O empresário Jorge Paulo Lemann, do grupo 3G, um dos maiores acionistas da ABInbev, do Burger King e da Kraft Heinz, raramente fala publicamente, mais raro ainda é vê-lo falando sobre política. Na tarde deste domingo, entretanto, ele quebrou o silêncio.

Em uma live fechada para empresários, pesos-pesados do PIB, reunidos num grupo chamado Parlatório, Lemann deixou os interlocutores saberem suas impressões sobre o futuro do Brasil, pelo menos no curto prazo.

Indagado por Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do conselho de administração do Bradesco, sobre a agenda econômica no Congresso num cenário de proximidade de eleições, Lemann se mostrou cético em relação a aprovação das reformas.

“Acho difícil termos tempo (para a agenda). Temos um Congresso que não sabemos para que lado vai agora. Acho difícil fazerem as coisas que precisam ser feitas como a reforma tributária e as outras reformas que se fala há tanto tempo”, disse ele.

A visão de Lemann vai na contramão do mercado financeiro que tem apostado, em peso, no andamento das reformas depois da eleição do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), ambos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro.

O empresário, um dos homens mais ricos do mundo, com uma fortuna avaliada em US$ 18,7 bilhões, o equivalente a R$ 100,4 bilhões, também mostrou como pensa a política e o que o tem incomodado na condução do País.

“Sou a favor do diálogo, mas tem gente que acha que consegue só fazer as coisas batendo, prejudicando e espalhando fake news. Gostaria que houvesse mais diálogo entre os vários participantes do nosso destino”, afirmou sem nomear um político em específico.

“Sou a favor do diálogo, mas tem gente que acha que consegue só fazer as coisas batendo, prejudicando e espalhando fake news”, diz Lemann

O ex-presidente Michel Temer, um dos participantes da live, também perguntou a Lemann como ele enxergava a atração de investimentos estrangeiros por parte do Brasil. Antes de responder, Lemann afirmou que tinha “muitas saudades de seu governo. As coisas realmente funcionaram naquela época”.

Em seguida, fez sua avaliação sobre estrangeiros investirem no setor produtivo no País. “O Brasil não tem performado bem nos últimos anos. O pessoal fica com o pé atrás, não sabe direito o que vai acontecer, a legislação muda toda hora, tem o problema da Amazônia e os europeus criam mal-estar, tem a Ford indo embora”, disse Lemann.

Ainda no mesmo assunto, concluiu: “Não diria que o Brasil está em suas melhores épocas em termos de sentimento internacional. Mas não acho difícil de mudar com uma legislação clara, com uma performance melhor em todas as áreas, com uma política fiscal clara, a inflação está baixa e não é um problema”, disse.

“Não diria que o Brasil está em suas melhores épocas em termos de sentimento internacional”

O que pode atrapalhar esse processo, na opinião dele, é a covid e os altos índices de contágio no Brasil. “Mas as oportunidades são enormes, tem muita liquidez no mundo. É só consertar um pouquinho, ser mais ortodoxo e tratar bem os estrangeiros que vem muito dinheiro por aí.”

Sobre política internacional, ele acredita que o presidente americano Joe Biden “tem um grande problema”. “Ele tem de administrar um país onde 70 milhões de pessoas votaram contra ele. Não vai ser fácil. Mas sou muito mais a favor de uma política do diálogo do que brigar, que era a política do Trump. Era incentivar a briga e fazer as coisas acontecerem através da briga.”

Outra questão analisada por Lemann é a “guerra-fria” entre Estados Unidos e China. “É um grande problema para os EUA. A China continua progredindo muito, cada vez mais forte economicamente e se mostrando muito eficiente”, afirmou.

Lemann ainda prosseguiu. “O Xi (Xi Jinping) é um osso duro. Mas é uma briga boba porque um depende do outro. Os chineses precisam vender nos EUA e os americanos precisam de um lugar para produzir seus produtos. Espero que, com conversas, encontrem soluções pragmáticas."