Um iate chama a atenção no porto de Falmouth, em Antígua e Barbuda, tanto por seu luxo quanto por seu abandono. Batizada Alfa Nero e avaliada em US$ 81 milhões, a embarcação tem 82 metros de comprimento, heliponto, piscina de borda infinita, spa, academia de ginástica, salão de beleza, jacuzzi no convés e capacidade para acomodar até 12 hóspedes; além de 28 tripulantes.
Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro de 2022, porém, ninguém mais apareceu para fazer a manutenção do barco. E, dado o risco oferecido pela falta de cuidado, na segunda-feira, 6 de março, Gaston Browne, primeiro-ministro da ilha caribenha, determinou que, em dez dias, se o proprietário não aparecer, o Alfa Nero vai a leilão.
Pelos registros da Agência de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC, na sigla em inglês), do Tesouro americano, o dono do megaiate é o empresário russo Andrey Guryev, de 62 anos. Fundador da empresa de fertilizantes PhosAgro e dono de uma fortuna de US$ 10 bilhões, ele tido como próximo do presidente Vladimir Putin.
Embora o empresário negue ser o proprietário da embarcação, sua família já apareceu em fotografias e vídeos, publicados em redes sociais, passeando a bordo do Alfa Nero. Inclusive seu filho Andrey, atual CEO da PhosAgro, e a mulher dele, a socialite Valeria –aquela que, certa vez disse, no Instagram, que “era bonita demais para trabalhar”.
O Alfa Nero abandonado em Falmouth é o símbolo mais recente das sanções impostas pelos Estados Unidos e seus aliados no Ocidente que avançam sobre os oligarcas russos ligados a Putin.
São iates, coberturas, mansões e palacetes, espalhados por alguns dos cenários e endereços mais sofisticados do mundo. Só no Reino Unido, eles acumulam um patrimônio imobiliário de, no mínimo, US$ 1 bilhão, conforme levantamento da BBC.
Um dos imóveis é a Witanhurst Mansion, bloqueada pelo governo britânico, em abril do ano passado, cuja propriedade é também atribuída a Guryev. Localizada no requintado Highgate, no norte de Londres, e construída entre 1913 e 1920, em estilo georgiano, é a segunda maior mansão da cidade, ficando atrás apenas do Palácio de Buckingham.
Com 65 quartos, uma piscina de 20 metros, sala de cinema de dois andares, casino e estacionamento para 25 carros, Witanhurst está avaliada em US$ 60 milhões.
Oficialmente a residência pertence à Boradge, nas Ilhas Virgens Britânicas. Aliás, os bens associados aos magnatas russos estão, em sua maioria, em nome de empresas offshore, constituídas em paraísos fiscais. Sobre a Witanhurst Mansion, os advogados de Guryev negam que a construção pertença legalmente ao empresário dos fertilizantes.
Com a explosão do conflito entre Rússia e Ucrânia, o governo francês também foi atrás dos ativos financeiros dos aliados de Putin. E acharam muita coisa na requintada Riviera Francesa, no Mediterrâneo, sempre foi um dos destinos preferidos dos endinheirados russos.
Com um patrimônio líquido estimado em cerca de US$ 26,1 bilhões, Andrey Melnichenko, de 51 anos, fundador do EuroChem Group e da SUEK, empresa de carvão, também de fertilizantes, é dono alguns imóveis na região. Um deles, a Villa Altaïr, na exclusiva Cap d’Antibes, ganhou os holofotes no início das década de 2000.
Em 2005, a propriedade foi palco para o casamento do oligarca com a modelo sérvia Aleksandra Nikolic, em uma festa de US$ 30 milhões, uma das mais caras da história, até hoje. A celebração contou com shows de Witney Houston e Christina Aguuilera.
Melnichenko foi um dos empresários presentes à reunião com Putin, pouco antes da invasão russa na Ucrânia. Da lista de bens congelados dos empresários, pela União Europeia, está também o maior veleiro do mundo, o SY A, apreendido em março do ano passado, pela polícia italiana, no porto de Trieste, no Mar Adriático.
Projetado pelo arquiteto e designer francês Philippe Starck, a embarcação de 143 metros de comprimento, possui três piscinas, discoteca, acomodação para 54 pessoas, o iate está avaliado em quase US$ 562 milhões.
Outro barco de Melnichenko foi confiscado nas Ilhas Seychelles. Em maio de 2022, segundo a Bloomberg, os barcos, de propriedade dos oligarcas russos, apreendidos em águas europeias, somavam US$ 2,5 bilhões, aproximadamente.
Há quem conseguisse escapar das sanções ocidentais. Cofundador da siderúrgica Evraz, Alexander Abramov, de 64 anos e com uma fortuna de US$ 6,1 bilhões, conseguiu livrar seu superiate de US$ 100 milhões, o Titan, do confisco. Em abril do ano passado, depois de passar por Dubai e Maldivas, o barco seguiu em direção ao canal de Suez, e atracou na Turquia.
Os portos turcos têm servido de refúgio para as embarcações russas. Ainda que tenha condenado a invasão da Ucrânia, o presidente Recep Tayyip Erdogan criticou as sanções ocidentais aos empresários aliados de Putin. Pelo menos, outros dois magnatas levaram suas embarcações para lá, Roman Abramovich e Oleg Deripaska.
Um dos mais ricos da Rússia, Abramovich, de 56 anos e um patrimônio líquido de US$ 9,4 bilhões, é um dos oligarcas russos mais conhecidos no Ocidente. Com carreira no setor de petróleo e gás, em 2003, ele comprou o time inglês Chelsea, sua grande paixão.
Poucos dias depois dos primeiros ataques das tropas de Putin contra a Ucrânia, por pressão da opinião pública britânica, ele anunciou a venda do time por 2,5 bilhões de libras, para a empresa de private equity Clearlake Capital.
Este ano, Abramovich e outros oligarcas russos fecharam um acordo para vender a companhia de telecomunicações britânica Truphone para uma dupla de empresários europeus por 1 libra esterlina (US$ 1,23), segundo informações do jornal Financial Times.
Por causa das restrições econômicas e da queda do rublo, em 2022, segundo a Forbes, 35 magnatas saíram da lista dos mais ricos do mundo. Cada um, viu sua fortuna minguar cerca quase 30% ou US$ 2 bilhões.