Com 550 milhões de usuários globais, o serviço de mensagens instantâneas Telegram tem crescido de forma acelerada. Projeções indicam que o aplicativo pode alcançar 1 bilhão de usuários até o fim de 2022.

A popularidade do Telegram, no entanto, não significa que os negócios da companhia estejam saudáveis. O aplicativo fundado pelo russo Pavel Durov deve cerca de US$ 700 milhões a seus credores. E a dívida vence no fim de abril. Além disso, a companhia precisa pagar os custos crescentes de infraestrutura, que aumentam junto com o número de usuários.

Para pagar a conta, o Telegram pretende emitir entre US$ 1 bilhão e US$ 1,5 bilhão em dívidas aos investidores, segundo uma reportagem do The Wall Street Journal. Em troca, vai oferecer descontos em suas ações, caso venha a abrir seu capital no futuro.

"Um projeto deste tamanho precisa de pelo menos algumas centenas de milhões por ano para continuar", escreveu Durov em seu canal público na rede social, no fim de 2020. "Enquanto fizermos isso, vamos continuar independentes e fiéis a nossos valores, redefinindo como uma empresa de tecnologia deve operar.”

Para tentar transformar o bom momento que vive o app em um modelo de negócios sustentável, Durov também anunciou que vai oferecer espaços para anúncios em canais públicos ainda neste ano. Serviços premium também serão disponibilizados para empresas e usuários mediante um pagamento adicional.

Embora populares, os apps de mensagens instantâneas ainda não encontraram um modelo de negócios viável. Até agora, o WhatsApp, que tem 2 bilhões de usuários, não consegue gerar uma receita significativa para o Facebook.

A estratégia de Zuckerberg para ganhar dinheiro com o aplicativo é incentivar as empresas a usar o serviço como plataforma de atendimento aos clientes. Além disso, ele planeja veicular anúncios publicitários e, com isso, mudar a política de privacidade, capturando informações dos usuários.

Essa mudança nas diretrizes do WhatsApp fez com que o Telegram ganhasse milhões de novos usuários. Ao contrário do serviço do Facebook, o Telegram oferece tanto grupos e chats privados quanto canais públicos. Será nesse espaço que Durov pretende inserir anúncios.

Outros concorrentes também aproveitaram a desconfiança do público com o WhatsApp. O Signal, criado por Brian Acton, cofundador do WhatsApp que deixou a companhia justamente por divergir do rumo que ela tomou, privilegia a privacidade de seus usuários.

Embora o serviço não divulgue quantas pessoas usam a plataforma, o site TechCrunch fez um levantamento e estima que o número supere 20 milhões de usuários. Por enquanto, o Signal depende de doações de quem usa o serviço para manter o negócio funcionando.

Outro serviço de chat, o Discord, muito popular entre gamers, também viu a popularidade crescer em 2020. Em dezembro de 2020, ele bateu 754 milhões de usuários mensais nos EUA. E conseguiu gerar US$ 130 milhões por meio da venda de pacotes de serviços premium, como o Discord Nitro, que oferece limite maior para envio de arquivos, compartilhamento de tela em alta definição e maior capacidade de personalização. Mas ainda não é uma companhia lucrativa.

O russo Pavel Durov, fundador do Telegram

O Telegram tem um desafio adicional para conquistar a confiança dos investidores. Em 2017, Durov captou US$ 1,7 bilhão de investidores interessados na criptomoeda Gram, que a companhia pretendia colocar no mercado.

O lançamento da moeda digital, no entanto, foi considerado ilegal e vetado pela SEC (Securities Exchange Commission), órgão regulador do mercado de capitais dos Estados Unidos, equivalente a CVM no Brasil.

A disputa com o órgão só terminou em junho do ano passado. O app de mensagens foi multado em US$ 18,5 milhões e teve que devolver parte dos recursos captados que ainda não haviam sido usados para arcar com custos operacionais da empresa.

O resto foi convertido em empréstimos de um ano que, com juros, representariam 110% do valor original investido. É esse dinheiro que a companhia precisa pagar até abril deste ano.

O serviço precisa garantir também que está livre de propaganda extremista. Recentemente banidos de outras redes sociais, grupos da supremacia branca e da extrema-direita passaram a usar o serviço para disseminar suas ideias.

Não é a primeira vez que o aplicativo se envolve em polêmicas do tipo. Em 2016, o Estado Islâmico usou o Telegram como plataforma de recrutamento. Hoje, Durov afirma que os canais públicos são moderados para remover qualquer tipo de propaganda terrorista.

No Brasil, o aplicativo esteve no centro da Vaza Jato, como ficou conhecido o vazamento de mensagens trocadas entre o ex-juiz Sergio Moro, o promotor Deltan Dallagnol e outros integrantes da operação Lava Jato. A transcrição das conversas foi publicada no site The Intercept, em 2019. Na ocasião, as autoridades disseram terem sido hackeadas.

Em 2019, a operação Spoofing, da Polícia Federal, identificou que mais de mil celulares foram atacados. Os invasores teriam conseguido o código de acesso ao Telegram por meio de ligações feitas por robô aos números das vítimas.