Os analistas esperavam uma reação neutra do mercado com o balanço da CCR no terceiro trimestre, divulgado na manhã de sexta-feira, 1º de novembro. Mas a ação da empresa de concessão de infraestrutura abriu o dia de negociação na bolsa em queda de mais de 3,4%.

O que explica esse comportamento do papel é o ágio de 267.835% em relação ao valor mínimo da Rota Sorocabana, o primeiro trecho relicitado da ViaOeste. A CCR venceu o leilão e vai pagar R$ 1,6 bilhão - o valor mínimo era de R$ 597,5 mil.

O Banco Safra, por exemplo, viu o arremate do leilão como ligeiramente negativo em razão da taxa interna de retorno (TIR) alavancada real de 6,7%, ou seja, abaixo dos títulos públicos indexados à inflação. Já o Bradesco BBI disse que, embora pareça agressiva, o valor estratégico e o retorno podem justificar a oferta.

Na call com analistas, os executivos disseram que projetam um retorno maior do que o apresentado nas estimativas pré-leilão.

"Nós tivemos uma abordagem cautelosa no ativo de Sorocabana, apesar de sabermos que temos conhecimento sobre o ativo e contaremos com uma otimização de receitas por lá que nos traz uma vantagem competitiva e tecnológica", afirmou o CEO da CCR, Miguel Setas, na teleconferência.

No balanço, o total investido pela CCR foi de R$ 2,1 bilhões no terceiro trimestre, um aumento de 57,9% do Capex. Segundo o CEO, a companhia continua disposta a fazer novos investimentos, mas que não aportará dinheiro em nenhum projeto que não traga o retorno esperado por eles.

“Nós estamos muito felizes com o nosso trabalho em relação ao Capex e sabemos que existe uma gama incrível de projetos disponíveis com bons retornos para nós, então não é preciso se desesperar e fechar qualquer negócio que não traga retorno a nós e aos nossos acionistas”, disse Setas.

Considerando os investimentos realizados nos nove meses deste ano, a CCR atingiu um montante de R$ 5 bilhões, destinados principalmente às obras da CCR RioSP e ViaMobilidade - Linhas 8 e 9, em São Paulo, e aos Blocos Sul e Central.

Em meio a um contínuo crescimento no uso de estradas e aeroportos, a CCR afirmou que superou os recordes anteriores e registrou o melhor trimestre em volume de tráfego em todas as suas plataformas.

Assim, a companhia viu um crescimento de 4,4% no número de veículos em rodovias, 5,1% na quantidade de clientes de mobilidade urbana e 8,8% de alta no número de passageiros em aeroportos.

Desta forma, a receita líquida da holding atingiu R$ 3,7 bilhões, alta de 10,7% no trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior. Ao mesmo tempo, o lucro líquido ajustado da CCR fechou o período em alta de 11,7%, totalizando R$ 560 milhões.

O Ebtida ajustado da empresa avançou 3,2% nos três meses, com R$ 2,1 bilhões, enquanto a margem Ebitda ficou em 57,9%, queda de 4,2 pontos percentuais (p.p.).

No acumulado do ano até setembro, a dívida líquida consolidada do grupo chegou a R$ 25,8 bilhões, ante R$ 22,5 bilhões registrados no mesmo período do ano passado. Desta forma, a alavancagem da holding ficou em 3,1 vezes o Ebtida, contra 2,9 vezes registradas no ano anterior.

Na visão do CEO, o número está dentro do considerado “normal” para a CCR, que tem como estimativa se manter sua alavancagem entre 2,5 vezes e 2,5 vezes o Ebitda.

Segundo Setas, as expectativas para o próximo ano são grandes em todos os segmentos em que a companhia atua, com a demanda continuando em alta para aeroportos e rodovias. Ao mesmo tempo, o CEO acredita que o segmento de energia deve se destacar.

A ação CCRO3 acumula queda de 15,4% no ano. O valor de mercado da empresa é de R$ 24 bilhões.