Especializada em soluções de customer experience, a Zenvia faz parte do grupo de empresas de tecnologia que abriram capital em 2021 e viram suas ações decolarem por algum tempo antes de registrarem uma queda livre em suas cotações.
Alguns números traduzem a derrocada da companhia na bolsa. Em julho do ano passado, quando abriu capital na Nasdaq, a empresa levantou US$ 200 milhões e foi avaliada em cerca de US$ 600 milhões.
Agora, levando-se em conta a cotação de seus papéis no pregão desta sexta-feira, o valuation está na faixa de US$ 69 milhões. Desde o IPO, suas ações, fixadas, na época, em US$ 13, acumulam uma desvalorização de mais de 87%.
De olho em um mercado que dificilmente vai tolerar quem não preze por rentabilidade, a Zenvia tenta mostrar que pode virar esse jogo. No balanço do terceiro trimestre de 2022, a companhia reduziu pela metade o seu prejuízo líquido, que ficou em R$ 27,7 milhões, e ampliou sua receita em pouco mais de 10%, para R$ 180,4 milhões.
“Mantemos o crescimento para frente, mas olhando para a rentabilidade como uma alavanca para a sustentação no longo prazo”, diz Cassio Bobsin, fundador e CEO da Zenvia, ao NeoFeed.
Como parte da resposta que planeja dar ao mercado, a Zenvia, que encerrou o trimestre com R$ 57,2 milhões de dívida líquida, renegociou os prazos de parcelas referentes a aquisições feitas após o IPO e que explicam, em parte, os questionamentos sobre a empresa. Agora, os valores, que somam R$ 367 milhões, serão pagos entre 2023 e 2026.
É o caso da D1, startup especializada na digitalização de operações de varejo, bancos e segurados, e da Movidesk, focada em serviços de atendimento ao cliente. Essa última, fruto de um acordo fechado por R$ 616 milhões.
Na entrevista, Bobsin fala sobre os planos da companhia para voltar a ter margens positivas e explica os processos de renegociação de M&As, além de analisar o momento da Zenvia na bolsa e as perspectivas da empresa em 2023 e no longo prazo. Confira:
Como você avalia o momento da Zenvia? Quais são as prioridades da companhia diante desse cenário mais conturbado?
A gente vem direcionando nossos esforços para voltar a ser uma empresa geradora de caixa. Nesses últimos dois anos, tivemos uma fase mais expansiva, inclusive com aquisições. Isso fez a gente reportar Ebitda negativo durante alguns trimestres. Agora, queremos voltar a ter um crescimento sustentável e lastreado por geração de caixa.
Na semana passada, a companhia demitiu 118 pessoas em sua operação. Esses cortes fazem parte do plano para reduzir custos?
A gente vem adequando o nosso dimensionamento dos times olhando muito para a projeção de 2023, com foco em geração de caixa e Ebitda. Ficamos mais seletivos. A gente focou nas frentes que têm mais potencial e tirou um pouco o pé de outras.
Quais são essas frentes?
Ao longo dos últimos anos, migramos o foco dos negócios de CPaaS (sigla em inglês para plataforma de comunicação como serviço) para SaaS (sigla em inglês para software como serviço), que possui crescimento mais sustentável e maior rentabilidade. O foco seguirá nessa mesma linha para os próximos anos, pois enxergamos um grande potencial no mercado de SaaS. No CPaaS, a redução de custos é necessária, devido ao contexto mais competitivo combinado com o atual cenário macroeconômico global.
A empresa prevê mais demissões?
Não projetamos ter mais cortes. A gente espera seguir com os times e esforços alinhados para executar o plano de crescimento.
A Zenvia renegociou os termos de algumas de suas aquisições. Por que?Renegociamos com a D1 e a Movidesk os pagamentos remanescentes das aquisições, que foram postergados e divididos em mais parcelas. É uma estratégia em linha com a nossa política de preservação de caixa.
Na prática, o que foi feito nessas renegociações?
Em ambos, os pagamentos do ano que vem foram divididos ao longo de dois anos. Isso diminui o peso sobre o caixa em 2023 e permite os investimentos necessários para acelerar o crescimento em SaaS.
Ainda sobre M&As, a Zenvia encerrou o ciclo de compras?
A gente tinha um plano no IPO de expansão do portfólio com algumas empresas. E essa fase de expansão foi concluída com a Movidesk. Seguimos analisando o mercado, mas a gente não precisa de aquisições para executar nosso plano. Elas são complementares.
Analisando o desempenho atual da Zenvia na bolsa de valores, a abertura de capital foi um movimento precipitado?
Timing de mercado é uma coisa que a gente não consegue controlar muito bem. É difícil prever o ciclo macroeconômico. É difícil enfrentar um mercado avesso a risco. O que é importante é analisar o IPO sob a perspectiva de negócio. A gente fez e vem fazendo um movimento como empresa para ser líder em áreas que atuamos. O timing foi perfeito em termos de estratégia e eu não mudaria nada. A preocupação é como lidar com a turbulência de mercado no curto prazo, mas isso é algo que a gente concordou em fazer quando aceitou lidar com este tipo de variável.
Qual é o maior obstáculo para a Zenvia daqui para frente?
O desafio é macroeconômico. Porque gera uma insegurança nas empresas de fazer investimentos. Isso gera dúvida e incerteza se elas devem esperar o aumento do consumo ou não. Por outro lado, a transformação digital atropela quem não faz e esse é um motor que faz com que o nosso tipo de tecnologia seja demandado.