A Better Drinks levou apenas três meses desde a sua fundação para dar seu primeiro passo fora do Brasil. A companhia, que controla diferentes marcas de bebidas que vão de chá gaseificado até cerveja puro malte, comprou a participação da ZX Ventures e assumiu o controle da operação americana da F!VE Drinks Co., de coquetéis prontos enlatados.
O negócio acaba de ser concluído e anunciado com exclusividade ao NeoFeed. Pelo acordo, a Better Drinks adquiriu as ações da ZX Ventures, braço de venture capital da AB Inbev, que era uma das investidoras da F!VE. Os valores e percentuais não foram revelados.
Estruturada em janeiro deste ano, a Better Drinks já controlava o braço brasileiro da operação da F!VE desde a fundação do grupo. Isso porque, entre os sócios da empresa americana, que trabalha com drinks com mojito e negroni em lata, está Felipe Szpigel, o cofundador da Better Drinks ao lado de Felipe Della Negra.
No modelo de negócios da Better Drinks, a holding adquire 100% das marcas por meio de acordos comerciais com os fundadores. “As transações são negociadas, em sua maioria, por troca de ações da companhia”, diz Szpigel. “Os sócios originais das marcas viram sócios do grupo e continuam na operação.”
Capitalizada desde a fundação, com um aporte de R$ 25 milhões liderado por Szpigel e Della Negra, a Better Drinks agora assume de vez o controle da F!VE. Além dessa marca, o grupo conta com a Baer-Mate (chás), Mamba (água), Praya (cerveja premium) e Vivant (vinho em lata).
“Juntamos marcas que têm potencial para escalar no Brasil e lá fora”, afirma Szpigel. “O que a gente fez inicialmente com F!VE foi achar uma marca que já ganhou tração nos EUA e começar a operar com ela no Brasil.”
Com sede em Miami, a F!VE foi fundada em 2018 por Szpigel em conjunto com Jeremy e Chris Cox, da cervejaria 10 Barrel Brewing Co.; Gustavo Sousa, ex-sócio da agência Mother; e Roberto Schuback, ex-executivo da ZX Ventures.
A empresa desembarcou no Brasil, no fim de 2020, após vender mais de 1,2 milhão de latas no mercado americano. Por aqui, a F!VE vendeu 759 mil latas no ano passado em meio a competição com gigantes como a Ambev e Coca-Cola, que controlam coquetéis alcoólicos gaseificados concorrentes, como Beats, Mike's e Topo Chico.
O portfólio nacional tem receitas produzidas em parceria com o bartender Márcio Silva, ex-sócio do bar Guilhotina, e conta com gin tônica, uma mistura de mojito feita com maracujá, cosmopolitan, negroni e moscow mule e Voilà Tonic. No site oficial da F!VE no Brasil, as latas de 220 ml custam R$ 49,90 na embalagem com quatro unidades.
Em 2022, a F!VE firmou um acordo de propriedade intelectual que permitiu que a Better Drinks assumisse as rédeas da marca no Brasil. “Eram operações irmãs, mas trabalhando de forma independente”, diz Szpigel. A ideia era ampliar a distribuição dos produtos em solo brasileiro.
Sonho americano
Na estratégia da Better Drinks, o plano traçado envolve fazer com que todas as suas marcas sejam vendidas nos mesmos locais para que a empresa consiga dobrar neste ano as vendas que somaram R$ 50 milhões em 2021. Para 2026, a expectativa é ampliar a receita para R$ 1 bilhão.
O negócio ainda está mais concentrado na região Sudeste, mas já há presença em quase todos os estados brasileiros. São cerca de 10 mil pontos de venda físicos – a maior parte em grandes varejistas – além de presença em aplicativos como Rappi e Zé Delivery, controlado pela rival Ambev.
O plano de expansão ganha impulso internacional agora que a empresa passa a controlar a operação americana da F!VE. “Esse braço nos Estados Unidos fez parte da nossa estratégia desde o início”, diz Della Negra, cofundador e CEO da Better Drinks.
A ideia é levar os outros produtos da holding para o consumidor os Estados Unidos. Para este ano, o foco é continuar ganhando terreno no Brasil. A expansão das marcas para o EUA pode acontecer a partir do ano que vem. “A demanda existe, mas vamos dar um passo de cada vez" diz Della Negra.
Quando isso acontecer, a operação deve seguir os moldes do que é feito com a F!VE, que produz e distribui suas latas de coquetéis nos Estados Unidos através de parceiros como a cervejaria 10 Barrel Brewing Co. e a Breakthru Beverage Group, que também trabalha com companhias como Diageo, Heineken e Guinness.
Por enquanto, a maior parte do território americano ainda é atendido somente pela operação online. As vendas em supermercados e bares está restrita a estados como Idaho, Missouri, Washington, Illinois, Flórida e Califórnia, com presença mais marcante nos últimos três. “São estados com um mercado de destilado muito grande”, diz Szpigel.
Além do consumidor americano, a Better Drinks também está desenhando uma expansão para ganhar clientes em países da América Latina. “É quase óbvia a expansão para fora do Brasil e dos EUA porque escolhemos marcas que possam viajar", diz Della Negra. “Só é preciso encontrar o momento correto para isso."
O passo para outras fronteiras será liderado pela F!VE, que explora um segmento em crescimento. Segundo Szpigel, que trabalhou por mais de 20 anos na Anheuser-Busch InBev, em mercados como Canadá e Austrália, o consumo de bebidas “ready to drink” já supera consideravelmente as vendas de destilados puros.
Em relação a valores, dados da consultoria americana Grand View Research apontam que o mercado global de coquetéis prontos para consumo movimentou US$ 782,8 milhões no ano passado. A projeção é de que essa cifra possa crescer para algo próximo de US$ 2,4 bilhões em 2030.