Em 2016, a varejista Magazine Luiza valia R$ 180 milhões e o gestor do fundo Alaska Black, Henrique Bredda, fez uma aposta arriscada: resolveu comprar ações da rede da família Trajano que muitos diziam que iria à falência.
Hoje, o Magazine Luiza vale R$ 130 bilhões. O resto é história. Em 2016, o Alaska Black rendeu 129,21%. No ano seguinte, 74,62%. O ganho seguiu em 2018 e em 2019 e fez a fama de Bredda.
Mas, em 2020, a rentabilidade construída ao longo dos últimos anos levou um tombo. Um senhor tombo. Em março, no pior momento, o Alaska Black chegou a perder 70%. Hoje, no acumulado do ano, as perdas estão perto de 50%.
Nada disso, no entanto, abala a convicção de Bredda de que a bolsa brasileira está barata e de que a maioria das empresas listadas vai sair muito mais forte desta crise.
“Toda crise acaba funcionando como um processo darwinista. De forma geral, o pequeno sofre mais”, disse Bredda, em entrevista ao NeoFeed. “E, nos anos seguintes, as grandes empresas nadam de braçada”
Bredda, cuja gestora Alaska administra R$ 14,5 bilhões, já tem os seus candidatos a serem o novo Magazine Luiza. “O que se aproxima na nossa cabeça de coisas desse tipo, que pode continuar multiplicando, não na mesma magnitude, sem dúvida, é a Cogna e o próprio Magazine Luiza, que não para de inovar”, afirma o gestor.
Em sua visão, a empresa de educação Cogna está no mesmo processo de virada de chave tecnológica que o Magazine Luiza estava em 2016. Já sobre a empresa da família Trajano, ele se diz surpreso com aceleração do comércio eletrônico, que cresce a taxas de três dígitos e deve compensar, com folga, as lojas físicas.
Nesta entrevista, Bredda explica os motivos de seu otimismo com a bolsa brasileira e responde por que se expõe no Twitter, rede em que conta com mais de 160 mil seguidores e é uma espécie de celebridade.
“Eu tenho muita vontade de criar uma relação duradoura com o investidor do ponto de vista profissional”, diz Bredda, sobre seus posts no Twitter. “Para ter uma relação duradoura, cedo ou tarde, ele vai descobrir o que eu penso. Então, é melhor que saiba já, para que lá na frente ele não se frustre.”
No Twitter, Bredda fala de tudo, desde investimentos e até temas mais polêmicos, como criticar a politização da Igreja Católica ou rebater seguidores sobre temas políticos ou de costumes. E não para de colecionar polêmicas. A mais recente foi sobre a questão de desigualdade. Acompanhe os principais trechos da entrevista:
A Bolsa ultrapassou os 100 mil pontos e a previsão é de uma queda do PIB que vai ser alta em 2020, embora não se saiba ainda qual o tamanho do tombo. Diante disso, a bolsa está descolada da realidade?
Esse é um link clássico que as pessoas fazem, de PIB com bolsa. É normal as pessoas pensarem assim. Afinal de contas, a bolsa tem empresas, que dependem de atividade econômica. E as pessoas associam claramente a bolsa ao PIB. Mas esse link está completamente errado.
Por quê?
A bolsa não é uma correlação negativa com o PIB e não é também uma correlação positiva. Historicamente, a correlação é zero. Matematicamente falando, isso significa que, às vezes, vai junto. Às vezes, o PIB vai bem e a bolsa não vai. E, às vezes, a bolsa vai mal pra caramba e o PIB vai no sentindo contrário.
Então, qual é o link?
O link é que as empresas da bolsa estão inseridas num contexto econômico. E aí, para olhar a bolsa, tem de olhar empresa por empresa que compõe a bolsa. O pequeno empreendedor ou as empresas médias não estão na bolsa. O que está na bolsa é a Vale, a Petrobras, o Magazine Luiza, a Rumo. Você precisa analisar a realidade dessas empresas. Quem está na bolsa, normalmente, são as empresas que tendem a ser líderes setoriais. São empresas muito destacadas em cada setor de atuação. E, no Brasil, como a gente vive um capitalismo de araque, de amigos do rei e com competição diminuída, aqui existe uma certa nuvem de oligopólio. Alguns são até monopólio, como é o caso da Petrobras em algumas coisas. Dito isso e sabendo que a bolsa é composta por pouquíssimas empresas e com características monopolísticas ou oligopolísticas, você consegue entender um pouco mais quando a bolsa anda junto com o PIB e quando ela não anda.
"No Brasil, a gente vive um capitalismo de araque, de amigos do rei e com competição diminuída"
Agora, está andando em sentido contrário. Por quê?
Num mundo normal, com PIB normal e condições políticas normais, é válido fazer a relação com o PIB. Nos dois extremos, não. Aí é onde as pessoas erram feio. São dois erros clássicos, que é comprar no pico do otimismo e vender no pior momento do pessimismo. Nesses dois momentos, a bolsa fica invertida com o PIB. Vamos falar de um jeito mais fácil. No pós-crise, a bolsa voa. O que acontece? Vamos pegar o exemplo da Renner. O que já deve estar acontecendo? Varejistas quebrando. O pequeno e médio varejista sem o fluxo de consumidor e de cliente no shopping acaba falindo. A quantidade de empresas que some do mapa durante a crise é muito grande. E a Renner aguenta o tranco. Ela tem caixa líquido, é gigantesca, tem acesso à capital e o crédito para ela é farto. Ela fica viva. O lucro líquido dela cai durante a crise e ela queima caixa. Mas quebra? Não.
Essa é a diferença?
Sim, essa é a diferença. Quando a crise começa a amenizar, as sobreviventes enfrentam um mercado muito menos competitivo, com menos competidores e elas compensam o encolhimento do mercado com ganho de market share. E isso melhora muito o lucro delas. Vou dar um exemplo drástico. Pega o Magazine Luiza, que entrou na crise com 2% do varejo nacional. Imagine que ele saia da crise com 3% do varejo nacional. É um incremento de 50% nesse vetor. Se o varejo encolher 10%, ele cresce aproximadamente 40%. Então, ele “porrou” na crise. E quem deu espaço para ela? Um monte de pequenininho que morreu. Toda crise acaba funcionando como um processo darwinista. De forma geral, o pequeno sofre mais. E nesse pós-crise o grande ganha muito espaço. E, nos anos seguintes, as grandes empresas ainda nadam de braçada, porque vai haver disponibilidade enorme de mão de obra, o desemprego fica alto e, portanto, não tem pressão de salário.
"Quando a crise começa a amenizar, as sobreviventes enfrentam um mercado muito menos competitivo"
A bolsa está barata, então, nesse patamar de 100 mil pontos?
Acho que está bastante. Tem empresa que ganhou e outras que perderam com essa história. Vamos olhar as empresas que ganharam. Basicamente, as exportadoras ganharam bastante porque o câmbio era R$ 3,80 e foi para R$ 5,20. O preço das commodities alterou muito pouco. Ou seja, o preço em dólar pouco alterou e o dólar subiu uns 30%. Em reais, o faturamento da Vale, da Suzano, da Klabin e de uma série de outras exportadoras subiu. Essas ganharam. Não era nem para ter caído. Tem algumas que não alteraram nada. A Rumo, por exemplo, enche ferrovias com soja, manda para o porto e exporta. Ela está indo até bem. Está batendo recorde porque a safra está muito forte.
E aquelas que estão sofrendo com a crise?
Vamos olhar o varejo e os shoppings, que ficaram fechados. Quanto elas teriam de ter variado de preço? Elas se desvalorizaram porque perderam fluxo de caixa. Vamos imaginar que o ano de 2020 inteiro foi para o saco, embora janeiro foi muito bom e o quarto trimestre vai ser OK. Vamos comprometer uma parte de 2021 também, só para fazer uma graça. Matou 18 meses da empresa. Qual o impacto no valor presente de caixa futuro quando retira um ano e meio? Você precisa ver empresa por empresa, porque o perfil de crescimento é diferente. Um ano e meio é alguma coisa entre 6% e 12%. Vamos chutar na banda de cima. A empresa que foi afetada deveria perder, de valor justo, 12%. Se o índice inteiro fosse de varejistas, a bolsa teria de ter saído de 120 mil pontos para 105 mil pontos. Seria o justo. No entanto, ela saiu de 120 mil pontos para 61 mil pontos. Quando olha empresa por empresa tem setor que ganhou um valor que é uma barbaridade, que são as Vales da vida. Empresas de varejo eram para ter perdido uns 12%. E tem aquelas que deram nó em pingo d'água. O Magazine Luiza turbinou um absurdo o e-commerce, que está crescendo três dígitos. Ele vai compensar com sobra o varejo físico. Por essas nuances, quando você olha quanto a bolsa deveria ter perdido de verdade, por conta das empresas que sofreram, é muito pouco. Quando você coloca na conta as empresas que ganharam, não sei nem se era para ter perdido.
Mas não existe, neste momento, uma pressão compradora por conta da liquidez do mercado e da quantidade de pessoas físicas que estão indo para a bolsa em razão dos juros de 2,25%?
Se por um lado tem essa pressão da pessoa física, por outro tem a pressão do gringo que está vazando do Brasil. Você vê o fluxo. Acredito que seja um número absurdo de saídas. O número de pessoas físicas na bolsa assusta porque é numeroso. Mas é “pixulé”. O cara põe mil reais e conta como um CPF. Pega uma boleta do Blackrock de venda, de US$ 5 bilhões: quantas pessoas físicas precisam? Se pegar o estoque total médio das pessoas físicas na bolsa, não vale nada. É muito pouco. Não é um negócio que faz diferença. Faça sol ou faça chuva, a pessoa física vai entrar na bolsa, porque o juro cedeu e, por causa dessa entrada, o gringo vai continuar saindo. Se o investidor local comprou Petrobras, ele comprou de um gringo.
"O número de pessoas físicas na bolsa assusta porque é numeroso. Mas é “pixulé”. O cara põe mil reais e conta como um CPF"
E por que os investidores estrangeiros estão saindo?
Porque os mercados emergentes, de forma geral, estão muito mal vistos. O gringo está muito mais focado nos mercados desenvolvidos. O S&P ainda é a vedete do mundo. Todo mundo olha. Até investidor local brasileiro está abrindo conta lá. Hoje, não tem motivo nenhum para alguém investir na Argentina, no Brasil ou no México. É só assunto ruim. Não é nem um pouco sexy. Qual a história boa para se investir no Brasil? Nenhuma. Não tem nenhum apelo para se investir em mercado emergente. Por isso que é bom investir aqui.
Um de seus fundos, o Alaska Black BRD, teve uma queda grande nessa crise. Mas antes tinha uma grande valorização. E muitos atribuem essa valorização a sua aposta na ação do Magazine Luiza, quando ela estava em baixa em 2016. Que empresa será o novo Magazine Luiza?
Só uma curiosidade. A contribuição do Magazine Luiza para a rentabilidade do Black é muito parecida com a da Rumo. É que da Rumo ninguém pergunta. A ação da Rumo valia R$ 2 e foi para R$ 20. O Magazine Luiza deu muito mais do que isso. Mas começamos comprando 1%. Quando compramos, ela valia R$ 180 milhões. Começamos muito pequenininhos e fomos crescendo pela performance dela. Na Rumo, entramos na oferta junto com o Rubens Ometto (controlador da empresa) e colocamos 20% do fundo, ficamos com um quinto do patrimônio. A contribuição para a cota da Rumo foi muito forte por conta do tamanho. Mas o Magazine Luiza ajudou muito, junto com a Rumo e junto com, lá atrás, a Braskem. E teve uma contribuição muito forte, nesses anos, dos juros até março. Outra coisa: não tínhamos a menor ideia de que o Magazine Luiza ia ser o Magazine Luiza. Senão, tinha comprado um quinto do fundo. Ele foi crescendo, a gente foi estudando, se envolvendo com a empresa e estamos no conselho fiscal dela há muito tempo. Fomos aprendendo a ver o quão forte ela é. Mas não antevimos. Se não antevimos o próprio Magazine Luiza, como vamos antever outro? Mas o que se aproxima na nossa cabeça de coisas desse tipo, que pode continuar multiplicando, não na mesma magnitude, sem dúvida, é a Cogna e o próprio Magazine Luiza, que não para de inovar.
Por quê?
A Cogna está no mesmo processo de virada de chave de tecnologia que o Magazine Luiza estava lá atrás. Só que melhor. O Magazine Luiza era visto como um business ruim. Era um negócio em que você olhava para a empresa e pensava que não tinha como dar certo. Mas confiávamos muito que a empresa estava barata. Essa virada de tecnologia, de transformar uma loja de rua que vende microondas em um negócio de tecnologia, tipo Amazon e Alibaba, é difícil. Mas deu certo. No caso da Cogna, o time do Galindo (Rodrigo Galindo, CEO da Cogna) já está estudando o setor de tecnologia desde 2017. Eles são membros do Cubo (hub de inovação). O Galindo reestruturou a companhia pensando nisso. Eles estão conversando muito com o pessoal de startups e de fintechs e trazendo talentos. E é um negócio que dá para entender. Você tem sistema de ensino que é livro e joga para a rede e para o modelo digital. Você passa a escalar o sistema de ensino para escola. E o Magazine Luiza, acho que os caras não vão parar tão cedo. Aliás, estamos surpresos com a aceleração deles, que não para. E a Cogna tem chance. Só que os resultados da Cogna ainda são muito incipientes, quase nada.
"A Cogna está no mesmo processo de virada de chave de tecnologia que o Magazine Luiza estava lá atrás. Só que melhor"
A Cogna é uma das empresas que estão sofrendo com essa crise. A inadimplência deve estar bem alta. Os dados do segundo trimestre vão dar uma cor de como está a situação dela, não?
Acredito que já estava muito ruim e vai piorar. É como se fosse o varejo de loja física em 2015. Era um desastre completo. Em 2015, você olhava às lojas físicas do Magazine Luiza e falava que era pior do que sucata. A inadimplência sobe na Cogna, mas é uma oportunidade de a empresa falar o seguinte: ‘olha, esse aluno que deixou de pagar, tchau”. Era um aluno que não era para a empresa ter. Você corta na carne dois, três, quatro trimestres para selecionar melhor e para precificar melhor o curso. Então, que venha o banho de sangue. Use o ano para melhorar a operação. Essa é a vantagem de ter liquidez para tomar a decisão corajosa. Porque os empresários não querem perder um real de receita. Mas às vezes tem de dar dois passos para trás para dar cinco para frente.
Atualmente, você tem mais de 160 mil seguidores do Twitter, com um engajamento altíssimo. O que me chama atenção é que você não tem nem um pouco de medo de se expor, de rebater os seguidores e de colocar suas opiniões, mesmo que polêmicas. Por que essa atitude? Isso não prejudica a sua gestora?
Prejudica se você olhar o que todo mundo olha. Mas eu olho de outra forma. Se eu quisesse maximizar captação, eu não iria dar opinião polêmica. Quando eu falo que sou contra o aborto, o cara que é a favor já não gostou de mim. Para que focar nesse tipo de assunto? Você é tonto? Só que eu tenho muita vontade de criar uma relação duradoura com o investidor do ponto de vista profissional. Para ter uma relação duradoura, cedo ou tarde, ele vai descobrir o que eu penso. Então, é melhor que saiba já, para que lá na frente ele não se frustre. E quem gosta, vem junto, já sabendo. Eu faço isso para tirar o meu peso das costas. Eu me sinto mais leve e mais livre. É muito ruim você falar com as pessoas sobre investimentos e ter de ficar ponderando o que é melhor falar. As pessoas percebem falta de autenticidade quando o discurso é calculado. Hoje em dia, a autenticidade está tão escassa que, quando tem alguma coisa que é autêntica, ela é valorizada. A outra coisa é que acredito que o que eu acho não é tão escandaloso. Muita gente acha também. E, ao ver alguém tendo coragem para se posicionar, acredito que consigo estimular outras pessoas a falarem o que pensam.
"É muito ruim você falar com as pessoas sobre investimentos e ter de ficar ponderando o que é melhor falar"
Mas o debate em uma rede social não é do mais alto nível.
O Twitter é tóxico.
Não te faz mal?
Às vezes, sim. Mas eu estou um pouco calejado. É bom começar com essas coisas antes, que você vai aprendendo a lidar. O problema é que a rede social é ruim ou você simplesmente está vendo o que as pessoas pensam? As pessoas são o que são. Não tem muito jeito. Em outros ambientes, elas têm aquela liturgia teatral, em que guardam para si o que elas verdadeiramente são. Concordo que não é o melhor lugar para debate. Se um dia eu te mostrar a lista de perfis que bloqueio, você não vai acreditar. Já passou de milhares.
Você também não se furta a dar declarações polêmicas. A mais recente foi num debate da XP em que você falou que fica com um pé atrás quando escuta a palavra desigualdade. Num país tão desigual como o Brasil, e várias pesquisas mostram isso, por que você deu uma declaração como essa?
Qual o grande problema que a gente quer resolver? Se a gente não der nome correto aos bois, a gente não sabe atacar o problema. A diferença de patrimônio entre nós dois e o Neymar é gigantesca. E ninguém fica bravo por isso. E se fizer a diferença do nosso patrimônio para o mendigo? Essa diferença é muito ruim. Da gente até o Neymar, OK. Da gente até o mendigo, não. O problema é a pobreza. Quando a gente fala só da desigualdade, que é um delta, foca nessa distância. Só que essa distância entre nós e o mendigo é péssima. E se focar só na diferença, a conclusão lógica é que tem de diminuir. Não importa se é entre nós e o Neymar ou entre nós e o mendigo. Mas isso tem de importar. O que é ruim da situação social do Brasil é o cara da favela, o morador de rua e o pobre. O foco nosso deveria ser de resolver a pobreza, porque se todo mundo ganhar R$ 10 mil por mês e a gente tiver alguns Neymar, ninguém vai reclamar. E pior: em cima desse assunto desigualdade, vejo muito oportunismo. Vejo muitas pessoas que se apossam do discurso de desigualdade para conseguir audiência ou voto e não soluciona nada.
"Vejo muitas pessoas que se apossam do discurso de desigualdade para conseguir audiência ou voto e não soluciona nada"
Mas a organização não-governamental Oxfam divulgou nessa semana uma pesquisa que mostra que os bilionários brasileiros ficaram mais ricos na pandemia. E os pobres, mais pobres. Como resolver esse dilema?
Essa é outra fraude. Você viu a data? Ninguém investigou. Eles pegaram o patrimônio dos ricos no dia 18 de março até o dia 12 de julho. A bolsa subiu 44% em dólares nesse período. Eles não pegaram no ano. Eles pegaram do pior ponto do ano até agora. O assunto vira oportunismo o tempo todo. Quando você monta o seu negócio, contrata pessoas e depois lista sua empresa na bolsa por R$ 400 milhões, você embolsa uma grana. Do dia para o noite, você passa a ser visto como criminoso. Se você é rico é porque você explorou alguém. Não é bem assim. Se o problema do Brasil é a pobreza, como você elimina a pobreza? Você precisa fazer o PIB crescer. E para o PIB crescer é capitalismo, desburocratização, reformas.
Qual a sua opinião do governo do presidente Jair Bolsonaro?
Acredito que ele era o cara da ocasião. Ele representava alguns anseios que estavam muito grandes na população. É uma mistura de antipetismo e um certo conservadorismo. Quando ele abraçou a ideia de Paulo Guedes, o pessoal falou que loucura na economia ele não iria fazer. Tento não gastar muito tempo com os nomes. Eles são transitórios e vão embora. Acho que o mais importante, e é isso que tento aplicar para os investimentos, é ler a base. No fim de 2015 e no começo de 2016, trocaram a chave do Brasil. De forma geral, pouco a pouco, foi caindo a ficha que aquele modelo da Dilma (Rousseff, ex-presidente do Brasil, que sofreu impeachment em 2016) de pedalada fiscal, de turbinar BNDES, de dinheiro para a Sete Brasil, de dinheiro para a Odebrecht e de dinheiro para a OAS cansou. Estava destruindo as finanças públicas. Estava formando gigantes nacionais e o dinheiro corria para tudo o que é lado de forma pouco republicana. Isso cansou e não volta tão cedo. Tem algumas pessoas emblemáticas na minha cabeça: Michel Temer (ex-presidente), Henrique Meirelles (ex-ministro da Fazenda), Eduardo Guardia (ex-ministro da Fazenda), Mansueto Almeida (secretário da Fazenda de Temer e Bolsonaro), Paulo Guedes (ministro da Fazenda), entre outros. Eles são reflexos dessa sociedade que está com essa demanda atual de mais eficiência, de reformas, de diminuição do tamanho do Estado, de privatização e de um pouco mais de livre mercado. Tenho convicção de que essa linha continua.
Mas você aprova ou desaprova o governo Bolsonaro?
Eu aprovo. Qual é a alternativa? Se tiver uma alternativa melhor, eu troco na hora.