O acordo para a fusão entre as operadoras de saúde Hapvida e o Grupo NotreDame Intermédica, anunciado em fevereiro pelas duas empresas, ainda tem um longo caminho a percorrer até ser aprovado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Na sexta-feira, dia 24 de setembro, o órgão responsável por evitar monopólios e competições desleais considerou o caso “complexo” e criou um clima de apreensão entre os investidores. Já no pregão da terça-feira, 28 de setembro, as ações das duas companhias caíram mais de 6%: a Hapvida teve recuo de 6,57% e a NotreDame, 6,07%.
Nesta quarta-feira, dia 29, os analistas do Credit Suisse divulgaram um relatório que procura acalmar os ânimos. Em texto intitulado “É hora de se preocupar?”, eles rebatem as preocupações demonstradas pelo Cade e afirmam que o documento do órgão não representa uma “bandeira vermelha” para a fusão.
Reconhecem, porém, que é provável que restrições sejam aplicadas ao acordo e que o processo deve demorar mais tempo do que se imaginava. "Nós entendemos que a autoridade está seguindo devidamente os ritos, garantindo a análise adequada, conduzindo as verificações necessárias com concorrentes, clientes e fornecedores", escrevem Mauricio Cepeda e William Barranjard, do banco suíço.
Uma das preocupações do Cade está relacionada à eventual concentração de beneficiários dos planos de saúde em algumas regiões do País, especialmente em relação a usuários de planos corporativos ou de “afinidade” (grupos de pessoas que têm alguma característica em comum, como profissionais da mesma categoria, que fecham contratos com as operadoras para uma adesão coletiva).
Para o Credit Suisse, porém, há apenas quatro mercados relevantes onde a fusão das duas empresas resultaria em uma participação superior a 20%: Belo Horizonte (MG), Uberlândia (MG), Ituiutaba (MG) e Joinville (SC). Esses locais representariam cerca de 8% dos beneficiários da nova companhia. "Restrições do Cade devem forçar desinvestimentos em parte dessas carteiras de clientes", esperam os analistas.
À época do anúncio, foi informado que a fusão criaria uma rede com 84 hospitais, 280 clínicas e 257 unidades de diagnóstico, com presença em 18 estados do País. Com a transação, a Hapvida teria uma fatia de 53,6% na nova empresa, enquanto os 46,4% restantes ficariam com os acionistas do Notre Dame Intermédica.
Outra preocupação do Cade está relacionada à disponibilidade de leitos em alguns mercados. Na visão do órgão, a fusão pode criar incentivos para que a companhia resultante reduza a quantidade de leitos nos hospitais e clínicas, especialmente em municípios que contam com uma oferta restrita de serviços de saúde.
O Credit Suisse, então, fez contas para simular como ficaria a oferta de leitos, de todos os hospitais não ligados ao sistema público, caso a fusão se concretize. Tomou como uma referência saudável a taxa de 2 leitos para cada mil beneficiários, “significativamente mais alta” que a da Hapvida, de 0,87. A taxa só seria considerada baixa se ficasse abaixo do nível mais baixo encontrado entre as principais regiões do Brasil, no caso Manaus, que teve um resultado de 1,4.
"Só há dois mercados relevantes onde poderia haver escassez por causa da fusão: Joinville e Uberlândia", notou o banco. "Contudo, é provável que restrições levem a uma redução da carteira da nova empresa nesses lugares".
A Hapvida, avaliada em R$ 52,8 bilhões, operava em queda de 0,29% nesta quarta-feira, por volta das 11h40, a R$ 13,59. A NotreDame, com valor de mercado de R$ 45,7 bilhões, subia 1,21%, para R$ 74,49.