Ao longo do quarto trimestre, as companhias brasileiras de capital aberto estavam bastante preocupadas com o risco de uma perda de força da economia no começo de 2023. Palavras como recessão e desaceleração dominaram os textos das demonstrações financeiras e as teleconferências de resultados.
A angústia com o desempenho da economia, porém, deu uma diminuída nos balanços do primeiro trimestre, segundo levantamento feito pelo Santander, diante dos indícios de que o País não está caminhando para um ano perdido.
Mesmo assim, isso não quer dizer que o humor das empresas e dos executivos virou para o otimismo, visto que a palavra "desafiador" continou dominando o vocabulário corporativo.
"A frequência da palavra desafiador permaneceu a mesma que no trimestre anterior, indicando que o cenário permanece incerto, apesar da ligeira melhora do desempenho da economia durante o período", diz trecho do relatório assinado por Aline Cardoso, estrategista institucional de ações do Santander.
Na "nuvem de palavras" feita pelo banco a partir dos balanços e dos comentários nas teleconferências de 150 empresas listadas na B3, os termos "crédito", "financiamento" e "empréstimos" aparecem com destaque, diante dos efeitos da alta dos juros na linha de despesas financeiras.
A Selic na casa dos dois dígitos, por sinal, fez com que o lucro líquido consolidado do grupo recuasse 22,1% em relação ao desempenho apurado no primeiro trimestre de 2022.
Ainda assim, o desempenho veio melhor que o esperado pela equipe de research do Santander. O lucro líquido de 52,2% das empresas excedeu as expectativas, enquanto a última linha de 35,3% das companhias vieram abaixo do esperado.
Em relação à receita, as empresas que o Santander cobre apresentaram um aumento conjunto de 5,7% em base anual, enquanto o Ebitda caiu 4,9% ante o mesmo período de 2022.
O tema de juros ficou bastante evidente em alguns segmentos. Um deles é o de bancos, diante da preocupação do setor com o aumento da inadimplência dos clientes. Outros que deixaram claro que os juros altos estão no radar foram educação, transportes, construção e incorporação.
Mesmo que o tema financeiro tenha dominado, Cardoso diz que a quantidade de vezes em que as palavras crédito, financiamento e empréstimos ficou no mesmo patamar apurado no quarto trimestre, o que pode ser um sinal positivo.
“Uma vez que a maior parte da dívida das companhias está indexada ao CDI ao invés da Selic, talvez seja um indicativo de que a queda de 150 pontos base nos yields de longo prazo dos títulos do governo estão começando a aliviar as preocupações das administrações quanto ao tema de financiamento”, diz trecho do relatório.