Austin – Quem esteve em Austin nesta semana, durante o SXSW, o acrônimo do South by Southwest, o maior festival de inovação do mundo, deve ter percebido um sotaque diferente (e ele não era o texano).
O português foi uma das línguas mais faladas no festival. Não é para menos. O SXSW recebeu cerca de 2 mil brasileiros, a maior comitiva de um país entre os 70 mil participantes nos três segmentos do festival: conferência, música e filmes.
Várias empresas estavam lá mostrando seus cases. A Embraer, por exemplo, apresentou a Eve, um spin-off que está construindo um carro voador, como são chamados os VTOL. A Gerdau participou de uma apresentação sobre déficit habitacional. E o Itaú foi a primeira marca brasileira a entrar como patrocinadora máster do SXSW.
Mas, afinal, o que o Itaú viu no SXSW? “Precisamos estar conectados com o que vai acontecer no mundo e para onde o mundo está indo”, diz Renato Haramura, superintendente de marketing institucional do Banco Itaú. “Tudo está tão acelerado, e a tecnologia avançou tanto, que já não basta olhar o agora.”
A comitiva do Itaú contava com 35 pessoas de diferentes áreas da instituição, que vão de auditoria à tecnologia. Nesta entrevista que você lê a seguir, Haramura fala sobre as lições que tirou do SXSW. Confira:
Por que o Itaú decidiu investir no SXSW?
É menos sobre o evento em Austin e mais sobre as conversas que estão rolando aqui. A conversa que originou esse pensamento, que inclui a plataforma de inovação do Itaú e o SXSW, é que precisamos estar conectados com o que vai acontecer no mundo e para onde o mundo está indo. Tudo está tão acelerado, e a tecnologia avançou tanto, que já não basta olhar o agora. O agora já é passado. É preciso olhar cinco anos para frente e as novas tendências. E, claro, começar a se preparar para isso.
Para o banco, estar preparado é conhecer primeiro as tecnologias?
Mais do que tecnologia, o SXSW é um festival de cultura e tendência. Ele está falando sobre o comportamento humano. Por mais que muitas delas tenham um background tecnológico, como o chatGPT, estamos falando muito de comportamento humano. É preciso entender para onde esse comportamento está indo e trazer de volta. Aquela história de as tendências do Brasil e do mundo não dá mais. A tendência é o comportamento no mundo inteiro. Estamos ouvindo todas essas conversas aqui para filtrar e entender para onde vamos. Por um lado, no banco, entender o que isso impacta nas necessidades financeiras das pessoas, do brasileiro, e como essas tecnologias podem mudar a relação do sistema financeiro com todos.
Como o Itaú vai tratar essas informações?
O nosso propósito é mais amplo que isso. Queremos que todas as pessoas, os nossos clientes e a sociedade entendam o que está acontecendo para que todos, de alguma maneira, sejam direcionadas a entender tudo isso. A conversa daqui impacta governo, grandes corporações, médias e pequenas empresas, indivíduos. Vimos aqui apresentações como a da futurista Amy Webb falando sobre o impacto da inteligência artificial na educação dos nossos filhos. A conversa de toda a plataforma, mas especialmente essa do SWSW, é a democratização do conteúdo. Todas essas conversas precisam chegar nas pessoas, no Brasil, no Itaú, na concorrência. Há uma necessidade de entender esse direcionamento.
Mas o que essa imersão nas tendências de inovação e comportamento mudam no Itaú?
A intenção é mudar. Trouxemos para cá uma comitiva de 35 pessoas, de diferentes áreas e diferentes cargos, de auditoria, marketing, tecnologia, varejo, atacado. São pessoas que foram selecionadas para proliferar esse conteúdo e ajudar a disseminar esse movimento de inovação. É uma forma nova de lidar com a inovação. Antes, uma área dentro da corporação pensava de maneira inovadora ou promovia essa inovação. Agora, com a velocidade que precisamos, não dá para ter só uma área pensando nisso. Cada indivíduo tem de estar com esse negócio na cabeça. E esse evento é o que faz as pessoas olharem o seu dia a dia de forma diferente. Ninguém que vem aqui volta para casa olhando da mesma maneira, tanto a própria vida como o trabalho. Então, nossa expectativa é, sim, que essas pessoas proliferem esses pensamentos e comecem a gerar movimentos de inovação no banco e na vida de todo mundo. Esperamos que saia um Itaú diferente. O SXSW é uma prova de conceito.
Mas ainda é difícil dizer o que vem de novidade amanhã?
Não sei dizer. Essa é que é a brincadeira. Daqui, provavelmente, 60% das conversas não dão em nada, mas esses outros 40% podem transformar o mundo. O difícil agora é saber qual será. Hoje tem de estar conectado com isso. Tem um trabalho de curadoria que temos feito de entender quais são essas mudanças que realmente podem ser transformacionais. De novo, a palestra da Amy Webb mostrou vários futuros possíveis com os catastrofistas e os otimistas. O trabalho é entender o que pode dar em algo, o que não pode dar em nada, e quais a gente aposta. Se não estiver olhando para elas, certamente você vai errar.
Há muitas inovações para os bancos como a web3, o metaverso, o real digital. O que dá para levar daqui?
O interessante dessa plataforma de inovação é ter uma diversidade diferente de patrocínios e eventos, com propósitos diferentes. O SXSW é mais um evento de cultura e tendência aberta. Vemos umas tecnologias nascendo aqui, mas é mais como elas impactam a cultura e a vida das pessoas. Em maio, teremos a primeira edição do Web Summit no Brasil. Este tem uma característica diferente porque traz mais de tecnologias consolidadas, coisas um pouco mais práticas, com uma nuance um pouco mais imediata do que está acontecendo. Talvez o Web Summit seja mais tangível de plugar na tomada e fazer funcionar no banco. Aqui no SXSW é mais comportamental.
"Será que deveríamos estar alimentando o chatGPT com informações do banco para que ele consiga responder? São pensamentos que você sai daqui coçando a cabeça"
Mas há tendências para se pensar em implementação, não?
Por exemplo, o que vai acontecer no futuro, como o chatGPT? Ele pode mudar a forma com que o cliente vai se relacionar com o banco. Será que deveríamos estar alimentando o chatGPT com informações do banco para que ele consiga responder? Qual o impacto disso em educação financeira? São pensamentos que você sai daqui coçando a cabeça. Será que o chatGPT pode ser a resposta para o grande desafio de educação financeira que o brasileiro tem? Pode, mas tem de pensar. Vamos ter de sentar e imaginar essas coisas. Esse é o tipo de pergunta que o SXSW nos traz. É menos sobre a tecnologia e como isso muda a forma que a gente lida com o ecossistema.
Todas essas transformações para um banco são importantes, mas a solidez continua sendo algo fundamental, como vimos no caso do Silicon Valley Bank. Como unir esses dois mundos?
A solidez ainda é um atributo higiênico. Se não tiver, não dá para ter essa conversa. Mas não é mais só sobre isso. É sobre a experiência de como isso se materializa na sua vida e o significado disso. Quais são os significados e ter reputação. O que é ser sólido e ter reputação para a nova geração? Os signos que a nova geração usa são diferentes do que as gerações mais velhas usavam. Esses signos são as conversas interessantes que também passam por aqui. Talvez a nova geração veja na tecnologia um signo de solidez mais robusto do que os nossos antigos signos, como ter agências enormes nas grandes avenidas. No passado, os bancos queriam aqueles edifícios magníficos, todo de vidro. Aquilo era o símbolo de solidez para a geração daquela época. Hoje em dia, a nova geração pouco se importa onde está. Mais importante é saber que tem usabilidade e isso talvez seja um atributo de solidez maior do que ter um prédio de 50 andares na principal avenida.