De 2011 a 2020, o PIB do Brasil cresceu, em média, 0,3% ao ano. Com a inclusão no cálculo da retomada cíclica em 2021, a variação chega a 0,7% na média anual.
No primeiro trimestre de 2022, a economia avançou 1% em relação ao ano anterior. E, no segundo trimestre, divulgado nesta quinta-feira, 1º de setembro, pelo IBGE, a expansão foi de 1,2%, em relação ao intervalo de janeiro a março.
O desempenho nos dois trimestres deste ano surpreendeu economistas pelo feito combinado de preços de commodities em alta, aumento de renda na agricultura e mineração, crescimento da arrecadação, concessão de estímulos fiscais, crédito forte, recuperação do mercado de trabalho e vigor no setor de serviços.
Mas essa é uma fotografia do passado. Sobre a evolução do PIB sobram dúvidas, mas uma certeza é compartilhada por economistas consultados pelo NeoFeed: o Brasil sofre de um crônico baixo crescimento.
Desprovido de informações sobre o curso da política fiscal em 2023, o mercado pisa em ovos quanto às condições que poderão alavancar o PIB em 2023 e além sob a batuta do próximo presidente.
“Investimento em educação, em aumento de produtividade, maior abertura econômica e segurança jurídica para o investidor são condições que, reforçadas, trariam melhor retorno do PIB”, diz Gabriel Fongaro, economista sênior do Julius Baer Family Office, ao NeoFeed.
O baixo crescimento do Brasil é, inclusive, um dos problemas que afugentam investidores estrangeiros, afirma. “Pensando no longo prazo, não dá para não falar da educação. E não se trata do montante de recursos destinado à área, mas quanto à qualidade do gasto. Gastamos mal e valorizamos demais o ensino universitário. O foco deveria ser o ensino básico que atuaria, inclusive, na redução da desigualdade”, diz o economista.
Para ele, recursos também deveriam ser mais direcionados a setores que o Brasil tem como vocação produtiva, “caso da prospecção de petróleo em águas profundas, por exemplo, e não à indústria naval, como já tentamos no passado e não deu certo”.
A importância da simplificação tributária, também é destacada pelo economista do Julius Baer, que cita a necessidade de maior flexibilidade das leis trabalhistas e acesso à tecnologia como elementos para alavancar a expansão consistente do PIB.
A segurança jurídica, diz Fongaro, é elemento fundamental para atrair investimentos, inclusive, “porque o Brasil já quebrou contratos”. Ele cita a medida provisória que afetou o setor elétrico em 2013. “Foi uma quebra em massa e importante”, afirma.
Rodolfo Margato, economista da XP, está alinhado ao colega do Julius Baer e lista os desafios para a elevação do PIB potencial do Brasil: avanços no nível educacional, ampliação da produtividade, simplificação do sistema tributário e expansão do investimento em infraestrutura.
“A deterioração das contas públicas e o aumento de incertezas fiscais, que tendem a apertar as condições financeiras, também contribuem negativamente para a dinâmica da atividade ao longo do tempo”, pontua Margato.
O economista da XP entende que para atingir taxas de crescimento mais altas e sustentadas, há necessidade de “maiores e contínuos” investimentos em capital humano e infraestrutura, elementos que impulsionariam a produtividade.
“Estabilidade e previsibilidade macroeconômica, com instituições fortes e modernização de marcos regulatórios também devem ser perseguidos. Dessa forma, empresários locais e estrangeiros aumentariam os aportes de recursos nos mais diversos setores”, afirma.
Ele destaca, adicionalmente, a necessidade de ampliação do volume e da eficiência alocativa de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, a fim de dinamizar o processo de inovação tecnológica.
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, lembra que o crescimento baixo da economia brasileira não é novo. “Vem dos últimos 40 anos”, diz. Ele pondera que, nesse período, o País perseguiu a estabilidade, sobretudo nos anos 1980 e 1990, e entrou num ciclo de crescimento – via aumento de produtividade com reformas feitas nos governos Collor, Fernando Henrique Cardoso e no primeiro mandato de Lula.
Mas, no segundo governo Lula, afirma, as reformas estruturais retrocederam e deram lugar a “reformas de curto prazo e especialmente fiscais” para tentar gerar crescimento econômico. “Na sequência, o país teve governos instáveis, caso do governo Temer e de Bolsonaro, que é o que é, não tem governo”, diz o economista-chefe da MB.
Vale pondera que, para voltar a crescer de forma consistente, o Brasil precisa de estabilidade macroeconômica, “com credibilidade e estabilidade política para, depois disso, pensar em reformas micro e macroeconômicas”.
Sem estabilidade política, diz o economista, não conseguimos sequer avançar na reforma administrativa. “E não é só conter a polarização política em que vivemos, mas ter uma melhor concertação ou conciliação entre Executivo e Legislativo que não temos hoje. E nem sabemos se vamos ter.”