com um cenário positivo pela frente”, afirma Paulo Abreu, sócio-fundador e gestor da Mantaro Capital.
Mas o que destravou esse movimento todo, na avaliação do gestor, foi a recente queda no preço do petróleo, combinada à valorização do real. O câmbio ganhou ainda mais força nesta sexta-feira, após os dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos reforçarem a confiança de que o Federal Reserve poderá iniciar cortes de juros em breve. Para a companhia, que tem custo em dólar, receita em real e depende de combustível barato para ganhar margem, os ventos ajudam.
Luis Felipe Amaral, sócio-fundador e gestor da Drýs Capital, acrescentou que o fato de a empresa estar altamente alavancada, o impacto da melhora dessas variáveis é amplificado.
“Tudo isso combinado ao fato de ser um "beta alto" em momento de risk-on leva a essa reação forte das ações”, afirma Amaral.
Mesmo depois de converter parte da dívida em ações em aumento de capital de R$ 1,66 bilhão, a companhia fechou o último trimestre com uma dívida líquida de R$ 30,12 bilhões, equivalente a 4,9 vezes seu Ebitda.
Em recuperação judicial e com uma dívida que muitos investidores consideram praticamente impagável, as ações da Azul vinham de uma queda de 73,7% no ano. Com a alta de hoje, essa desvalorização diminui para próximo de 65%, com seu valor de mercado rondando R$ 1 bilhão.
“A ação está subindo pelo call de beta e short squeeze. Quando os lessores [arrendadores] venderem, as ações caem de novo. Não vale a pena perder tempo com a companhia quebrada para ter 2% no fundo”, disse um gestor que pediu para não ser identificado.