Mais de uma década após terem vendido o Instagram para o Facebook por US$ 1 bilhão, o americano Kevin Systrom e o brasileiro Mike Krieger estão novamente trabalhando juntos no desenvolvimento de um aplicativo que não tem nada a ver com fotos e vídeos, mas que pode se tornar uma pedra no sapato de outra rede social.
Chamado de Artifact, o novo aplicativo de Systrom e Krieger foi lançado nesta semana como uma plataforma de notícias baseada em texto. A ideia é que o serviço possa ser usado para competir contra o Twitter. O diferencial é o uso de inteligência artificial para agregar as notícias que os usuários podem se interessar pela leitura.
“É um momento particularmente oportuno na indústria de tecnologia, com a aquisição do Twitter por Elon Musk e o foco do Facebook no metaverso”, disse Systrom, cofundador e CEO do Artifact, ao Financial Times. "É oportuno também para focar no texto quando mais precisamos dele, devido à atenção das pessoas à desinformação e à forma como consumimos notícias hoje.”
Comprado por US$ 44 bilhões no ano passado, o Twitter passa por uma crise interna sob o comando do bilionário Elon Musk. A empresa realizou cortes em cerca de metade de sua força de trabalho, o que resultou em mais de 3,7 mil demissões (incluindo quase toda a equipe no Brasil). Os cortes afetaram times que monitoravam a desinformação na rede social.
Ainda que a nova plataforma dos cofundadores do Instagram seja um competidor para o Twitter, Systrom afirmou que os negócios se sobrepõem “apenas em uma área específica". Ele também fez elogios a Musk, afirmando se tratar de um líder que acredita no Twitter e quer torná-lo ótimo.
Vale lembrar que o Twitter não foi a única empresa de rede social que demitiu funcionários nos últimos meses. As demissões em massa no mercado de tecnologia se tornaram frequentes. Em novembro, a Meta, controladora do Facebook e do Instagram, desligou 11 mil funcionários de sua operação. Meses antes, em agosto, o Snapchat demitiu 1,2 mil trabalhadores.
O Artifact não é uma rede social de livre postagem, como o Twitter. Em vez disso, a plataforma faz uma curadoria de sites de notícias (que vão desde veículos como The New York Times, Vogue e Financial Times até blogs menores) e exibe os artigos para os usuários, que podem enviar mensagens uns para os outros. Todo o conteúdo noticioso é personalizado de acordo com os hábitos de leitura de cada um.
Para rentabilizar o negócio, a aposta deve ser a mesma de outras empresas que atuam com redes sociais. O plano neste sentido é exibir propagandas personalizadas para os usuários que acessam a plataforma gratuitamente. Outra fonte de receita será com a cobrança de uma assinatura premium com vantagens específicas, como acesso a notícias protegidas por paywall, por exemplo.
Com sede em São Francisco, na Califórnia, e uma equipe composta por sete pessoas, o Artifact ainda está bem longe dessas gigantes das redes sociais. Por ora, a companhia ainda nem mesmo captou investimentos externos, tendo sido financiada apenas pelos dois fundadores. A dupla aportou menos de US$ 10 milhões no negócio que ainda está em fase de testes com poucos usuários.
É algo diferente do que foi feito com o Instagram, quando Systrom e Krieger levantaram dinheiro rapidamente para o desenvolvimento da plataforma. Ao todo foram captados US$ 57,5 milhões em três rodadas de financiamento junto a gestoras de venture capital como Sequoia Capital, Thrive Capital, Benchmark, entre outros.
“O Instagram obviamente foi um sucesso desde o primeiro dia e conseguimos arrecadar dinheiro rapidamente”, disse Systrom. Segundo o executivo, não há planos para uma captação para o Artifact no curto prazo. “A lição que aprendi com isso é que você contrata seus investidores tanto quanto contrata seus funcionários e deve escolher com muita sabedoria.”
Após terem se conhecido durante um programa universitário em Stanford, Systrom e Krieger começaram a desenvolver a rede social que viria a se tornar o Instagram. Eles permaneceram trabalhando na empresa até 2018, anos depois da companhia ter sido vendida para o conglomerado de Mark Zuckerberg.