Em fevereiro de 2020, quando a Covid-19 chegou ao Brasil, a Via Varejo cumpria uma reestruturação iniciada em meados de 2019. À frente dessa jornada, Roberto Fulcherberguer encarou o desafio adicional de conduzir a companhia com 100% das lojas fechadas nos meses seguintes.
Passado pouco mais de um ano, o País vive novamente a perspectiva de uma quarentena. Agora, com restrições ainda mais severas. Dessa vez, no entanto, o CEO da Via Varejo entende que os impactos da pandemia vão encontrar uma companhia bem diferente.
“Nós já passamos por isso e aprendemos a lidar com essa situação”, diz Fulcherberguer, em entrevista ao NeoFeed. “E, hoje, estamos muito mais preparados do que no primeiro lockdown.”
O discurso do executivo é referendado pelos números da Via Varejo em 2020, que foram divulgados na noite da última terça-feira, 2 de fevereiro. No ano, a empresa consolidou a virada digital perseguida desde o início da chegada do executivo à operação.
Levando-se em conta as lojas físicas e os canais digitais, a varejista fechou 2020 com um GMV de R$ 38,8 bilhões, alta de 21% sobre 2019. Já o GMV das operações online cresceu 151,5%, para R$ 15,9 bilhões, enquanto as vendas digitais somaram R$ 18 bilhões, um salto de 143%.
Esses indicadores foram acompanhados de um lucro líquido de R$ 1 bilhão, revertendo o prejuízo de R$ 1,4 bilhão divulgado um ano antes. Reforçado por um follow on de R$ 4,5 bilhões, em junho, a empresa fechou o ano com um caixa líquido e antecipações de R$ 4,8 bilhões.
Mesmo com o cenário da operação mais favorável, Fulcherberguer reconhece que nem todos os riscos estão equacionados. Especialmente no que diz respeito a questões como a cadeia de fornecimento da varejista e às incertezas inerentes à nova quarentena.
“Do nosso lado, estamos com nível de estoque e preparados para suportar um período de eventuais restrições”, afirma. “Mas traçar um cenário é complexo, porque ainda é difícil de entender a profundidade dessa situação”.
Entre outros temas, Fulcherberguer fala ainda sobre o fato de o mercado de capitais ainda não ter comprado a recuperação da Via Varejo e alguns dos planos da companhia para frentes como o banQi, a fintech da rede. Acompanhe:
O País vive a perspectiva de uma quarentena com restrições mais severas. Como você está enxergando esse cenário?
Nós já aprendemos a lidar com essa situação. Não é o ideal. O ideal é estar com toda a operação funcionando, mas entendemos o momento e os motivos pelos quais as lojas devem ser fechadas. Hoje, estamos mais instrumentalizados, nosso online já é extremamente pujante, nosso vendedor já é online, então, estamos muito mais preparados hoje do que no primeiro lockdown.
Como a Via Varejo está se preparando para esse contexto?
Estamos monitorando estado a estado, cidade a cidade e já temos um plano montado pra cada uma das opções. Fechar por um período do dia, fechar por 15 dias ou ter restrição de horas.
Muitos especialistas afirmam que o País está entrando na pior fase da pandemia. Mesmo com o aprendizado de 2020 e a perspectiva da vacina, você entende que todos os riscos para a empresa estão equacionados?
O mais extremo é fechar 100% das lojas de novo. Mas nós já passamos por isso e, naquele momento, com outros desafios, a companhia estava descapitalizada. Hoje não, a Via Varejo está capitalizada, com estoque bem formado e estamos atentos para atender os clientes com toda a tecnologia que evoluímos durante o ano passado.
"O mais extremo é fechar 100% das lojas de novo. Mas nós já passamos por isso"
Num plano mais amplo, qual é a situação entre os fornecedores da Via Varejo? Há risco de desabastecimento, caso essas restrições perdurem por mais tempo?
Sinceramente, é difícil prever. Do nosso lado, estamos com nível de estoque e preparados para suportar um período de eventuais restrições, mas traçar um cenário é complexo, porque ainda é difícil de entender a profundidade dessa situação
E qual é a perspectiva para os consumidores de baixa renda, que são o principal público da Via Varejo?
Acho que os poderes vão atuar à medida que seja necessário. O governo foi bastante ágil na primeira fase da pandemia e tomou várias medidas emergenciais que foram fundamentais naquele momento. Dependendo do nível que chegar de fechamento, o governo também vai adotar as atitudes necessárias.
O mercado não está comprando a recuperação da Via Varejo. Como você entende essa avaliação?
Nós estamos com todos os fundamentos e entregando aquilo que nos comprometemos há seis trimestres. Entregamos crescimento e R$ 1 bilhão de lucro em 2020. Então, acho que, cabe ao mercado avaliar e comparar com os demais players o que eles têm que nós não temos ainda. Estamos chegando em uma fase que a diferença que tínhamos, que era o marketplace, vamos tirar rapidamente. Então, acho que o mercado vai entender que tem uma oportunidade nas mãos com a Via Varejo.
Em relação ao número de sellers, é fato que a Via Varejo está bem atrás da concorrência. Por que você entende que não terá dificuldade, como tem afirmado, em ganhar o jogo do marketplace?
Nós fechamos dezembro com 10 mil sellers e encerramos fevereiro com 15 mil. O processo de onboarding está muito acelerado. Nós ganhamos o dinamismo que precisávamos e quem vai definir o número agora somos nós.
E quanto ao banQi, além da oferta de empréstimos pessoais, há planos de uma conta para empresas?
Vamos lançar no segundo trimestre a conta pessoa jurídica e, aí, o banQi começa a se relacionar com toda a nossa base de sellers, com todos os entregadores da ASAP Log, que já são mais de 200 mil.
"Vamos lançar no segundo trimestre a conta pessoa jurídica e, aí, o banQi começa a se relacionar com toda a nossa base de sellers"
Na conferência com analistas, você também mencionou sobre um marketplace no banQi. Pode dar mais detalhes desse projeto?
A ideia é trazer mais recorrência. Vamos ter um grande marketplace de serviços e também de produtos físicos. Nesse último caso, teremos a Casas Bahia e inúmeros outros players plugados. A plataforma ainda vai entrar no ar, mas teremos todo o portfólio de serviços financeiros, incluindo ofertas como seguros.