De operações como a gigante de tecnologia Apple e as grandes montadoras a operações de menor porte, dos mais variados segmentos da economia, é difícil citar uma empresa que esteja passando ilesa pelo colapso observado na cadeia global de suprimentos em boa parte deste ano.

Em diferentes setores e países, esse cenário vem se refletindo em questões como a falta de contêineres e navios, e o desabastecimento de peças, componentes e produtos. E, por consequência, na elevação dos preços para os consumidores na ponta.

Há quem, no entanto, esteja conseguindo driblar parte dos desafios desse contexto caótico. É o caso Amazon, que vem colhendo os frutos de uma estratégia adotada já há alguns anos, com o fretamento de navios próprios, a locação de aviões e a fabricação de seus próprios contêineres.

Com esse pacote, a gigante americana está buscando e incluindo roteiros alternativos em suas entregas, evitando, assim, as longas esperas por espaço disponível nos portos mais movimentados dos Estados Unidos, instalados em Long Beach e Los Angeles, na Califórnia.

“Quem mais pensaria em colocar uma carga indo para um porto obscuro em Washington para, em seguida, transportá-la de caminhão para Los Angeles?”, disse Steve Ferreira, analista de frete marítimo, em entrevista à rede americana CNBC.

“A maioria das pessoas está pensando: bem, basta trazer o navio para Los Angeles. Mas estão, você acaba experimentando um atraso de duas a três semanas”, acrescentou Ferreira.

Mesmo com essas alternativas, a Amazon também vem sentindo alguns reflexos dessa situação em suas operações. Desde janeiro, a empresa teve um crescimento de 14% em itens fora de estoque, além de um aumento médio de 25% em seus preços, de acordo com a consultoria CommerceIQ.

Segundo a consultoria SJ Consulting Group, atualmente, a infraestrutura própria de logística da Amazon é responsável pela entrega de 72% das encomendas da companhia. Em 2019, esse índice estava na casa de 46,6%.

Isso envolve, por exemplo, a fabricação de seus próprios contêineres na China. “A Amazon produziu, provavelmente, de 5 mil a 10 mil desses contêineres nos últimos dois anos que venho monitorando”, afirmou Ferreira.

Ele acrescenta. “Quando eles trazem esses contêineres para os Estados Unidos, depois de descarregá-los, adivinhe? Eles podem ser usados no sistema doméstico e no sistema ferroviário. Eles não precisam devolvê-los à Ásia como todo mundo faz.”

O investimento da companhia em frete marítimo próprio, por sua vez, teve seu primeiro passo em 2015, quando a Amazon se registrou na Comissão Marítima Federal dos Estados Unidos. Dois anos depois, sem fazer alarde, a empresa começou a operar nessa frente, por meio de uma subsidiária chinesa, em um projeto batizado internamente de Dragon Boat.

“Eles estão movimentando mais de 10 mil contêineres por mês dos pequenos e médios exportadores chineses”, observou Ferreira. Ele destacou ainda que, com seu volume atual, a Amazon está entre as “cinco maiores empresas de transporte do Transpacífico”.

Outras empresas, como as varejistas Walmart, Costco, Home Depot, Ikea e Target, também começaram a investir no fretamento de seus próprios navios neste ano. A Amazon saiu, porém, na dianteira dessa estratégia.

Já para os produtos de maior margem, a empresa tem priorizados os aviões. Nessa área, a Amazon teria feito o leasing de pelo menos dez aeronaves para receber cargas diretamente da China com maior velocidade.

Em uma última ponta, a Amazon também tem buscado contornar os problemas relacionados à falta de mão de obra. Entre outros recursos, a companhia vem oferecendo bônus de até US$ 3 mil para todos os 150 mil trabalhadores temporários contratados nesse ano.