Jan Christian e Rudy Tarasantchi eram dois executivos no grupo de educação Afya quando resolveram se unir para criar uma startup que resolvesse uma dor que a dupla enxergava em diversas empresas que trabalharam: uma plataforma de RH que tivesse um login único, sem a necessidade de consultar diversos sistemas.
Na busca por investidores que apoiassem a ideia, Christian e Tarasantchi foram bater na porta da GFC, que gostou do projeto. Mas, em vez de um aporte, sugeriu uma conversa com a Flash, startup de benefícios flexíveis da qual a gestora americana fazia parte da base de acionistas.
É desta conexão que está nascendo a Flash People, uma nova unidade de negócios da Flash que será comandada por Christian e Tarasantchi – o primeiro como diretor-geral e o segundo como diretor de tecnologia. Trata-se de uma plataforma SaaS (Software as a Service) para RH que aumenta o mercado endereçável da Flash em até R$ 10 bilhões adicionais.
“Não foi uma decisão fácil”, afirma Christian, com exclusividade ao NeoFeed. “Tínhamos certeza de que não iríamos seguir este caminho, mas eles estavam com uma boa estrutura, preparados e com uma visão muito parecida com a nossa. E vamos começar dentro de uma plataforma.”
A Flash People é o terceiro pilar da Flash na área de RH. A startup começou atuando com benefícios flexíveis, concorrendo com gigantes do mercado como Alelo, Sodexo e Ticket. Mas, aos poucos, foi estendendo seus tentáculos para outras áreas dentro do universo de recursos humanos.
A primeira incursão para além dos benefícios foi a compra da ExpenseOn, em julho deste ano, que marcou a entrada da Flash na área de despesas corporativas, uma oferta que inclui um cartão em conjunto com uma plataforma no modelo SaaS para fazer a gestão dos gastos.
Agora, a Flash entra um terreno mais amplo, na qual vai enfrentar desde empresas tradicionais de ERP, companhias especializadas em software de RH e startups brasileiras e internacionais que querem também um pedaço deste mercado estimado em US$ 24 bilhões no mundo em 2022, segundo a Fortune Business Insight.
“Estávamos planejando há algum tempo entrar nessa área, pois enxergávamos uma oportunidade monstruosa. Mas não tínhamos, neste momento, capacidade de execução”, diz Ricardo Salem, fundador e CEO da Flash, ao NeoFeed. “O Christian e Tarasantchi apareceram e aceleramos os planos.”
A nova unidade de negócios nasce com 40 pessoas, que atuam de forma apartada da Flash. Em apenas quatro meses, a plataforma saiu do zero para os quatro módulos que estão sendo lançados nesta semana: admissão, engajamento, treinamento e people analytics.
O projeto foi acelerado porque Christian e Tarasantchi já estavam em campo fazendo pesquisas para o desenvolvimento da plataforma e já montavam um time para o desenvolvimento, que foi integrado à Flash.
Questionado se, ao incorporar o projeto da dupla, a Flash não estava fazendo um acqui-hirer, termo para se referir a uma aquisição cujo principal objetivo é recrutar seus profissionais, Salem não vê desta forma.
“São dois executivos, com uma capacidade de execução excepcional”, afirma Salem. “E tinham um time que estava comprometido. Só assim conseguimos sair do zero para uma plataforma de quatro módulos em quatro meses.”
Ao longo de 2023, novos módulos vão ser lançados pela Flash People. Já estão planejados módulos de performance, controle de jornada e recrutamento. O custo será uma mensalidade de R$ 19,90 por funcionário. O plano é oferecer também add-ons, que podem ser cobrados à parte.
Seis empresas, cujo nomes não são revelados, estão testando a plataforma. A partir de agora, a intenção é abrir o sistema para o mar aberto, mas nem tanto. Neste começo, a Flash People deve pescar no aquário da Flash.
Fundada em meados de 2019 por Salem e os irmãos Pedro e Guilherme Lane, a Flash levantou US$ 130 milhões de investidores como Tencent, monashees, Tiger Global, Battery Ventures, Whale Rock Capital Management e, claro, GFC.
Atualmente, já tem mais de 15 mil clientes de diversos portes e conta com uma base de centenas de milhares de funcionários (a startup não divulga o número exato). A projeção é que a nova solução de RH ultrapasse a marca de 300 clientes até o fim de 2023.
Um dos atrativos para fazer o cross-sell com a base da Flash é o fato de o SaaS nascer integrado à plataforma de benefícios da startup. Com o mesmo login dos funcionários, a empresa que assinar o sistema já passa a contar com todas as informações para começar a “rodar” a solução.
Para ganhar espaço neste mercado, no entanto, a Flash vai enfrentar concorrência pesada. A Totvs, por exemplo, pagou R$ 66 milhões para ficar com 60% da Feedz, uma empresa que desenvolve softwares de gestão de desempenho e de recursos humanos, em setembro deste ano.
Além das companhias tradicionais, cada vez mais startups se “aventuram” no mercado de RH, considerado uma das áreas corporativas que usa ainda pouca tecnologia. Um exemplo é a espanhola Factorial, que se tornou um unicórnio ao receber um aporte de US$ 120 milhões em outubro deste ano. Boa parte do dinheiro será usado para escalar a operação brasileira.
A brasileira Sólides é outra empresa capitalizada por um cheque de US$ 100 milhões em rodada liderada pelo fundo de private equity Warburg Pincus, em fevereiro deste ano, que atua com uma solução de gestão de recursos humanos para pequenas e médias empresas.