Em março do ano passado, Walter Sabini Jr., um empreendedor que vendeu a empresa de e-mail marketing Virid para a Serasa Experian, colocou no ar o HiPartners, um fundo especializado em varejo com o objetivo de encontrar empresas que colocam a barriga no balcão com um apelo tech, como ele gosta de dizer.
Conseguiu captar R$ 40 milhões com nomes como a Alsotech, a aceleradora digital da Aliansce Sonae, e empresários do setor do varejo e de outras áreas. Entre eles, Mariano Gomide, da VTEX; Ricardo Nassar, da Cobasi; Ricardo Bomeny, CEO da BFFC, que controla Bob's e Pizza Hut; Marco Stefanini, da Stefanini; e Pedro Chiamulera, da Clearsale.
Agora, Sabini Jr. se prepara para sair em busca de mais de R$ 60 milhões, ao mesmo tempo que está concluindo a primeira fase de investimentos com o anúncio de mais um aporte: a Payface, uma startup de pagamentos através de reconhecimento facial.
“Fizemos a primeira captação e fizemos três investimentos”, diz Sabini Jr., ao NeoFeed. “Agora, com o saldo do primeiro ano, vamos voltar a levantar mais capital para investir em mais nove empresas.”
A HiPartners havia investido, até agora, na Bornlogic, dona de uma plataforma omnichannel para aumentar as vendas via redes sociais, e na Looqbox, uma espécie de “Google dos indicadores corporativos.”
O novo aportes tem uma característica diferente. A Payface, uma empresa que já levantou capital com BTG Pactual, abriu espaço para a HiPartners e fez uma venda secundária de ações.
A Payface conta com mais de mil PDVs de varejistas como St. Marche, Zona Sul e D'Ville. A solução da startup funciona como a de carteiras digitais de celulares Apple e Samsung. Mas em vez de carregar o smartphone a tiracolo, basta aproximar o rosto para uma câmera no caixa e realizar o pagamento.
Fundada em 2019 por Ricardo Fritsche e Eládio Isoppo, a Payface surgiu da ideia de desenvolver uma câmera com reconhecimento facial nas balanças de restaurantes. “Mas resolvemos olhar para além da balança e do restaurante e criar uma solução para levar para todo o varejo”, diz Isoppo.
Para usar a solução da Payface é preciso baixar um aplicativo, cadastrar o rosto e o cartão de crédito. A startup tem parceria com a Mastercard, que participa do projeto do St. Marche. O modelo de negócios é um custo fixo para cada transação realizada.
Com a entrada da HiPartners, a ideia é avançar para outros áreas de varejo, como o farmacêutico. Até agora, a base de acionistas da Payface concentrava-se na área financeira. Além do BTG Pactual, o executivo Conrado Engel, ex-CEO do HSBC Brasil, fazia também parte do captable. “Faltava alguém da área de retail”, diz Isoppo.
Nova captação
A nova captação da HiPartners acontecerá em meio a um cenário difícil dos fundos de venture capital em que os investidores estão migrando para classes de ativos mais líquidas, com menos riscos e maior rentabilidade, por conta da alta global das taxas de juros.
Questionado sobre esse momento, Sabini Jr. diz que o fundo busca startups que usam tecnologia para que o varejo ganhe mais dinheiro. “Com crise ou sem crise (no varejo), a tecnologia sempre se sobressai”, diz. “O varejo precisa de eficiência. Se está vendendo menos, precisa melhorar a gestão e de tecnologia.”
O fundador e o CEO da HiPartners diz que já teve reuniões com alguns potenciais investidores e que as perspectivas são boas. Além disso, ele vai adotar outra estratégia nessa captação. Até agora, os recursos vieram majoritariamente de pessoas físicas que acreditavam no histórico de Sabini Jr. no varejo, bem como de seus sócios.
Além de Sabini Jr., são sócios da HiPartners Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Alberto Serrentino, vice-presidente da SBVC e fundador da Varese Retail, e Germán Quiroga, fundador da Omni55 e com passagens por Americanas.com, Nova Pontocom e Cnova (estas duas últimas operações online eram do grupo Pão de Açúcar).
Agora, a HiPartners pretende captar com family offices e bancos. Para isso, espera que sua licença de gestora seja aprovada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) neste primeiro trimestre em 2023, um passo essencial para acessar os bolsos desses investidores institucionais.
Esse novo tipo de investidor não vai tirar o foco do varejo da HiPartners, cuja tese é investir em retail techs fora do radar dos principais fundos de venture capital, que já tenham clientes e que sejam rentáveis. Os cheques começam em R$ 1 milhão e podem chegar a R$ 10 milhões.
O foco, no entanto, não é assinar necessariamente o cheque mais polpudo para as suas investidas, mas dar o que no mercado se chama de “smart money’. No caso da HiPartners, isso quer dizer acesso a pessoas influentes do mercado de varejo que podem ajudar a abrir portas e conquistar contratos, além da “consultoria” dos sócios do fundo.
Sabini Jr., por exemplo, participa de todos os conselhos das empresas investidas. Seus sócios atuam também como “consultores”. A rede de investidores não se limita apenas a fornecer capital para os investimentos. Eles podem participar ajudando a validar teses ou a desenvolver as empresas nas quais a HiPartners investe.
Além disso, a HiPartners está trazendo para o time Carlos Busch, ex-vice-presidente da Salesforce para a América Latina, para ajudar as startups investidas na área comercial. Gustavo Heilberg, sócio da Hix Capital, está também se unindo ao fundo, como consultor do comitê de investimento.