A agenda de aquisições da Afya Educação Médica foi intensa nos últimos cinco anos. Desde o IPO na Nasdaq, em 2019, a companhia de educação e soluções de tecnologia na área médica incorporou 21 negócios. E os M&As seguirão em alta neste ano. A empresa tem R$ 1 bilhão em caixa para novas transações.

“A gente vai gerando caixa e alocando esses recursos em aquisições. Estamos atentos ao mercado e em busca de boas oportunidades”, diz Virgílio Gibbon, CEO da Afya, em entrevista ao NeoFeed.

A empresa encerrou 2024 com receita líquida de R$ 3,3 bilhões, alta de 14,9% sobre o ano anterior. O lucro apurado foi de R$ 648,9 milhões, 60,1% acima do reportado em 2023. O Ebtida também cresceu no ano passado e alcançou R$ 1,45 bilhão, aumento de 24,9%.

Para 2025, o guidance é alcançar faturamento de R$ 3,7 bilhões, que representaria um aumento de 12%. A previsão é um pouco menor do que a Afya efetivamente cresceu em 2024, mas na conta não estão as possíveis oportunidades de aquisições. Também não entra a compra da Faculdade Única de Contagem (Funic), em Minas Gerais, anunciada em dezembro.

A compra da Funic resultará em mais 60 vagas para o portfólio e um desembolso de R$ 100 milhões. A expectativa é de que o closing dessa negociação, com a autorização do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), deva ocorrer no primeiro semestre deste ano.

O executivo da Afya acredita que o resultado previsto para 2025 apresenta uma perspectiva conservadora e, com o horizonte aberto para mais aquisições, esses números deverão ser atualizados.

“No ano passado, a gente fez uma previsão de faturamento e revisou para cima o guidance em agosto. E alcançamos o novo resultado. O que a gente acredita é que isso também possa acontecer em 2025”, afirma Gibbon.

Com 3.593 vagas anuais nas 33 escolas de medicina em 19 estados, e nos 20 cursos de pós-graduação, a Afya pretende aumentar pelo menos 200 vagas todos os anos com as aquisições.

Atualmente a empresa está habilitada para concorrer à criação de 23 cursos de medicina no País, com 60 vagas cada, por meio da nova fase do programa Mais Médicos. “Essa é uma excelente oportunidade de crescimento, que virá com mais investimentos”, diz ele.

Caso vença algumas dessas concorrências, a expectativa é de que os cursos estejam em funcionamento no início de 2027, já que, passada a fase de habilitação, serão mais 12 meses para implementação da faculdade.

No ano passado, os investimentos da companhia, sem levar em conta M&As, somaram R$ 235 milhões, aplicados em melhorias de infraestrutura, de materiais de ensino e plataformas para os profissionais de saúde. Para 2025, o guidance é de investir entre R$ 250 milhões e R$ 290 milhões.

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Virgílio Gibbon, CEO da Afya

Em gastos inorgânicos, a Afya aplicou no ano passado R$ 817 milhões, sendo R$ 660 milhões para a aquisição do centro universitário Unidompedro, em Salvador, com mais 300 vagas, e R$ 157 milhões em earn-out para aquisições de vagas.

Inteligência Artificial em prontuários

Além das compras de concorrentes, a empresa tem mirado em novas soluções tecnológicas para oferecer a potenciais clientes. Foram aportados R$ 117 milhões no desenvolvimento de novas aplicações, com a formulação de um prontuário por Inteligência Artificial em que a própria explicação do paciente já é transportada para o computador, o que livra o médico de ficar digitando durante a consulta.

“O médico gasta hoje 70% de seu tempo em burocracia. E isso é muito ruim”, afirma Gibbon. Em sua rede, a Afya tem 313 mil médicos, que usam suas tecnologias nas faculdades e em suas clínicas. Para desenvolver essas soluções, a empresa conta hoje 500 engenheiros em tecnologia.

O resultado financeiro obtido pela empresa em 2024 fez com que a companhia realizasse, pela primeira vez em cinco anos desde que abriu o capital, o pagamento de dividendos aos acionistas. Serão distribuídos o correspondente a 20% do lucro líquido do ano, que significa o montante de R$ 130 milhões. O valor será pago no dia 4 de abril.

“A sempre gente reinvestia o nosso caixa. Vamos continuar crescendo e investindo, mas agora vamos distribuir valor. Temos alto crescimento, alta geração de caixa e agora também contamos com dividendos atrativos para o investidor”, afirma o CEO da Afya.

Não há, no entanto, uma definição sobre como será a rotina do pagamento dos dividendos daqui para a frente. A política será definida em cada exercício. “A ideia é que gente continue a ser uma empresa pagadora aos seus acionistas. Não temos um compromisso a longo prazo, mas vamos estabelecer a cada período.” Hoje a empresa tem cerca de 90 milhões de ações. Desse total, 70% estão nas mãos dos controladores.

Em 12 meses, os papéis da Afya na Nasdaq tiveram desvalorização de 22,39%. O valor de mercado da companhia é de US$ 1,45 bilhão (aproximadamente R$ 9 bilhões).