Dois componentes forçaram a Embraer a operar no “modo crise” a partir de 2020. O primeiro, a chegada e o avanço da Covid-19, que afetaram duramente todo o setor de aviação. O segundo, a desistência da Boeing em firmar a joint venture em aviação comercial com a empresa brasileira.
O acordo em questão estava sendo negociado há mais de dois anos. E, nesse intervalo, entre outros processos, a Embraer fez uma série de movimentos para apartar toda a estrutura da sua divisão de aviação comercial, o que só ampliou os danos da negativa da companhia americana.
Desde então, a fabricante vem cumprindo um longo plano de recuperação, abalado ainda por outras nuvens cinzentas, como os problemas na cadeia de suprimentos. Agora, porém, a companhia entende que está pronta para embarcar em uma jornada mais favorável.
“Podemos afirmar que cumprimos o que foi prometido e que o turnaround do negócio foi concluído em 2022”, disse Francisco Gomes Neto, CEO da Embraer, em conferência com analistas na manhã desta sexta-feira, 10 de março.
“Ainda vamos enfrentar desafios com a cadeia de fornecimento neste ano”, observou o executivo. “Mas estamos otimistas com o futuro e preparados para iniciar uma nova fase de crescimento, tanto em termos de receita quanto de rentabilidade.”
Para dar mais visibilidade ao mercado sobre essa perspectiva positiva, a Embraer divulgou seu guidance para 2023. A estimativa é de uma receita líquida entre US$ 5,2 bilhões e US$ 5,7 bilhões no período, o que representaria um crescimento de até 27% sobre o resultado de 2022.
No ano, a empresa projeta entregar entre 65 e 70 aeronaves na divisão de aviação comercial, contra um volume de 57 em 2022. Já na aviação executiva, a expectativa está na faixa de 120 a 130 jatos, ante 102 no ano passado.
As projeções para 2023 se completam com uma margem Ebit ajustada entre 6,4% e 7,4%, e uma margem Ebitda ajustada na faixa de 10% a 11%. Além de um fluxo de caixa livre de US$ 150 milhões ou mais no período.
À parte dos números, Neto ressaltou negócios recentes fechados pela empresa. Em aviação comercial, por exemplo, entre outros acordos, ele destacou um novo pedido de 20 aeronaves feita pela canadense Porter Airlines, que já havia encomendado 30 aviões encomendados anteriormente.
“Além disso, a autoridade chinesa de aviação civil concedeu certificação para o E190-E2, abrindo portas do mercado chinês para a família E2”, destacou o executivo. Ele observou ainda que a Embraer tem diversas campanhas de venda em andamento, em aviação comercial, executiva e na área de defesa.
“Os slots de aeronaves na linha de produção para entregas em 2023 e 2024 estão praticamente preenchidos, tanto para aeronaves comerciais como para jatos executivos”, disse, fazendo uma ressalva. “Temos capacidade de produzir muito mais, mas estamos limitados pelos problemas na cadeia de suprimentos.”
O executivo afirmou que a empresa ainda lida com o recebimento de materiais e componentes em volumes menores e com atraso. E acrescentou que, após um 2023 que ainda se mostrará desafiador, a expectativa é de bons avanços na solução desses problemas a partir de 2024.
Entre outros pontos de atenção para esse ano, Neto disse que dois fatores, em particular, estão impedindo a empresa de produzir e vender mais na aviação comercial. No caso da família de aeronaves E1, a escassez de pilotos nos Estados Unidos. Já na E2, os atrasos na entrega de motores.
Balanço e decolagem na B3
A Embraer apurou um lucro líquido de R$ 119,2 milhões no quarto trimestre, alta de 973,9% sobre o resultado divulgado em igual período, um ano antes. Entretanto, em 2022, a fabricante reportou um prejuízo líquido de R$ 953,6 milhões, contra uma perda de 274,8 milhões, no mesmo intervalo de 2021.
O lucro líquido ajustado da operação teve queda de 30,9% nos últimos três meses do ano passado, para R$ 226,2 milhões. Enquanto no consolidado de 2022, o indicador ficou em R$ 171 milhões, revertendo uma perda de R$ 162,6 milhões um ano antes.
No trimestre, a receita líquida avançou 44%, para R$ 10,4 bilhões. Já em 2022, a expansão foi de 3,4%, para R$ 23,4 bilhões. Na divisão por unidade de negócio, a receita da aviação comercial ficou em R$ 7,9 bilhões em 2022, alta de 12%. A da aviação executiva cresceu 5%, para R$ 6,4 bilhões.
Em serviços e suporte, a receita líquida de R$ 6,5 bilhões no ano representou um avanço de 7% na comparação com 2021. O ponto negativo foi a divisão de defesa & segurança, que registrou uma queda de 27%, para R$ 2,3 bilhões.
Entre outubro e dezembro, o Ebitda ajustado somou R$ 1,19 bilhão, contra R$ 609,4 milhões, um ano antes. Em 2022, o indicador ficou em R$ 2,3 bilhões, ante R$ 1,9 bilhão em 2021. Já a margem Ebitda ajustada foi de 11,5% no trimestre e de 10% no ano, avanços, respectivamente, de 3,1 e 1,4 pontos percentuais.
Os números da Embraer estão tendo uma boa recepção no mercado. Por volta das 11h30, as ações da empresa estavam sendo negociadas com alta de 6,23% na B3. Os papéis da companhia, avaliada em R$ 14,1 bilhões, acumulam uma valorização de 33,5% em 2022.