A maioria de nós já se daria por satisfeita com uma velhice saudável e feliz. Os ultrarricos, não. Muitos sonham com o elixir da juventude. Entre os que fizeram fortuna no Vale do Silício, o prolongamento da vida ad aeternum é quase uma obsessão.
Reprogramação genética, transfusão de sangue de doadores jovens, impressão de órgãos 3D, criogenia, consciência digital, transplante de microbiotas... As invenções que prometem atrasar o relógio biológico são tão vastas quanto a imaginação de seus criadores – e o poder financeiro e a sanha por eternidade seus investidores.
Com um número cada vez maior de seguidores, se a cruzada dos endinheirados contra a morte tivesse um líder, seu comandante seria Peter Thiel, o cofundador do PayPal e da Palantir Technologies. E seu mais novo soldado, Sam Altman, CEO da OpenAI.
Thiel recentemente investiu US$ 180 milhões na Retro Biosciences. Lançada em 2021, a empresa investiga como potencializar a autofagia, processo pelo qual as células eliminam as toxinas responsáveis por seu envelhecimento.
Até hoje, Thiel, que tem 55 anos, se diz surpreso com a indiferença de grande parte das pessoas em relação à imortalidade. Ele simplesmente não entende como alguém pode não querer viver para sempre.
“Dizem que a morte é natural, apenas parte da vida. Nada poderia estar mais longe da verdade”, disse Thiel, em entrevista à plataforma Business Insider, alguns anos atrás. “Nossa sociedade é dominada por quem aceita ou nega a morte. Eu sou basicamente contra e prefiro combatê-la.”
Com um patrimônio líquido avaliado em US$ 4,3 bilhões, seja por meio da Thiel Foundation seja por meio da Founders Fund, sua empresa de venture capital, o empresário investe pesado em startups e pesquisas antienvelhecimento.
Thiel foi também um dos primeiros patrocinadores da biotech Unity. Fundada em 2011, em São Francisco, a startup, focada no desenvolvimento de tecnologias que freiem a senescência celular, já recebeu quase US$ 291 milhões em investimentos.
Desde 2006, o executivo destinou cerca de US$ 11 milhões para a Methuselah Foundation, uma organização global, sem fins lucrativos, que, por meio da engenharia de tecidos, pretende, até 2030, transformar “os 90 nos novos 50”.
Quem também quer aumentar a expectativa de vida é Sam Altman, CEO da OpenAI. Depois de criar o ChatGPT, o empreendedor investiu US$ 180 milhões, a startup de biotecnologia Retro Biosciences, cujo missão é acrescentar 10 anos à expectativa de vida humana.
A Retro Biosciences realiza diversos experimentos com o objetivo de retardar a morte, projetando métodos para prevenir várias doenças relacionadas à idade.
Inconformismo com a morte
Dono de uma fortuna de US$ 121 bilhões, Jeff Bezos, fundador da Amazon e da Blue Origin, investiu US$ 3 bilhões na então recém-criada Altos Lab. Sediada em São Francisco, a startup de biotecnologia investiga como reprogramar as células e, assim, combater doenças e estender a vida por 50 anos, além da média atual.
Quem também não se conforma com a finitude da vida é Larry Ellison, da Oracle. “A morte nunca fez sentido para mim. Como uma pessoa pode estar lá e, de um momento para outro, simplesmente desaparecer?”, costuma lamuriar, aos 78 anos. Para fazer frente ao inexorável, desde 1997, a Ellison Medical Foundation já destinou US$ 500 milhões para pesquisas sobre antienvelhecimento.
Assim como Thiel, Bezos e Ellison, outro bilionário com interesse no assunto é Sergey Brin, cofundador do Google (hoje Alphabet), que tem 49 anos. Em 2008, ele revelou ser portador de uma mutação genética que o predispõe, na velhice, à doença de Parkinson. Desde então, Brin investiu cerca de US$ 1 bilhão em estudos sobre o distúrbio neurodegenerativo.
Além disso, em 2013, ele e Larry Page, seu parceiro na fundação do Google, anunciaram a criação da Calico Labs, startup destinada a desenvolver instrumentos capazes de prolongar a vida. A nova startup contou com um investimento inicial de aproximadamente meio bilhão de dólares.
Cerca de dois anos atrás, o investidor Bill Maris, cofundador da Calico, se disse desapontado com a falta de progresso da startup no campo da extensão da vida. Essa é, de fato, uma área de extrema complexidade.
A inexorabilidade do tempo
Graças às conquistas da medicina e aos avanços das tecnologias sanitárias, globalmente, a esperança ao nascer aumentou nove anos, desde a década de 1990. E, hoje, está na casa dos 72,9 anos, nos cálculos da Organização das Nações Unidas.
Infelizmente, esse aumento na expectativa de vida não corresponde, na mesma proporção, a um aumento na expectativa de vida independente. O passar dos anos continua implacável. Em maior ou menor grau, em algum momento, inevitavelmente, nosso organismo deixará de responder com a presteza e o vigor da juventude.
No estágio atual da ciência, ultrapassar os 100 anos com as faculdades mentais e físicas intactas, como almejam os bilionários da tecnologia é ainda um sonho distante. A chave para a longevidade atualmente permanece na adoção de hábitos saudáveis. E, mesmo assim, o foco deve ser a boa velhice e, consequentemente, um fim tranquilo, sem grande sofrimento – e não a eternidade.
Mesmo porque há mais na morte do que apenas o envelhecimento. Se os endinheirados estão verdadeiramente dispostos a “resolvê-la” deveriam se preocupar em resolver também a pobreza, a fome, a dependência química, os transtornos psiquiátricos, os acidentes, a violência, as guerras....
Há, porém, entre os bilionários, quem se oponha aos esforços de seus pares em “resolver a morte”. Para Bill Gates, por exemplo, esses esforços não passam de capricho narcísico. “Parece-me bastante egocêntrico os mais ricos financiarem iniciativas que os façam viver mais enquanto os mais pobres sofrem com malária e tuberculose”, defende o cofundador da Microsoft.
Elon Musk, fundador da Tesla e SpaceX, além de dono do Twitter, nunca investiu um centavo em pesquisa e desenvolvimento de recursos para a extensão da vida. Seus motivos, porém, diferem dos de Gates. “Não devemos tentar fazer com que as pessoas vivam por muito tempo”, disse em entrevista ao Business Insider. “Isso levaria à asfixia da sociedade."
Para o bilionário sul-africano, a imensa maioria da população tende a não mudar nunca de ideia. “E, se não morremos, a sociedade ficará presa a velhos conceitos e jamais avançará”, defende Musk.
Desconsiderando algumas iniciativas estapafúrdias, como a criogenia humana e as transfusões regulares de sangue jovem, os investimentos dos ultrarricos em pesquisas sobre como conter a ação do tempo podem, de alguma forma, um dia contribuir para o controle de doenças associadas ao envelhecimento. E, assim, garantir tempos mais serenos, até a morte chegar. Enquanto isso, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac...