Antes de se tornar presidente dos Estados Unidos, Donald Trump era conhecido como um empresário do ramo imobiliário, desenvolvendo arranha-céus, hotéis e campos de golfe, além de ter se aventurado no mundo da televisão, com o programa “O Aprendiz”, um reality show que premiava o vencedor com um emprego na organização dele.
Ele também teve alguns fracassos em sua carreira, como foi o caso com sua companhia aérea, seus cassinos e sua universidade. Em 1987, ele lançou um livro chamado “The Art of the Deal”, um misto de biografia e lições empresariais. Entre algumas dessas lições está que é preciso “utilizar a sua vantagem” na hora de fechar um acordo. Segundo ele, o pior em uma negociação é parecer que você está desesperado para fechá-la.
E parece que foi essa lição que a administração Trump aplicou quando fechou um acordo com a Boeing para adaptar dois jumbos 747 para servirem como aviões presidenciais, batizados de Air Force One. Ela conseguiu que constasse no contrato que a companhia, e não o governo americano, assumisse qualquer aumento de custo em relação ao projeto original.
Se isso foi bom para o governo dos Estados Unidos, acabou tendo péssimos resultados para a Boeing. Quatro anos depois da assinatura do acordo, a empresa acumula uma perda de US$ 1,1 bilhão até o momento em função dos novos custos assumidos com a reforma das aeronaves.
Somente neste trimestre, o impacto do acordo foi de US$ 660 milhões, ajudando a companhia a fechar o período com prejuízo de US$ 1,2 bilhão. E, para piorar, a Boeing prevê novas perdas por conta do projeto nos próximos trimestres, segundo consta em documentos regulatórios publicados nesta quarta-feira, 27 de abril.
Em teleconferência com analistas para tratar dos resultados do primeiro trimestre, o CEO da Boeing, Dave Calhoun, admitiu que a companhia “provavelmente” não deveria ter fechado esse acordo, firmado pelo seu antecessor, Dennis Muilenburg.
“Sobre o [programa] Air Force One, vou apenas dizer que foi um momento bastante único, uma negociação bastante única, um conjunto bastante único de riscos que a Boeing provavelmente não deveria ter assumido”, disse Calhoun, segundo o site CNBC. “Mas estamos onde estamos e nós vamos entregar excelentes aviões e vamos reconhecer os custos relacionados a eles.”
O episódio se soma à série de contratempos que a Boeing enfrentou ao longo dos últimos anos. Primeiro foram os dois acidentes com aeronaves 737 Max entre 2018 e 2019, que vitimaram 346 pessoas e resultaram num duro escrutínio regulatório.
Depois, com a fracassada tentativa de comprar a divisão de aviação comercial da Embraer, operação que acabou desfeita pela fabricante americana em 2020.
E recentemente, a agência de notícias Reuters informou que as aeronaves 777X devem novamente demorar para entrar em operação. Prevista para entrar em operação em 2024, as primeiras entregas da versão 777-9 só deverão ocorrer em 2025, um atraso de quatro anos.
Por conta dos fracos resultados do primeiro trimestre, as ações da Boeing fecharam o pregão de hoje com queda de 7,53% na Bolsa de Nova York, a US$ 154,46. No ano, elas acumulam contração de 25,7%. Atualmente, está avaliada em US$ 91,2 bilhões. Nos últimos dois anos, ela perdeu US$ 93,15 bilhões em valor de mercado.