Um dia depois de o Ministério da Educação publicar novas normas para os cursos de ensino a distância (EAD), em maio deste ano, as ações da Vitru Educação, dona das marcas Uniasselvi, UniCesumar e Rede Enem, desabaram quase 9% na B3, liderando as perdas entre os pares do setor de educação.

A razão era simples. Relatórios de bancos como os do Santander e do BTG Pactual previam que a Vitru seria a empresa mais afetada pelas novas regras, que previa o limite de 70 alunos para aulas online ao vivo e o mínimo de 30% de carga horária com atividades presenciais para os cursos 100% EAD.

Quatro meses depois, as ações da Vitru sobem 18,5% desde que as regras do novo marco do EAD foram divulgadas e 78,5% em 2025. “Tentei ecoar essa voz, mas às vezes os analistas não capturam profundamente essa questão. Fato é que a Vitru é a instituição mais bem preparada para o marco regulatório”, diz William Matos, CEO da Vitru, em entrevista ao NeoFeed.

Com 2.260 polos em 1.439 cidades no Brasil, além de 23 campi de unidades presenciais, a Vitru registrou crescimento de 10,6% no volume de alunos no segundo semestre de 2025. Detalhe: essa expansão foi impulsionada pelo aumento de 13,4% na base de estudantes do EAD.

No fim do primeiro semestre deste ano, a Vitru contava com mais de um milhão de estudantes matriculados nos cursos a distância. E 56% dos alunos estavam no formato híbrido, adaptados às novas normas do Ministério da Educação.

“Não tínhamos preocupação com o marco regulatório justamente porque já estávamos muito bem estruturados. Já vínhamos fazendo investimentos em laboratórios e na expansão de polos”, afirma Matos.

De acordo com o CEO da Vitru, a companhia deve investir R$ 35 milhões em 2025 para garantir a expansão do modelo de EAD. “Mas posso assegurar que, ainda assim, o volume será menor do que o dos meus concorrentes, pelos investimentos já feitos ao longo dos últimos anos.”

A disputa, a partir das novas regras, está em um mercado que tem 4,9 milhões de alunos matriculados em cursos online no Brasil, segundo levantamento do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp). Enquanto o EAD registrou alta de 13,4% no último ano, as matrículas presenciais (com 5,06 milhões) tiveram queda de 1%.

Os oito principais players do mercado – Vitru, Cogna, Uninter, Yduqs, Cruzeiro do Sul, Unip, Ser Educacional e Ânima – detêm 85% do share de alunos inscritos em cursos EAD no Brasil.

O único impacto percebido pela Vitru com as mudanças foi em relação ao curso de Enfermagem, que não pode mais ser autorizado na modalidade online ou semipresencial – agora será só presencial. Com 40 mil alunos inscritos, essa barreira deve representar uma perda de 2,5% na receita da companhia.

De qualquer forma, há uma discussão em curso no governo federal para liberação de novos cursos de Enfermagem com menos burocracia. Isso vai permitir que a Vitru volte a ministrar essas aulas, aproveitando os laboratórios dos cursos EAD.

Novas avenidas de crescimento

Com o caminho do marco regulatório relativamente pavimentado, a Vitru já mira a próxima avenida de crescimento: a expansão dos cursos de pós-graduação e ensino técnico, que não são regidos pelas novas regras de EAD.

Do total de alunos da Vitru, 900 mil são de graduação, cerca de 80 mil em pós-graduação e 35 mil no ensino técnico, o equivalente a pouco mais de 10% do volume total de estudantes da companhia, em modalidades que têm prazos menores de duração, normalmente de dois anos, e que, portanto, formam mais alunos em menor tempo.

E a meta é que essas duas modalidades alcancem o volume de 500 mil alunos, quintuplicando o número de estudantes na base da Vitru. Hoje, esses dois cursos representam 7% da receita. Mas a ideia é que, com esse plano, passem a representar 30% em até cinco anos.

“Há muitas possibilidades no que chamamos de adjacências, em torno da graduação. No caso do ensino técnico, são aqueles cursos que formam a mão de obra para o primeiro emprego, normalmente para o jovem de 16 a 18 anos. E há um leque de opções muito grande”, afirma Matos.

Uma boa oportunidade dessa expansão está no programa “Juros pela Educação”, do MEC e do Ministério da Fazenda, criado em 2024, mas formalizado por lei em janeiro de 2025, que permite que Estados possam reduzir os juros de suas dívidas com a União em troca de investimentos na expansão da educação profissional.

A atual fase é de credenciamento dessas instituições que podem oferecer esses cursos, em um nicho que a Vitru pretende direcionar em um curto e médio prazo.

Nesse sentido, está no plano pequenos M&As de empresas de educação a distância que não tenham grande volume de alunos e que apresentem foco justamente em pós-graduação e ensino técnico. Matos, no entanto, não revela qual é o volume de recursos reservado para essas futuras aquisições.

“Não existe nenhum player gigante em pós-graduação no Brasil. Nem eu nem meus principais concorrentes somos consolidadores nesta área. É uma grande oportunidade de crescimento e uma necessidade de formar novos profissionais no País”, afirma Matos. O crescimento, segundo o executivo, será também por abertura orgânica de novos cursos.

Um ano na B3

Em junho deste ano, a Vitru completou um ano do IPO na B3, após um período turbulento em que permaneceu na Nasdaq. A ida para Nova York ocorreu em setembro de 2020, ainda durante a pandemia da Covid-19, em uma das últimas janelas naquele período.

“Lá a gente se tornou um peixe pequeno dentro de um aquário gigante. Imaginávamos ter um acesso mais fácil a investidores estrangeiros, o que acabou não acontecendo. Veio a recessão global e, quando isso acontece, o bolso do investidor encolhe e ele só olha para as empresas grandes”, diz Matos.

No Brasil, o executivo acredita que a empresa consegue ser comparada com outros players do setor e tem porte para seguir entre as maiores. No primeiro semestre deste ano, a Vitru registrou uma receita líquida de R$ 1,15 bilhão, alta de 6,6% sobre a mesma base do ano anterior. O lucro líquido ajustado foi de R$ 245,2 milhões, um crescimento de 75,6% sobre os primeiros seis meses de 2024.

Na B3, a companhia está avaliada em R$ 1,5 bilhão.