A inflação assombra governos e investidores, alimenta a expectativa de aumento persistente das taxas de juros pelos bancos centrais e o movimento atinge em cheio as bolsas de valores.

Os principais índices do mercado americano caminham para o terceiro trimestre consecutivo de perdas que, no ano, não são pequenas. O ‘benchmark’ S&P 500 cai mais de 23% desde janeiro; o Dow Jones, quase 20%; e o Nasdaq, cerca de 30%.

A desvalorização dos três índices diminuiu expressivamente no terceiro trimestre. Mas a trajetória negativa do S&P 500 e do Nasdaq em 2022 é histórica.

Os dois índices seguem para a terceira perda trimestral pela primeira vez desde 2009, quando o mundo afundava na maior crise financeira em quase um século, que foi semeada no mercado de hipotecas norte-americano.

Apesar da desvalorização mais branda das bolsas americanas entre julho e setembro, o segundo trimestre foi desastroso em um reflexo do ritmo acelerado do aperto monetário pelo Federal Reserve (Fed), o BC dos EUA.

Criticado por atravessar 2021 apontando o aumento da inflação como transitório, o Fed começou a elevar sua taxa básica em março deste ano, de praticamente zero, e no compasso de 0,5 ponto percentual.

Com a credibilidade em jogo, o BC americano acelerou a alta do juro a 0,75 ponto em junho, confirmando o primeiro aumento dessa magnitude desde 1994. Desde então, ocorreram três ajustes dessa ordem. E vem mais por aí.

Na última reunião de política monetária, em setembro, o Fed aumentou a taxa básica ao intervalo de 3% a 3,25%. E divulgou projeções de 4,40% e de 4,60%, respectivamente, para o final de 2022 e de 2023.

Ao mesmo tempo, o banco central dos Estados Unidos reduziu sua estimativa de crescimento econômico desse ano de 1,7% para 0,2%. E apontou que a inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor, só estará em 2% no fim de 2025.

Economia em desaceleração e resvalando para um quadro de recessão não é bom sinal para as companhias. É fato que o mercado de trabalho segue forte, mas o Fed persegue seu enfraquecimento – outro mal sinal para empresas na ótica do consumo.

Divulgados nesta sexta-feira, 30 de setembro, indicadores de renda e despesas pessoais nos EUA em agosto seguiram em alta. E o indicador mais considerado pelo Fed na gestão da política monetária, o Índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal (PCE, na sigla em inglês) subiu 0,3% em agosto, ante queda de 0,1% em julho.

Ainda que em base anualizada esse indicador tenha recuado a 6,2% ante 6,4%, seu núcleo, que exclui preços de energia e alimentos, também subiu e confirmou que a inflação continua disseminada na economia americana.

Portanto, mais trabalho à frente para o Fed e sinal negativo para empresas, uma vez que juro ascendente é sinônimo de custo mais elevado – seja para financiamento de projetos, estoques, ou refinanciamento de dívidas.

Nessa toada, termina nesta sexta-feira, 30 de setembro, o terceiro trimestre que não trouxe alento para outros mercados desenvolvidos, onde a inflação belisca investidores.

Em setembro, na Zona do Euro, a inflação voltou a bater recorde em 40 anos e alcançou os dois dígitos. O Índice de Preços ao Consumidor passou de 9,1% anualizado até agosto para 10% até setembro. O dado, anunciado nesta sexta-feira, empatou com 10% de inflação da Alemanha, onde os dois dígitos foram atingidos pela primeira vez em mais de 70 anos.

Com o Banco Central Europeu (BCE) na trilha de alta de juro já aberta pelo Fed, as bolsas europeias também naufragram. E, a despeito de valorizações pontuais, os principais índices caem por três trimestres seguidos – o mais longo período de perdas desde o início de 2011.