No mundo da obsolescência programada, onde os smartphones duram, no máximo, três anos, a holandesa Fairphone destoa. Fundada em 2013, em Amsterdã, a startup, famosa por seus aparelhos sustentáveis, com altos índices de reparabilidade, acaba de dar mais um passo rumo a um futuro de eletrônicos mais longevos.
Lançado em 11 de abril, os fones de ouvido Fairbuds XL são ainda mais fáceis de consertar do que os celulares da marca. Projetado do zero, o produto foi totalmente construído em módulos. São nove unidades independentes, funcionando em conjunto, explica Miquel Ballester, chefe de gerenciamento de produtos da Fairphone, em entrevista à plataforma TechCrunch.
Dessa forma, se um sistema entra em pane, é mais simples recuperá-lo. O cliente pode comprar as peças de reposição no site da empresa e fazer o reparo em casa. Se o defeito exigir procedimentos mais complexos, como o uso de soldas, o headphone pode ser enviado para um dos centros de assistência técnica da empresa.
Feito de alumínio e pasta de estanho 100% reciclados, 80% de plástico reutilizado e almofada vegana, o Fairbuds XL é vendido por 349 euros. Por enquanto, as operações da Fairphone estão restritas à Europa.
A empresa holandesa é a única fabricante de celulares a receber o selo ouro da Fairtrade International. A associação multilateral, sem fins lucrativos, é responsável pela auditoria de produtos em toda a cadeia de suprimentos, de modo a garantir as melhores práticas de negócios.
Colocar no mercado “celulares mais justos – projetados e fabricado com o mínimo de danos às pessoas e ao planeta” sempre foi uma preocupação do fundador da empresa, Bas van Abel, de 45 anos. A empresa oferece programas de reutilização e reciclagem dos celulares.
Em janeiro de 2023, por exemplo, a startup encerrou o suporte do Fairphone 2. Mas isso aconteceu quase uma década depois do lançamento do aparelho. A título de comparação, o iPhone 8 plus, de 2017, deixará de ser atualizado também este ano.
Conforme um estudo do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), 54% dos brasileiros se desfazem de seus smartphones, em média, três anos depois da compra. O ciclo de vida desses aparelhos dificilmente ultrapassa os cinco anos – quando, não fosse a obsolescência programada, poderiam durar de 12 a 15 anos.
O cenário torna-se ainda mais grave frente aos baixos índices de reciclagem do lixo eletrônico. Na América Latina, apenas 3% dos resíduos são descartados corretamente, aponta estudo da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado no final do ano passado.
Além de danos ao meio ambiente, a falta de cuidado leva a um prejuízo anual de US$ 1,7 bilhão. No ranking global dos grandes produtores de lixo eletrônico, o Brasil aparece em quinto lugar, com cerca de 2 milhões de toneladas despejadas anualmente nos aterros sanitários.