Cansados de terem que lidar com as pressões das autoridades chinesas e americanas, os acionistas da Didi Chuxing resolveram “cancelar” a viagem da companhia pelo mercado de capitais dos Estados Unidos

Dona da brasileira 99, a companhia de viagens por aplicativo chinesa comunicou à NYSE, operadora da bolsa de valores de Nova York, que 95% de seus acionistas aprovaram nesta segunda-feira, em assembleia, a deslistagem dos recibos de ações da companhia. 

Em comunicado ao mercado, a empresa informou que o processo de saída da NYSE vai começar em 2 de junho e a expectativa é de que a deslistagem dure dez dias a partir da aprovação das autoridades americanas. 

O trajeto da Didi Chuxing em Wall Street durou menos de um ano. Depois de realizar o segundo maior IPO de uma empresa chinesa nos Estados Unidos, levantando US$ 4,4 bilhões em junho do ano passado, a companhia passou a ser pressionada pelas autoridades de Pequim, que exigem que as empresas de tecnologia realizem suas aberturas de capital nos mercados locais, citando questões de segurança de dados.

No caso da Didi, os reguladores chineses abriram uma investigação sobre cibersegurança dias após a listagem, impedindo que o aplicativo fosse instalado por novos usuários no país. 

A Didi Chuxing também sofreu com pressão do governo dos Estados Unidos. Em 2020, o Congresso americano aprovou uma lei específica para empresas chinesas, designando que o Conselho de Supervisão de Contabilidade de Empresas Públicas inspecione as auditorias de empresas estrangeiras que fazem negócios nos mercados dos Estados Unidos. O não cumprimento das regras ameaça deslistar empresas das bolsas americanas a partir de 2024. 

Por conta destas pressões regulatórias, as ações da Didi Chuxing sofreram pesadamente. Desde o IPO, os papéis acumulam queda de mais de 90%, com a companhia perdendo cerca de US$ 60 bilhões em valor de mercado. 

Por volta das 16h, os papéis da Didi em Nova York subiam 0,33%, a US$ 1,50, levando o valor de mercado a somar US$ 7,3 bilhões. 

Fundada em 2012 por Cheng Wei, ex-diretor do Alibaba, a Didi é o maior aplicativo de transportes da China. Contando com cerca de 500 milhões de clientes e 15 milhões de motoristas em todo o mundo, a empresa domina o mercado chinês, a ponto de fazer o Uber desistir de operar no país em 2016. No Brasil, ela é dona da 99 desde 2018. 

O caso é mais um capítulo da “guerra fria” travada entre Washington e Pequim no ramo de tecnologia, que incluiu a pressão dos americanos para que aliados e países amigos não recorressem à tecnologia chinesa para as redes 5G. 

Outro exemplo dos embates entre os dois países foi a prisão da diretora financeira da Huawei, Meng Wanzhou, em 2018, no Canadá, a pedido dos Estados Unidos, sob acusações de fraude financeira.