O último episódio da segunda temporada de The White Lotus mal tinha sido liberado no streaming da HBO quando um frenesi tomou conta da internet. Qual país seria escolhido para sediar da terceira temporada da série?
Nas redes sociais, teve até torcida. Enquanto alguns defendiam destinos clássicos como Maldivas, outros levantavam a bandeira de locações menos óbvias, à exemplo da Tanzânia e África do Sul.
Os brasileiros obviamente não ficaram de fora. Torceram em peso para Trancoso, na Bahia, ser o novo lar do programa. Desconsiderando (ou não) as torcidas, a HBO anunciou que quem levou a melhor foi a Tailândia, escolhida como próximo cenário e personagem principal da ficção.
A premissa da trama de The White Lotus é simples. A cada temporada, um grupo de ricaços vai passar férias em um destino paradisíaco diferente. Roubos, casos extraconjugais e até mesmo assassinatos são praxe na rede de resorts que dá nome à série.
A primeira temporada foi rodada na praia de Wailea, ilha de Maui, no Havaí. A segunda em Taormina, na Sicília, o que fez a procura desses lugares aumentar por conta da série.
As viagens inspiradas por locações de séries do streaming nunca estiveram tão em alta. O fenômeno, apelidado de set-jetting (trocadilho com a expressão ‘jet-set’, que designa os ricos que viajam frequentemente de jato), é uma das principais tendências da indústria do turismo.
Segundo um relatório da American Express Travel que foi elaborado a partir de uma vasta pesquisa com viajantes do mundo inteiro, o set-jetting é a segunda maior tendência do turismo em 2023.
As viagens inspiradas pelo streaming só ficam atrás do chamado Traveling Off The Beaten Path (viagens fora do caminho batido), ou seja, a preferência por destinos ainda pouco explorados pelo turismo de massa.
“Os viajantes estão se inspirando em vários lugares. Seja envolvendo-se com as comunidades locais, ou querendo recriar os momentos favoritos vividos nas telas”, comentou no relatório o presidente da American Express Travel, Audrey Hendley.
Por causa de The White Lotus, os hotéis em Taormina e outras cidades sicilianas esperam um número recorde de visitantes neste verão. Outros destinos espalhados pelo mundo estão começando a receber mais turistas set-jetters. A série Wednesday, da Netflix, levou a um aumento de visitantes na Romênia.
Já a Lituânia, onde as cenas de Stranger Things foram gravadas, também entrou no radar dos turistas, e já é possível até comprar tours para visitar os sets de filmagem. Outro hotspot com potencial são os majestosos fiordes noruegueses, que aparecem na terceira temporada da Succession, da HBO, e deixou todos que assistem a série de queixo caído.
Apesar do set-jetting estar bombando em 2023, a expressão não é nova. Ela foi cunhada no início dos anos 2000 em resposta ao aumento do turismo na Nova Zelândia após o lançamento da saga O Senhor dos Anéis.
Sendo assim, por que o set-jetting virou de fato tendência só agora? Qual a diferença entre quem visitou Nova York inspirado por Sex And The City ou a Sicília por causa de The White Lotus?
Basicamente, são três motivos. O sucesso do set-jetting é puxado por um público mais jovem; o streaming promove mais fidelidade entre quem assiste e o que está sendo assistido; e as redes sociais desempenham um papel novo de engajar comunidades em torno de uma mesma série ou filme de sucesso.
Apesar de não haver nada de novo em cidades aparecem como protagonistas das narrativas audiovisuais, o que há eras já se faz no cinema e na televisão, o fator streaming é apontado como uma novidade decisiva, pois desperta mais interesse do público, que escolhe a dedo o que vai assistir.
O relatório da Amex Travel mostra que 70% dos entrevistados da geração Z e dos millenniums concordam que foram inspirados a visitar um destino após vê-lo nas telas.
É só pegar como exemplo a série Emily In Paris, sucesso mundial lançado pela Netflix em 2020. A história que acompanha uma gerente de marketing que se muda de Chicago para Paris colocou no radar dos turistas muitos spots parisienses que antes ninguém prestava tanta atenção.
O restaurante italiano Terra Nera, reconfigurado como bistrô do namorado de Emily na série, virou uma atração turística. Todos os dias, centenas de visitantes param na frente do lugar para bater uma foto - e a maioria nem entra para comer.
“61% desses viajantes mais jovens dizem que escolheram um destino porque parece ótimo em fotos ou vídeos e 48% dos entrevistados dizem que querem viajar para algum lugar onde possam se exibir nas redes sociais”, concluiu o estudo da Amex Travel.
O hotel da temporada mais recente da The White Lotus foi filmada é o San Domenico Palace, do grupo Four Seasons. Por lá, as reservas explodiram após o programa ir ao ar.
“Os EUA sempre foram um mercado forte para nós, mas depois de The White Lotus, notamos uma demanda ainda maior por parte dos americanos”, conta ao NeoFeed a porta-voz do hotel, Sonia Bonamassa. “Vimos um aumento nos mercados onde a série é popular, como Reino Unido e Austrália.”
Apesar do hotel não abrir a porcentagem exata de ocupação para esse verão europeu, Bonamassa afirma que as datas estão praticamente esgotadas, mesmo com diárias que partem de US$ 2,5 mil.
“A ocupação é muito alta, com certos períodos sendo totalmente reservados durante a primavera/verão”, diz Bonamassa. “Os nossos restaurantes também se beneficiaram muito dessa nova popularidade, o que é maravilhoso, visto que o Principe Cerami, nosso restaurante mais requintado, acaba de receber a sua primeira estrela Michelin.”
Bonamassa explica ainda que alguns hóspedes querem reproduzir passagens da série na vida real. “Os hóspedes estão interessados em espelhar algumas das experiências do The White Lotus. Alguns pedem para fazer excursões até a comuna de Noto, que aparece na série, e outros para andar de Vespa, motocicleta alugada por Tanya e Greg na história.”