O presidente do conselho de administração da Totvs, Laércio Cosentino, há muito tempo alerta para um problema que não para de crescer: o déficit de profissionais na área de tecnologia, um apagão que afeta a perspectiva de crescimento do Brasil.
Os dados mais recentes dão uma dimensão dessa barreira. Atualmente, o Brasil forma 53 mil pessoas por ano com perfil tecnológico no ensino superior. Mas a demanda anual estimada pela Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) é de 159 mil profissionais por ano de 2021 até 2025. Trata-se de um déficit de 424 mil vagas que precisam ser preenchidas, mas que não terão candidatos.
“O Brasil vive o pleno emprego para pessoas capacitadas e os empregos de baixa especialização estão sendo absorvidos pela tecnologia”, diz Cosentino, em entrevista ao NeoFeed. “Isto significa que a não priorização da educação básica e cursos técnicos tendem a eternizar os programas sociais e a baixa produtividade dos produtos e serviços brasileiros. Estamos perdendo para outras nações. A reversão só será possível com um plano de país.”
A solução pode parecer simples. Mas ao mesmo tempo óbvia, na visão de Cosentino. “Desenvolver nos jovens habilidades para uma carreira técnica e capacitar, capacitar, capacitar”, afirma o empresário, nesta entrevista sobre as perspectivas do Brasil em um novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Cosentino diz que a principal missão do presidente eleito é unir um país dividido ao meio, bem como aprovar as reformas estruturais. Entre elas, a tributária e administrativa, que ele considera essenciais para o País voltar a crescer.
Sobre o perfil do ministro que vai comandar a economia, Cosentino acredita que o ideal seria um nome sem viés político, com pleno entendimento do significado da palavra economia. “Deveria ser uma referência global”, diz o presidente do conselho de administração da Totvs, cujo valor de mercado é de R$ 19,6 bilhões.
Cosentino é também um investidor em série de diversas startups. Ele é um dos criadores do GHT4, um multifamily office que reúne também Guga Valente, do grupo de comunicação ABC, o ex-CEO do Itaú BBA Caio Ibrahim David e Rodrigo Vella, do Vella Pugliesi Buosi e Guidoni Advogados.
Confira a entrevista:
O que esperar do terceiro mandato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva?
A principal missão do próximo Presidente da República é unir um país dividido ao meio em número de pessoas, lembrando que metade do Brasil significa uma população maior do que inúmeros países ao redor do mundo. Ele precisa também aprovar as reformas estruturais e propor e aprovar um plano de país de curto, médio e longo prazo. Medidas para fortalecer um plano de poder será ruim para o futuro e difícil de ser implementado face a divisão do país.
Em sua opinião, ele deve ser mais o Lula do primeiro mandato ou o Lula do segundo mandato?
Este momento não tem nenhuma similaridade aos mandatos anteriores e ao complementado pelo governo Dilma. O mundo é outro, as necessidades são outras. Programas sociais são vitais para diminuir a desigualdade, mas a educação e saúde são os pilares que deveriam ser perseguidos para migrar os programas sociais para uma sociedade de fato mais justa. O Brasil vive o pleno emprego para pessoas capacitadas e os empregos de baixa especialização estão sendo absorvidos pela tecnologia. Isto significa que a não priorização da educação básica e cursos técnicos tendem a eternizar os programas sociais e a baixa produtividade dos produtos e serviços brasileiros. Estamos perdendo para outras nações. A reversão só será possível com um plano de país.
"Estamos perdendo para outras nações. A reversão só será possível com um plano de país"
O setor de tecnologia tem um déficit gigantesco de profissionais. E isso é um dos entraves para o crescimento do País. O que poderia ser feito para resolver essa gap?
Desenvolver nos jovens habilidades para uma carreira técnica e capacitar, capacitar, capacitar.
Muito tem se especulado sobre quem seria o ministro da Fazenda ou da Economia de Lula. Mas antes de especular nomes, qual o perfil que você gostaria de ver à frente da economia brasileira?
O ideal seria um ministro sem viés político, com pleno entendimento do significado da palavra economia e alinhado com o mundo atual quanto as iniciativas e velocidade de transformação. Deveria ser uma referência global.
Não há um dado sobre o rombo fiscal em 2023 – os números variam de mais de R$ 100 bilhões até R$ 400 bilhões. O aumento da carga tributária é inevitável e como isso pode afetar as empresas?
Aumentar a carga tributária não faz sentido. As decisões devem ser tomadas a luz da priorização do essencial e foco total nas reformas estruturais tão necessárias ao país.
Fale-se muito de reformas para o Brasil crescer. Qual delas você considera a mais essencial?
As reformas tributárias e administrativa são fundamentais para reduzir o peso do Estado e sobrar dinheiro para o investimento.
O que em sua visão precisa ser feito para o Brasil destravar o crescimento e voltar a crescer consistentemente?
Reformas, plano educacional técnico e manutenção de programas sociais com prazo definido e um plano de país com metas de três, cinco, dez e 20 anos.
Há uma série de promessas de campanhas que significam aumentar os gastos, que vão desde aumento de salário mínimo acima inflação até isenção de pagamento de IR para quem ganha até R$ 5 mil. É possível cumprir todas as promessas? E como fica o teto de gastos nesse cenário?
A administração responsável é o que importa neste momento.