O presidente Jair Bolsonaro está fazendo escola. E, a exemplo do que ocorreu no Brasil no início do seu governo, em 2019, com a consolidação de pastas no Ministério da Economia sob o comando de Paulo Guedes, o presidente argentino Alberto Fernández também decidiu montar um ‘superministério’.
O Ministério da Economia argentino vai absorver outras pastas, incluindo a Agricultura e o Desenvolvimento Produtivo. O deputado Sergio Massa, presidente da Câmara pelo partido governista Frente de Todos, de centro-esquerda, assume o cargo na quarta-feira, 3 de agosto, e responderá pela política econômica, industrial e agrícola do país vizinho.
Chefe de gabinete na presidência de Cristina Kirchner, entre 2008 e 2009, Massa passou o fim de semana em reuniões para definir novos titulares do superministério.
Ele substitui Silvina Batakis, que não chegou a completar um mês como titular na Economia e deixou o cargo na quinta-feira, 28 de julho. Batakis, por sua vez, substitui Martín Guzmán que renunciou em 2 de julho por desentendimentos com a ala mais kirschnerista do governo.
O rodízio na pasta demonstra à perfeição a instabilidade econômica e política do país vizinho que amarga inflação na casa de 64% em 12 meses até julho de 60% e uma brutal desvalorização do peso. Na sexta-feira, 29 de julho, o dólar ultrapassou a cotação de 300 pesos
É grande a expectativa com as medidas a serem anunciadas por Massa, entre elas uma revisão na política fiscal e adoção de uma política cambial “crível”, informa o jornal Clarín. Também estariam sendo avaliados incentivos para setores exportadores que trazem moeda estrangeira ao país e, por consequência, reforçam as reservas internacionais. Outra alternativa em discussão é criar uma linha de financiamento com fundos soberanos estrangeiros.
Após a indicação de Massa para comandar o que chamou de superministério, o presidente argentino telefonou para a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, para discutir a trajetória do país. Há uma semana, Batakis, agora ex-ministra da Economia, esteve em Washington.
Apresentou-se à chefe do FMI, esteve com representantes do Banco Mundial, do Departamento do Tesouro dos EUA, e executivos de empresas como General Motors, Amazon e Google. Após o encontro, Georgieva, do FMI, declarou, no Twitter, que a reunião foi “produtiva”. Com a nova mudança de comando, fica a dúvida se a relação não voltou a estaca zero.
Em março deste ano, o governo argentino fechou um acordo com o FMI para refinanciar sua dívida com o organismo de US$ 45 bilhões, tornando-se o maior devedor do Fundo.
O Bank of America Securities avalia que o governo argentino tomará medidas mais decisivas para enfrentar a crise cambial mais profunda desencadeada pela renúncia de Guzmán, o ex-ministro que negociou o acordo bilionário com o FMI. E afirma que Massa deverá concentrar muito mais poder na área econômica por várias razões.
“O novo ministro será capaz de centralizar as decisões econômicas uma vez que o Ministério a Economia irá absorver outros ministérios, incluindo a Agricultura e o Desenvolvimento Produtivo e controle do setor de energia. Massa tem mais influência política e um apoio explícito da coligação governamental (provavelmente incluindo Cristina Kirchner), bem como um mandato para tomar medidas, dada a necessidade de resolver uma crise cambial mais profunda”, diz Sebastian Rondeau, do BofA Securities.
O especialista afirma que isso poderia aliviar a elevada incerteza política no país. “Além disso, Sergio Massa tem boa relação com empresários, sindicatos e com o governo americano. E será responsável pelo relacionamento com organizações internacionais, bilaterais e multilaterais.”
O BofA vê maior probabilidade de estabilização da economia argentina sob Massa do que sob Batakis no comando do ministério, dado um apoio político mais explícito da coligação governamental. Massa também é visto como mais ortodoxo do que Batakis.
Uma “remodelação adicional na equipe econômica” – com transferências de comandos – deverá dar mais espaço para Massa nomear outros colaboradores e consolidar a centralização do processo de tomada de decisões econômicas. O BofA recomenda atenção a possíveis mudanças no BC argentino e potencial fusão de outros ministérios, incluindo Obras Públicas e Transportes.