GEORGETOWN - É difícil dissociar as Ilhas Cayman do aposto de "paraíso fiscal". São muitas décadas do imaginário sobre o destino tomado por bilionários e contas bancárias misteriosas. Mas o arquipélago, considerado uma das nações mais ricas do Caribe, quer rever esse cenário.
Até 2024, o país vai impulsionar a indústria turística local, diversificando suas campanhas para vários países como o Brasil. Em 2020, o arquipélago tinha um estoque de US$ 85,7 bilhões de Investimento Direto Externo (IDE) de brasileiros, segundo dados do Banco Central. Para valorizar sua porção paraíso natural, as ilhas estão passando por requalificação dos hotéis e entretenimento e a atraindo grandes redes como Mandarin Oriental, Curio Collection by Hilton e Indigo.
Os americanos, próximos do aeroporto internacional de Grand Cayman em voos diretos com diversas companhias aéreas (voos desde Miami têm apenas 1h30 de duração, por exemplo), são assíduos por ali, seguidos de perto pelos britânicos por se tratar de um território ultramarino do Reino Unido. Mas agora as Ilhas Cayman querem expandir e se consolidar globalmente pela sua beleza natural e estrutura de entretenimento.
As Ilhas Cayman constituem uma certa anomalia no Caribe: não possuem nem um único hotel all-inclusive, não cobram taxas diretas sobre vendas, têm o mais alto percentual de retorno de viajantes (46%) e sua economia não depende só do turismo (as cerca de 600 instituições financeiras registradas ali são um grande motor econômico). Mas o potencial do turismo é gigante.
São 365 pontos de mergulho com excelente visibilidade na maior parte do ano, uma das mais longas faixas contínuas de areia do Caribe (sua Seven Mile Beach figura todos os anos em diferentes rankings de melhores praias da região), além da excepcional Stingray City, banco de areia famoso por reunir uma quantidade imensa de arraias que nadam tranquilamente entre turistas.
O contexto é cinematográfico com mar turquesa e tranquilo, com recifes de corais e as praias de areias branquinhas. Mas há também points para surfistas, manguezais para passeios em caiaque, praias quase desertas e ilhotas preciosas, como Starfish Point, repleta de estrelas do mar. E, com menos de 80.000 habitantes, o arquipélago garante sossego aos visitantes.
Reaberto por completo desde agosto último, o arquipélago atingiu em outubro passado 90% dos números do turismo equivalentes ao mesmo período de 2019 (502 mil) e deve chegar a 100% em dezembro. O plano agora é crescer pelo menos 5% ao longo de 2023.
Enquanto as ilhas estiveram fechadas para o turismo (foram a última nação do Caribe a reabrir), diversos estabelecimentos passaram por importantes upgrades e reformas. O único aeroporto internacional, em Georgetown, concluiu recentemente sua expansão (e também certo makeover estético), aumentando sua capacidade.
O Ritz-Carlton Grand Cayman finalizou uma reforma de mais de US$ 50 milhões com uplifting em todos os quartos, novos bares, restaurantes e espaços públicos - e um acervo de obras de arte (tem a maior maior galeria de arte das Ilhas Cayman, com mais de 40 artistas locais).
O Kimpton Seafire Resort, na Seven Mile Beach, virou flagship da marca para as Américas, com instalações e serviços bastante superiores à média da rede - incluindo excelente beach club, três dos melhores restaurantes de Grand Cayman e um novo parque aquático infantil, o SPLASH.
São novidades também o hotel boutique The Palm Heights e o megacomplexo de lifestyle Camana Bay (com lojas, cinemas, bares, restaurantes e parques). Além disso, há o crescimento do mercado de super vilas privativas e condomínios de luxo com serviço de hotelaria, como Black Urchin e Rum Point.
As Ilhas Cayman receberão ainda nos próximos anos hotéis de grandes redes de alto luxo (como Mandarin Oriental, Curio Collection by Hilton e Indigo) e conta com a ampliação de voos diretos. E, com uma variedade de cozinhas e restaurantes, querem se estabelecer internacionalmente como “capital gastronômica do Caribe” - e agarrar o turista também pelo estômago.
Belezas naturais e infraestrutura
Grand Cayman é a maior ilha do arquipélago e a grande responsável por sua movimentação econômica e turística. Tem mais de 100 nacionalidades diferentes compondo quase 50% da população, vasta rede hoteleira e excelente infraestrutura de consumo, alimentação e passeios - inclusive para os cruzeiristas, que passeiam por ali durante um único dia.
Cayman Brac e Little Cayman, as outras duas ilhas habitadas, têm juntas pouco mais de 2.300 habitantes. São mais rústicas e têm muito menos infraestrutura - e menos turistas.
Além das belezas naturais (variada vida marinha, mergulhos até em navios naufragados), as Ilhas Cayman ainda oferecem ao turista campos de golfe, cavernas, monumentos históricos, destilarias de rum e um mergulho cada vez mais profundo na arte, em diferentes espaços.
Sua National Gallery, por exemplo, conta com dois andares de acervo permanente de cerca de 75 artistas locais, além de mostras temporárias de arte contemporânea - tudo cercado por jardins bem cuidados, incluindo um dedicado a esculturas.
Com tantos atrativos, investir na globalização do turismo era mesmo óbvio. Não que os negócios estejam indo mal. Os investimentos internacionais, garante o governo, seguiram firmes durante a pandemia e as facilidades para tornar grandes investidores residentes (propostas de investimentos individuais mínimos de CI$1 milhão - US$1,2 milhão - são elegíveis para residência) incluem diversos benefícios.
Há novos incentivos especiais para startups se estabelecerem no arquipélago em zonas econômicas especiais, como Cayman Tech City, com um processo simplificado de incorporação, licenciamento e permissão de trabalho que leva de 4 a 6 semanas.
Diversas startups brasileiras - como Vitru, Decolar/Decolar, Acesso Digital e PagSeguro - fizeram de Grand Cayman seu escritório através de offshores intermediadas por grandes escritórios de advocacia, como Conyers.
O governo está buscando também atrair viajantes de negócios. O novo empreendimento One GT, em Georgetown, capital do arquipélago, promete aos interessados fácil acesso aos principais escritórios de advocacia e contabilidade - a curta distância da praia, é claro.