A vitória da empresa Infra BR V Missouri Holding, pertencente ao Patria, no leilão do Lote Paranapanema, nesta sexta-feira, 5 de setembro, na B3, confirmou a estratégia da gestora de investimentos nos leilões rodoviários no País.

Mostrando o mesmo apetite em relação a certames anteriores dos quais saiu vencedor, o Patria vem direcionando seus investimentos para concessões com alto potencial logístico, especialmente aquelas que conectam regiões produtivas ao litoral e aos grandes centros urbanos.

O leilão do Lote Paranapanema, que inclui trechos da Rodovia Raposo Tavares (SP-270) entre Ourinhos e Itapetininga, no estado de São Paulo, abrange 285 quilômetros de trechos de três rodovias – além da Raposo Tavares, das rodovias Engenheiro Lauri Simões de Barros (SP-189) e Mello Peixoto (SP-278) - e quatro vias de acessos a outras estradas.

O corredor do Lote Paranapanema corta 13 municípios paulistas com grande escoamento de carga e grãos numa rota em direção ao Porto de Santos.

Essa característica é marcante no portfólio de concessões do grupo. Em 2019, por exemplo, o Patria adquiriu da Invepar, no mercado secundário, a gestão das rodovias da Concessionária Auto Raposo Tavares (CART), responsável por um trecho de 834 km que corta o centro-oeste paulista, conectando o transporte de cargas e a expansão do agronegócio e da indústria a importantes polos logísticos.

No ano seguinte, o consórcio formado por Patria e o fundo soberano de Cingapura venceu o leilão das Rodovias Piracicaba-Panorama (PiPa), no Estado de São Paulo, envolvendo 1.273 quilômetros de estradas – na época, a maior malha já licitada em um único lote no País.

Essa mesma estratégia acompanhou a concessão do Lote 1 do primeiro leilão de rodovias do governo Luiz Inácio Lula da Silva, em agosto de 2023, o das chamadas Rodovias Integradas do Paraná.

Por meio do fundo Infraestrutura Brasil Holding XXI, do grupo, o Patria assumiu a concessão de 473 km de quatro rodovias federais (BR-277, BR-373, BR-376, BR-476) e três estaduais (PR-418, PR-423, PR-427) que formam um corredor logístico entre o interior do Paraná e o Porto de Paranaguá.

Procurado pelo NeoFeed, o Patria admite o interesse por concessões rodoviárias em regiões com forte atividade econômica, mas independentemente de terem ligação com portos.

“A estratégia do Patria é focar em rodovias em regiões economicamente atrativas e que estejam inseridos em arcabouços regulatórios sólidos, com contratos de concessão bem estruturados”, esclarece o grupo, em nota.

Dois especialistas, no entanto, afirmam que o portfólio de concessões do Patria indica essa conexão entre corredores logísticos com outros modais.

“Não sei dessa estratégia, mas parece razoável, pois o Patria também tem investimentos em portos e navegação de cabotagem”, diz Diogo Nebias, especialista em contratos de infraestrutura e sócio do escritório Panucci, Severo e Nebias Advogados.

Massami Uyeda Junior, outro advogado com longa experiência no desenvolvimento de projetos de infraestrutura, com passagem pela CCR, afirma que a conexão desses corredores logísticos em concessões é essencial para investidores do setor, que buscam sempre rodovias com robustez de tráfego.

“A preferência sempre é maior por rodovias com tráfego pesado de carga porque o volume de receita dos pedágios é o que sustenta a concessão, somente veículos leves dificilmente geram receita para os investimentos”, diz Uyeda Junior.

Ele observa que o Lote 1 do Paraná, obtido pelo Patria em 2023, é um dos principais escoamentos agrícolas do País. “Mesmo a concessão de hoje, embora não ligue diretamente a portos, escoa produção do agronegócio que vem do Mato Grosso para Santos e Paranaguá, e está localizado próximo à concessão da CART, que o Patria já opera, o que permitirá uma sinergia operacional”, diz.

Disputa no viva-voz

A proposta da Infra BR no leilão do Lote do Paranapanema teve o maior valor percentual de desconto, de 11,6% sobre contraprestação pública máxima anual de R$ 310 milhões.

Outras duas empresas apresentaram propostas: CS Infra S.A, do grupo Simpar ; e o Consórcio Viaja+SP (composto pela Galápagos, M4 Infraestrutura e Participações, Zetta; Traçado Construções e Serviços e Participações), com quem disputou a última fase do leilão, em viva-voz.

A concessão prevê R$ 5,8 bilhões de investimentos, incluindo duplicação de 147 km de rodovias, construção de passarelas, implantação de sistemas de pedágio eletrônico (free flow) e instalação de iluminação LED, câmeras, painéis de mensagens e postos de atendimento.

“A conquista dessa concessão reforça nosso compromisso com investimentos de longo prazo em infraestrutura e com a entrega de serviços de qualidade à população”, afirma Thiago Bronzi, Sócio do Patria Investimentos.

“A expertise que acumulamos em diversos segmentos da infraestrutura será fundamental para uma execução bem-sucedida para modernizar as rodovias, aumentar a segurança e apoiar o crescimento econômico da região”, acrescenta.