Em 19 de março começaram as primeiras medidas americanas implementando o chamado lockdown, limitando o acesso das pessoas a espaços públicos.
Mais de um mês depois, cerca de 80% da população nos Estados Unidos permanece em casa. É um alívio para Mark Zuckerberg, do Facebook. Mas é o que tem levado à fúria Elon Musk, CEO e fundador da montadora de carros elétricos Tesla.
Musk usou o Twitter, sua rede social preferida, para exigir o fim das regras estritas de isolamento social. "Liberte a América agora" foi o post que fixou no topo de seu perfil na página de microblog.
Há alguns dias, Musk, dono de uma fortuna avaliada em US$ 38,9 bilhões, argumenta sobre porque os americanos devem começar a sair de suas casas. Sua opinião é sustentada por reportagens e falas de especialistas.
Nesta quinta-feira, 30 de abril, por exemplo, o bilionário compartilhou uma reportagem do portal americano The Hill que diz que os dados não sustentam a eficácia do lockdown.
Segundo a publicação, a maioria das pessoas não correria risco de vida ao contrair a doença e, mantendo a quarentena tão restritiva, estaríamos adiando a imunidade de rebanho.
Dias antes, o executivo já havia compartilhado um artigo opinativo assinado por T.J. Rogers, fundador da Cypress Semiconductor, empresa da área de semicondutores, publicado no jornal The Wall Street Journal.
"Dizer que não podemos sair de casa e que podemos ser presos se desobedecermos é fascista. Não é democrático", disse Musk
"Nosso estudo (...) sugere que a cidade de Nova York pode ter se beneficiado com o isolamento, mas aplicar cegamente essas medidas restritivas em cidades com baixa densidade populacional não faz sentido", diz um trecho do artigo.
Musk divulgou ainda uma apuração especial do USA Today, que comprovaria que alguns hospitais estariam lucrando mais com o diagnóstico da Covid-19.
A reportagem se apoia em uma entrevista com o médico e senador republicano Scott Jensen, que aponta que o pagamento para casos de pneumonia "comuns" gira em torno de US$ 5 mil.
"Mas se for pneumonia por Covid-19 serão US$ 13 mil e se o paciente tem pneumonia por Covid-19 e terminar em um ventilador, o valor sobe para US$ 39 mil", afirmou Jensen.
Na quarta-feira, 29 de abril, quando Musk participava da teleconferência de resultados da Tesla, ele não mediu as palavras para reforçar seu ponto de vista.
"Se alguém quiser ficar em casa, ótimo. As pessoas devem ter o direito de ficar em casa e não devem ser convencidas a sair", disse o bilionário. "Mas dizer que não podemos sair de casa e que podemos ser presos se desobedecermos é fascista. Não é democrático. Não é liberdade."
Essa não é a primeira vez que o executivo se envolve em polêmicas relativas ao novo coronavírus. No começo da pandemia, Musk já se mostrava reticente quanto à letalidade do vírus. O empresário questionou também a real necessidade de produzir ventiladores.
Mas mesmo parecendo um negacionista da pandemia, Musk converteu a fábrica da Tesla para a produção de ventiladores.
Em 31 de março, pelo Twitter, Musk anunciou que dispunha de aparelhos aprovados pelo FDA (órgão equivalente à Anvisa) e que estaria disposto a enviar, gratuitamente, o maquinário aos hospitais que comprovassem necessidade imediata.
Enquanto Musk se posiciona pelo fim do isolamento social, o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, defende a manutenção do lockdown.
"Temo que reabrir certos lugares, antes da diminuição da taxa de contágio provoque outros surtos", diz Zuckerberg
"Ainda que haja custos sociais das medidas em vigor, temo que reabrir certos lugares, antes da diminuição da taxa de contágio, provoque outros surtos e piore os cenários a longo prazo da economia e da saúde", disse o executivo, durante teleconferência de resultados do Facebook.
Zuckerberg, que tem um patrimônio estimado em US$ 54 bilhões, tomou uma série de decisões para auxiliar no combate à doença.
Por meio da Fundação Chan Zuckerberg, que comanda ao lado da esposa Priscilla Chan, o empreendedor se juntou à CZI Biohub na compra de duas máquinas clínicas capazes de diagnosticar o coronavírus. Com isso, a capacidade de análise de casos na região da Baía de São Francisco foi quadruplicada.
Antes disso, o fundador da maior rede social do mundo já havia divulgado, no início de março, que a plataforma estava trabalhando para que todos os seus 2,5 bilhões de usuários ativos tivessem acesso a informações verificadas.
“Isso é um ponto crítico em emergências, sobretudo quando há precauções que podem ser tomadas para evitar o contágio”, postou Zuckerberg em seu perfil no Facebook
Segundo ele, ao procurar por “coronavírus” no Facebook, a pessoa interessada seria impactada por uma janela de pop-up programada para direcionar os usuários às páginas da Organização Mundial da Saúde (OMS) ou para a autoridade de saúde local. A reportagem do NeoFeed fez o teste, mas não experimentou a mensagem pop-up e nem foi redirecionada.
Zuckerberg confirmou que, em março, sua equipe dobrou a capacidade dos servidores do aplicativo de mensagens WhatsApp, garantindo que a ferramenta funcione de forma consistente nesse período difícil.
O fundador do Facebook não está sozinho nessa luta. Ao seu lado está Bill Gates, o empresário mais engajado e empenhado em propor soluções para enfrentar a Covid-19. Gates, que é fundador da Microsoft e um dos maiores filantropos do mundo, defende regras rígidas de distanciamento social.
Mas Musk tampouco está sozinho. Outros grandes empresários do Vale do Silício, como os investidores Marc Andressen, da Horowitz Andressen, e Adam Draper, da Boost Venture Capital, defendem também o fim da quarentena. "É hora de nos libertar pelo bem do progresso", tuitou Drapper, citando Musk e Andressen.
Os reais interesses dos magnatas, sobretudo de Musk, estão sendo colocados à prova. Embora cite valores democráticos de liberdade, o fundador da Tesla está a poucos dias de ter de honrar um pagamento de US$ 750 milhões. E isso não será possível se suas fábricas continuarem fechadas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem protocolos e recomendações para casos e países diferentes. Mas mantém em comum a sugestão de distanciamento social. As pessoas devem, segundo a instituição, preservar um espaço mínimo de um metro entre uma e outra.
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