Na década de 1990, a Microsoft e a Netscape protagonizaram a guerra dos browsers que, segundo os analistas da época, definiria a empresa que iria dominar a internet.
A história ensina que a Netscape não sobreviveu para contar a história (a estratégia da Microsoft de integrar o seu browser, o Internet Explorer, ao Windows lhe custou um processo antitruste, mas matou a startup fundada por Marc Andreessen – hoje um influente investidor do Vale do Silício).
E a Microsoft? Bem, a empresa de Bill Gates não liderou a internet, sendo superada por uma série de outras empresas, como Google, Facebook e Amazon. Não custa lembrar: o Internet Explorer nem existe mais. Hoje, o dono do pedaço na área de browsers é o Chrome, do Google, com uma fatia de mais de 60%.
Isso dá uma medida de como os browsers se tornaram algo essencial para acessar a internet, mas que tem pouca ou quase nenhuma relevância nas estratégias de negócios das big techs.
Mas uma empresa quer colocar os browsers de novo ribalta. E para isso conseguiu dinheiro de gente graúda, como Dylan Field, o cofundador da Figma, uma plataforma de design colaborativo; Evan Williams, cofundador do Twitter e do Medium; Jeff Weiner, chairman do LinkedIn; e Jason Warner, CTO do GitHub.
Eles investiram US$ 5 milhões na The Browser Company, startup fundada por Josh Miller, que pretende reinventar os navegadores, propor uma nova experiência ao usuário e reviver a guerra dos browsers dos anos 1990.
"Assim como nossos chefs favoritos não usam sempre os mesmos fogões e facas, aqueles que trabalham intensamente com a internet talvez precisem de um browser melhor", diz Miller, ao NeoFeed.
Milller, que já foi diretor de produto da Casa Branca durante a gestão de Barack Obama e gerente de produto do Facebook, defende a qualidade dos browsers modernos, mas também reconhece suas limitações.
Seu objetivo é captar a parcela de usuários que, como ele, sente os atuais navegadores de internet precisam melhorar. "Muitas vezes passamos mais tempo navegando em um browser do que em nossas próprias casas. Então, por que não fazer com que ele seja nosso 'lar' online?", questiona Miller.
As provocações e motivações parecem estar bastante claras, mas ele guarda segredo na hora de explicar seus planos. Miller não dá informações de seu browser, nem como pretende atingir seus objetivos. No site da empresa, há informações genéricas sobre como o browser poderia ajudar o usuário a ser, por exemplo, mais organizado, focado e produtivo. Mas Miller não há detalhes do software.
Segundo Miller, o cuidado se dá porque ele sabe que seus competidores, como Google, Microsoft, Apple e a Fundação Mozilla, que desenvolve o Firefox, são mais fortes e mais ricos e poderiam facilmente incorporar suas ideias em seus produtos.
Miller também desconversa quando o assunto é o modelo de negócio da companhia. "Há muitas maneiras de monetizar um browser, seja vendendo extensões e recursos premium, seja com publicidade. Mas esse assunto, por ora, não é relevante: estamos focados em desenvolver um navegador que priorize o conforto do usuário."
O empreendedor montou um time com profissionais de algumas das principais empresas do Vale do Silício. Do Instagram, por exemplo, Miller "tirou" a engenheira de software Alexandra Medway, cuja contratação foi parabenizada pelo brasileiro Mike Krieger, um dos fundadores da rede social comprada pelo Facebook. "Forte aposta", publicou Krieger no Twitter.
Na nova casa, Medway assume o cargo de engenheira geral e destaca que foi "contaminada" pela empolgação e paixão de seus colegas. "Há anos não experimentava isso", disse Medway, por e-mail. Quem também entrou para o time foi a designer de produto Kristina Varshavskaya, que antes trabalhou no Facebook e na Quora.
Com esse time, Miller espera apresentar uma versão beta do navegador de internet da The Browser Company ainda este ano. "Se você pensar sobre o assunto, vai perceber que os browsers de hoje fazem o mesmo que faziam há 25 anos – e é hora de mudar isso", diz Miller.
Resta saber se os usuários estarão, de fato, interessados em um browser que faça algo além daquilo para o que eles foram programados: acessar a internet.
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