Austin - Na estrada principal do SXSW, o acrônimo do South by Southwest, o maior festival de inovação do mundo, um Porsche Vision Gran Turismo azul foi colocado para exibição.
A marca esportiva do Grupo Volkswagen é uma das principais patrocinadoras do evento, mas foi a americana General Motors (GM) quem subiu ao palco para falar que os carros autônomos estão saindo da ficção científica para a produção em larga escala.
Ao lado de Kyle Vogt, CEO e cofundador da Cruise, uma empresa de automatização adquirida pela GM em 2016 (Vogt também cofundou o serviço de streaming Twitch, que foi vendido por mais de US$ 1 bilhão para a Amazon), Mary Barra, CEO da GM, falou sobre a proximidade desse futuro do carro autônomo.
“Quando se pensa em veículos autônomos, você sabe que eles são muito mais seguros, mas algumas pessoas ainda não tiveram a oportunidade de experimentar”, disse Barra. “As pessoas ainda estão vendo o carro autônomo daqui a uma década. Minha mensagem é: pegue uma carona e você será convencido.”
Apesar de toda a inovação embarcada e desenvolvida por empresas de automatização, como a Cruise, o receio tem aumentado nos Estados Unidos. Um estudo publicado pela American Automobile Association (AAA) no início de março deste ano mostra que a desconfiança com a tecnologia do carro sem motorista cresceu de 55% no ano passado para 68% neste ano entre os americanos.
Vogt avalia que essa percepção acontece pelo rápido crescimento dessa indústria. Até pouco tempo atrás, 50 diferentes empresas testavam carros autônomos na Califórnia. Segundo ele, havia o entendimento de que construir sensores e embarcá-los em um supercomputador sobre rodas, integrado a um sistema de inteligência artificial, não era tão difícil.
“O sistema opera em um ambiente muito complexo”, diz o CEO da Cruise. “Mas é a competição que vai ajudar esse negócio a ganhar escala. O problema é que existem competidores vendendo a ideia de direção totalmente autônoma neste momento, o que é uma experiência aterrorizante quando algo estranho acontece e o passageiro é chamado para assumir o controle.”
Diplomaticamente, Vogt não quis citar a Tesla. Dois terços dos acidentes graves com carros autônomos nos Estados Unidos acontecem com a montadora de Elon Musk. Mas o executivo explicou que, atualmente, existe diferença entre carro autônomo e carro sem motorista.
O futuro é o mesmo, mas hoje a tecnologia está em fase de aprendizado (até por conta da adaptação das cidades) e serve de auxílio a uma direção segura - mesmo que em alguns momentos o motorista não esteja com as mãos no volante.
“Quando você coloca alguém em um veículo e há confusão sobre quem é realmente o responsável, isso não é bom”, disse Barra. “Na General Motors, temos tecnologia de assistência ao motorista, mas fazemos uma distinção muito clara. Estamos observando para garantir que o motorista esteja prestando atenção.”
A CEO da GM afirmou que há duas transformações em paralelo acontecendo: a eletrificação e a automação dos veículos. A montadora americana estabeleceu como meta fabricar apenas carros elétricos leves até 2035.
“O que descobrimos é que quando uma pessoa entra em um veículo elétrico, ela não quer voltar (para o carro movido a combustível fóssil)”, disse Barra. “Hoje, quem quer ter um veículo elétrico já tem outro carro. Mas para ter 30%, 40% ou 50% de market share nesse mercado daqui a alguns anos, é preciso ganhar o consumidor que vai ter um só veículo.”
O CEO da Cruise comparou o mercado automotivo com o de telefonia há uma década e meia atrás. Naquele momento, o celular era basicamente utilizado para voz e o smartphone estava em desenvolvimento. Nos veículos autônomos, é preciso entender o potencial e que as “coisas estranhas” que estão acontecendo serão resolvidas.
“A maior transformação que está acontecendo em nossas vidas é deixar de guiar para ser guiado por um veículo. Mas isso ainda não aconteceu”, disse Vogt.