Nesta terça-feira, 7 de fevereiro, uma questão chamou a atenção na divulgação dos resultados do terceiro trimestre fiscal do Softbank, encerrado em 31 de dezembro. Pela primeira vez em décadas, a apresentação dos dados não foi conduzida Masayoshi Son, o fundador do conglomerado japonês.
Se, de um lado, o empresário que fez com que o grupo se tornasse um protagonista na arena dos investimentos em tecnologia saiu de cena, na outra ponta, a companhia deu sequência ao seu script dos últimos trimestres, ao mostrar números bastante impactados pelas condições atuais do mercado.
Entre outubro e dezembro, o Softbank reportou um prejuízo líquido de 783,4 bilhões de ienes, cerca de US$ 5,9 bilhões, contra as estimativas de analistas na faixa entre 103,5 bilhões de ienes e 205,9 bilhões de ienes.
O fator-chave para esse desempenho bem abaixo das projeções foi o Vision Fund, braço de investimentos do grupo em ativos de tecnologia, que apurou uma perda de 660 bilhões de ienes (US$ 5 bilhões), seu quarto prejuízo trimestral consecutivo.
Mais uma vez, esse desempenho se explica pela queda nos valuations de boa parte das empresas do portfólio do Softbank. No período, 73% dos investimentos do conglomerado registraram perda de valor de mercado.
A lista de empresas que mais contribuíram para o saldo negativo dessa conta inclui a SenseTime, empresa chinesa de inteligência artificial, e a GoTo, da Indonésia. As duas companhias viram seus valuations despencarem, respectivamente, 57% e 65% em 2022.
Em mais um dado que ilustra o momento menos favorável da operação, entre outubro e dezembro de 2022, o Softbank investiu US$ 350 milhões em poucas empresas, contra um aporte de US$ 9,2 bilhões reservado a 51 transações em igual período, um ano antes.
Outros números traduzem como a empresa reduziu seu apetite. No acumulado de janeiro a dezembro de 2022, o Softbank investiu US$ 2,76 bilhões em novos ativos e follow ons em seu portfólio. No mesmo período, em 2021, esse montante foi de US$ 39,24 bilhões.
Diante desse cenário, o CFO Yoshimitsu Goto, um dos responsáveis por substituir Son na condução da apresentação, reforçou que o Softbank seguirá adotando uma postura mais defensiva. enquanto o mercado não apresentar condições mais favoráveis.
“O mais importante é adotar uma abordagem conservadora ao avaliar o ambiente atual”, disse ele, fazendo, porém, uma ressalva. “Podemos nos tornar agressivos a qualquer momento porque temos fundos firmemente garantidos. Portanto, não precisamos nos apressar e não devemos fazer gastos desnecessários.”
A tentativa de transmitir confiança e acalmar os ânimos dos investidores também ganhou o reforço de Navneet Govil, um dos nomes à frente do Vision Fund. Segundo o executivo, o portfólio do fundo tem empresas fortes e com potencial de lucrar à medida que o mercado se recupere.
Como parte dessa equação, ele disse que há um valor justo estimado de US$ 37 bilhões das cerca de 30 startups mais maduras desse portfólio, que devem abrir capital assim que o mercado de capitais reabrir suas janelas. E acrescentou que o Vision Fund 2 tem cerca de US$ 6,5 bilhões para novos investimentos.
Vista como um sinal que só ampliou a desconfiança dos investidores, a ausência de Son na apresentação foi justificada sob o argumento de que o bilionário japonês está envolvido na oferta pública inicial de ações da Arm, empresa de design de chips comprada pelo grupo em 2016.
Depois de um acordo bilionário frustrado para uma aquisição da empresa pela Nvidia, em meio ao escrutínio de autoridades antitruste e de rivais como a Qualcomm e a Microsoft, o IPO da Arm é visto como uma das tábuas de salvação para que o Softbank volte aos trilhos.
Esse contexto explicaria a dedicação de Son à oferta, prevista para ser concretizada até dezembro deste ano. Ao falar sobre a ausência do manda-chuva, Goto aproveitou para reforçar um apelo aos investidores.
“Não sei quando será, mas todos ficaremos felizes em ter Son de volta, o mais rápido possível”, afirmou o CFO. “Mas, por enquanto, por favor, fique conosco por mais algum tempo.”