A CCR, maior empresa de infraestrutura de mobilidade do Brasil, anunciou na terça-feira, 28 de maio, sua estratégia para a próxima década, baseada em quatro verticais: crescimento “rentável e seletivo”, balanço robusto, geração de valor e liderança em sustentabilidade.
Mas o que ficou claro é o foco em melhoria de eficiência, com redução de 30% da estrutura do grupo mesclada a metas ambiciosas, como o crescimento de Ebtida em dois dígitos até a próxima década (no primeiro trimestre deste ano o indicador cresceu 4,6%, para R$ 2 bilhões) e busca de sócios em algumas principais linhas de negócios da CCR – concessões nas áreas de rodovias, mobilidade urbana e aeroportos.
O plano estratégico, batizado de Ambição 2035, foi apresentado durante o CCR Day 2024, encontro anual com investidores, pelo presidente do grupo, Miguel Setas, e outros executivos.
“Nosso objetivo, dentro do plano Ambição 2035, é explorar um pipeline total de R$ 190 bilhões em oportunidades em nossas plataformas, que pretendemos desenvolver de forma rentável e seletiva”, disse o CEO. “Mas, para isso, precisamos ter disciplina e rigor na alocação de capital, esse é o nosso compromisso”, acrescentou.
Além de administrar 3,6 mil quilômetros de rodovias, o grupo gerencia 130 estações de trens, metrôs, VLT e barcas em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, com um volume diário de 3 milhões de passageiros. Opera ainda 20 aeroportos, 17 no Brasil e três na América Latina, com um fluxo anual de 46 milhões de passageiros.
O plano estratégico visando a próxima década dá seguimento a um amplo processo interno de reestruturação iniciado no ano passado, quando o Grupo CCR anunciou um novo modelo organizacional visando a tornar a organização mais leve e eficiente, com maior autonomia para as três plataformas de negócios, e o objetivo de levar a CCR à liderança em sustentabilidade nas áreas onde atua, ligadas à área de infraestrutura.
Diante de um cenário de cautela nos investimentos, no qual a CCR deixou recentemente de participar de leilões, como o do Trem Intercidades, Setas admitiu a possibilidade de a CCR buscar novos sócios nos projetos de investimentos futuros do grupo.
“Nosso foco atual é termos a casa arrumada, com custos otimizados, não há nenhuma decisão tomada de buscarmos parcerias, mas também não rejeitamos a ideia”, disse ele após a apresentação, quando foi questionado por jornalistas sobre o impacto da estratégia mais cautelosa nos novos projetos.
A possível busca de parcerias, de acordo com Setas, seria mais palatável em investimentos-chave da CCR, como os planos do governo estadual paulista de privatização das Linhas 11, 12 e 13 da CPTM: “Seriam parcerias em várias dimensões, nas áreas de construção e tecnológica, por exemplo.”
Setas abriu a apresentação informando sobre a atuação do grupo para amenizar o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul, onde detém a concessão da principal rodovia que corta o estado, a BR 386 – que a empresa conseguiu liberar para o tráfego em dez dias.
“Além de adotarmos isenção de tarifas rodoviárias e aeroportuárias para transportes humanitários, liberamos o pagamento de pedágio durante o período de vigência do estado de calamidade”, disse.
Por conta disso, a CCR registrou R$ 8,7 milhões de perda de receitas com a abertura de cancelas de pedágio, registrando ainda um tráfego até 2% menor em relação ao ano passado – ante a perspectiva de 4% de crescimento, se o estado não fosse afetado pelas enchentes.
Setas, porém, disse que ainda é cedo para falar em reequilíbrio do contrato. “Nosso foco é ajudar na reconstrução, e não ocupar o tempo do governo com esse tema”, disse.
Receitas adjacentes
Uma parte importante da nova estratégia do Grupo CCR foi adiantada por Setas em entrevista ao NeoFeed, há duas semanas, na qual revelou planos para o grupo ampliar o acesso a receitas complementares em suas concessões de rodovias estaduais, aeroportos e de mobilidade urbana para engordar o seu caixa.
Setas quer transformar as receitas adjacentes em uma nova plataforma de receitas, além das três ligadas a estradas, mobilidade e aeroportos.
Ele confirmou que o grupo está traçando um roteiro de negócios integrados ou adjacentes aos ativos sob sua gestão, que pode incluir desde projetos de energia e de desenvolvimento imobiliário no entorno dos aeroportos e rodovias até centros de compras em áreas anexas às estações de trens e metrôs.
Segundo ele, o total de receitas com esses negócios adjacentes é de R$ 1 bilhão, o que representa 6% do total do grupo. “Nosso objetivo, até 2035, é ampliar essa parcela para 10%, mas acreditamos ser possível dobrar a receita”, afirmou.
Em relação à estratégia do Grupo CCR para a próxima década, chamou a atenção as metas ambiciosas traçadas.
A primeira vertical, crescimento rentável e seletivo, tem como meta registrar uma taxa de crescimento anual composta de pelo menos um dígito alto (high single digit) no resultado operacional (Ebitda ajustado) e uma participação dos negócios adjacentes.
No eixo geração de valor, o objetivo é posicionar o grpo no primeiro quartil de eficiência operacional entre 800 empresas de concessões de todo o mundo. Como fruto desta meta, a expectativa é chegar ao fim de 2026 com a relação Opex Caixa/Receita Líquida em 38%, e abaixo de 35% em 2035.
A terceira vertical, de balanço robusto, prevê alavancagem-alvo de 2,5 vezes a 3,5 vezes e um potencial de reciclagem de capital entre R$ 5 bilhões e R$ 10 bilhões, por meio da venda de participação acionária em ativos, desinvestimento de ativos selecionados e destravamento de valor das plataformas.
Além disso, as metas incluem o endividamento líquido zero na holding e o compromisso com uma elevada qualidade de crédito traduzida num rating AAA em nível local.
No eixo liderança sustentável, o Grupo CCR estabeleceu cinco pilares ambiciosos para protagonizar a agenda de sustentabilidade no setor de infraestrutura brasileiro. Entre eles, redução do risco climático e da pegada ambiental e compromisso de investir R$ 750 milhões em projetos sociais e culturais até 2035.