As fazendas indoor são tidas como uma das soluções para o esgotamento do campo. Na agricultura de ambiente controlado, os fazendeiros 4.0 têm domínio sobre todos os fenômenos da natureza aos quais os cultivos a céu aberto estão sujeitos. Eles conseguem preservar as plantações das intempéries e das pragas. Com sistemas ultramodernos de iluminação fazem até as vezes do sol. Aliás, mais do que isso... um "sol" sob medida, capaz de brilhar noite e dia, ajustado às necessidades específicas de cada espécie de planta.
Uma das startups mais inovadoras do setor é a australiana Lleaf (acrônimo para “Luminescent Light Emiting Agricultural Film”). Em 2016, os químicos Alexander Soeriyadi e Alexander Falber resolveram “melhorar” a luz do sol e a iluminação artificial das lavouras de cultivo interno e, desde então, vêm desenvolvendo plásticos luminescentes coloridos, na busca por culturas mais sustentáveis, eficientes e saudáveis.
Os corantes da Lleaf absorvem e mudam o comprimento das ondas de luz de modo a adaptá-las a aplicações específicas, como aumentar a fotossíntese ou simular mudanças sazonais para floração e frutificação. Estudos realizados na Austrália, Estados Unidos, Marrocos, Indonésia e Cingapura indicam que os produtos da Lleaf podem aumentar a produtividade das culturas em até 40%.
No início de setembro, a agtech levantou US$ 3,5 milhões, em uma rodada de investimentos liderada pelas empresas dinamarquesas de capital de risco Alfa Ventures e 2 Degrees, com participação da Universidade de Nova Gales do Sul, em Sydney, e da incubadora Cicada Innovations, também da Austrália.
Em 2019, Soeriyadi e Falber receberam o prêmio Foodbytes, promovido pelo Rodobank, grupo holandês fundado em 1890, o maior credor para o setor agrícola e de alimentos do mundo. A honraria é concedida às startups mais inovadoras do ecossistema agroalimentar.
O controle da iluminação em uma cultura de ambiente controlado tem de ser extremamente preciso. Se a luz for demais ou de menos, perde-se todo o cultivo. Para garantir essa exatidão, os agricultores contam com a ajuda da inteligência artificial e da ciência de dados para garantir que as plantas recebam exatamente o que precisam.
Por causa do azulado que emitem, as lâmpadas florescentes e as HQI (halógena de quartzo e iodo), por exemplo, são indicadas a fase de crescimento vegetativo das plantas. Já as HPS (de vapor de sódio), com sua luz amarelada, são recomendadas para o período de floração. As LEDs, por sua vez, são as mais modernas do mercado, pois oferecem diferentes espectros, específicos para cada fase do plantio.
Um dos maiores e mais audaciosos estudos sobre o impacto da iluminação nas plantações indoor é conduzido pelo biológo japonês Shigeharu Shimamura, com a prefeitura da província de Miyagi, no leste da ilha. Em uma antiga fábrica de semicondutores da Sony, destruída no tsunami de 2011, o pesquisador ergueu a maior fazenda de agricultura em ambiente controlado do mundo.
Em 2014, graças a uma parceria com a multinacional GE Lighting, Shimamura equipou com 17,5 mil lâmpadas especiais, desenvolvidas para emitir luz em comprimentos de onda ideias para o crescimento das plantas.
Espalhadas por 17 racks, de 15 andares cada um, perfazendo 2,3 mil metros quadrados de plantação, a fazenda de Miyagi produz cerca de 10 mil cabeças de alface por dia. Com controle total sobre a iluminação, o biólogo consegue aumentar a eficiência da lavoura, além de produzir alimentos com maior concentração de vitaminas e minerais em comparação aos produtos cultivados ao ar livre. Segundo o biólogo, com a luz, dá até para determinar o grau de crocância da verdura.
Com a popularização das fazendas indoor, o setor de iluminação agrícola tem crescido, nos últimos anos. Só nos Estados Unidos, entre 2020 e 2021, por exemplo, passou de US$ 435 milhões para US$ 454 milhões, segundo a consultoria americana Grand View Research. Até 2030, conforme análise da Allied Market Research, mais da metade do mercado global de lâmpadas LED, avaliado hoje em US$ 55,5 bilhões, será da agricultura de ambiente controlado.