Oriunda de um tempo em que o consumo de luxo se dava em ambientes exclusivos e lojas de portas fechadas, a butique Dona Santa, de Recife (PE), precisou adequar o seu modelo de negócio para os novos tempos. Acaba de inaugurar em João Pessoa, a primeira filial da loja que se dedica em grande parte a marca própria criada há dois anos.
“O consumo desenfreado, aquela coisa de comprar por comprar, não ocorre mais como antes”, diz a empresária Juliana Santos, sócia-diretora da Dona Santa – loja multimarcas de luxo, fundada por sua mãe, Lília, há 25 anos.
A butique chegou a ser comparada no início dos anos 2000 com a paulistana Daslu, da empresária Eliana Tranchesi (que morreu em 2012). Seu poder de vendas na região era tão exuberante, que servia como termômetro para grifes internacionais e, de certa forma, influenciou na decisão para que passassem a operar diretamente no Nordeste.
Em 2019, Juliana decidiu lançar a marca própria para aumentar a rentabilidade. Com a abertura de butique de grifes internacionais na região, não fazia sentido comprar e revender grifes de luxo, como a Prada, por exemplo. Segundo ela, deixou de ser lucrativo por diferentes razões, que incluem taxas de câmbio e prazos de pagamento a fornecedores que impõem riscos ao faturamento. Hoje o mix da multimarcas é 100% nacional.
Investir na marca Dona Santa – sofisticada, porém mais acessível e atrelada à imagem dinâmica da empresária – tem se mostrado um bom caminho. “Em dois anos, crescemos três vezes em números de peças vendidas, mesmo com a pandemia. A expectativa é faturar R$ 1 milhão nesta coleção e ir ampliando até que a marca represente 65% do negócio já em 2024”, diz Juliana.
A partir da próxima coleção, a grife autoral passa a se chamar Juliana Santos na próxima coleção, para estar ainda mais identificada com o estilo de sua criadora. A coleção, cujo preço médio é de R$ 700,00, tem peças para diferentes ocasiões, de jeans a roupas de festa, explica a empresária. “Não ficamos presas às tendências e fazemos questão de ter itens intercambiáveis”.
Transpor o regionalismo com estampas exclusivas tem sido um norte para a marca. A coleção recém-lançada, por exemplo, conta com ilustrações exclusivas do grafiteiro e muralista Derlon Almeida e do ilustrador pernambucano Gabriel Azevedo.
“Atualmente, as nossas araras têm 50% das peças com a nossa marca”. Mas a partir da próxima coleção, a grife que leva o nome da empresária vai ocupar 65% da butique. Até o final do ano, a grife ampliará seu público com lançamento de linhas de moda praia e masculina.
Além do e-commerce, a Dona Santa conta hoje com cinco pop ups que giram por multimarcas até fora do país. Atualmente, há um espaço da marca dentro da boutique Caju, em Comporta, Portugal. A inauguração no início deste mês da primeira filial da Dona Santa - que conta com a coleção autoral, além de outras marcas nacionais - no Shopping Manaíra, em João Pessoa, marca uma nova fase de expansão em território nacional.
A ideia é levar o modelo para outras capitais, como Fortaleza, apresentando não apenas moda contemporânea como também uma curadoria de acessórios, objetos de decoração e gastronomia de pequenas empresas artesanais nordestinas.
“Esse projeto, que batizamos de Raízes, nasceu em 2018, com foco em artigos sustentáveis e no apoio aos pequenos negócios regionais”, conta Juliana, que percebe a sua cliente cada vez mais interessada no design nacional.
Paralelamente, Juliana desenvolve outro business: um brechó on-line com peças de luxo de segunda-mão, com parte da renda destinada a diferentes instituições. É outra frente em crescimento. “Começamos vendendo roupas minhas e de minha mãe, além de sobras de coleções antigas.” As vendas eram somente on-line mas, hoje, parte da linha pode ser encontrada na butique física da Dona Santa.
Hoje, o endereço original, em Recife, funciona de forma parecida com o de uma loja de departamentos: com espaço para as chamadas “shops in shop” (lojas dentro de uma loja). A transição começou ainda em 2004, quando a Dona Santa passou por uma grande expansão, tendo a área ampliada de 450m² para 1.700m².
Entre as empresas com pontos de venda na Dona Santa, estão a joalheria Carla Amorim e as galerias de arte Número e Amparo 60. “O andar que antes era ocupado por roupas de festa virou o ambiente das galerias”, diz Juliana. “O consumo mudou, não se vende mais moda somente por ser moda”. Em julho, a butique ganha um novo empreendimento: um restaurante japonês do chef André Saburó