Nos últimos anos, o Brasil avançou significativamente na agenda de investimentos verdes. O País promoveu mudanças regulatórias que incentivaram aportes financeiros e criou diversos mecanismos para viabilizar projetos sustentáveis, sinalizando com clareza que o tema é prioridade na pauta econômica.

Agora, para assegurar que o fluxo de recursos ocorra de forma contínua e sustentável, é necessário incorporar um novo elemento: a convicção de que a agenda ambiental é fundamental para garantir a competitividade econômica brasileira no cenário internacional.

“Quando se fala em sustentabilidade no Brasil, ainda há o viés de fazer o bem — o que é positivo — mas há muito mais envolvido”, afirmou Luciana Ribeiro, sócia-diretora e CEO da eB Climate, braço da eB Capital.

“Investimentos em transição climática estão diretamente ligados ao desenvolvimento dos países”, complementou ela durante o NeoSummit COP30, evento do NeoFeed sobre a conferência e os desafios da sustentabilidade.

Ela citou o exemplo da China, cuja aposta em tecnologias como carros elétricos e painéis solares impulsionou um salto econômico expressivo, mudando a percepção internacional de país meramente terceirizador de produção. “A China investiu em determinadas tecnologias mesmo quando não eram lucrativas, e se tornou uma potência inatingível”, disse.

Ribeiro destacou o enorme potencial do Brasil na nova economia, especialmente no setor agropecuário, onde há espaço para o desenvolvimento de soluções sustentáveis.

A matriz energética brasileira também é um diferencial: mais de 80% da energia é proveniente de fontes renováveis, e o país possui uma quantidade significativa de minerais essenciais para a transição energética. “Precisamos nos posicionar como uma nação capaz de oferecer vantagens competitivas às empresas”, afirmou Ribeiro.

Para Nathalie Vidual, superintendente de orientação aos investidores e finanças sustentáveis da CVM, muitas das dificuldades enfrentadas por projetos para obter financiamento foram superadas nos últimos anos, graças à criação de novos instrumentos e formatos de captação.

“Um exemplo são as estruturas de blended finance, que permitem combinar diferentes tipos de capital — como recursos não reembolsáveis com capital comercial — tornando os investimentos viáveis e atrativos para os financiadores”, explicou.

As oportunidades brasileiras, aliadas aos instrumentos financeiros e ao novo marco regulatório, surgem num momento em que a agenda de sustentabilidade enfrenta críticas, especialmente nos Estados Unidos, sob o governo de Donald Trump. Esse cenário tem levado grandes gestoras a reavaliar seus investimentos no setor.

Para Marina Cançado, fundadora da Converge Capital e cofundadora da ATO, essa visão é exagerada. Segundo ela, investidores com foco no longo prazo continuam apostando na sustentabilidade — o que pode ser benéfico para o Brasil.

“Tenho acompanhado diversas redes globais de family offices, inclusive os principais dos Estados Unidos, e eles continuam investindo, ampliando inclusive seus aportes”, afirmou. “Recursos que antes eram direcionados a soluções americanas estão buscando alternativas em outras partes do mundo.”

Ela acrescentou que o perfil dos investidores interessados em soluções climáticas se diversificou, indo além daqueles que priorizam exclusivamente o tema, o que abre espaço para projetos em diferentes estágios e níveis de risco.

“Em soluções mais maduras, vemos a entrada de investidores agnósticos, comerciais, de mercado — inclusive gestoras da Faria Lima investindo em projetos climáticos sem necessariamente rotulá-los como tal, por serem iniciativas comprovadas e rentáveis”, disse Cançado. “E há também os investidores temáticos, com mandatos específicos para soluções baseadas na natureza.”

A expectativa é que o arcabouço regulatório seja reforçado com a chegada da Taxonomia Sustentável Brasileira (TSB), sistema de classificação que define quais atividades econômicas, projetos e ativos são considerados sustentáveis, orientando empresas e investidores.

Segundo Vidual, o Ministério da Fazenda deve publicar até o final de setembro um decreto oficializando o documento, o que facilitará a atração de capital, especialmente internacional.