As ações da Ford e da montadora de veículos elétricos Tesla subiram cerca de 7% na sexta-feira, 26 de maio, na bolsa americana, um dia depois de a centenária fabricante americana de carros fechar com a empresa criada por Elon Musk uma parceria que permitirá aos proprietários dos seus modelos elétricos utilizar a rede de 12 mil pontos de recarga super rápida da Tesla na América do Norte.
A parceria - anunciada pelo CEO da Ford, Jim Farley, e pelo CEO da Tesla, em uma transmissão ao vivo pelo Twitter, ganhou repercussão por duas razões.
Primeiro, por acirrar o debate na indústria automobilística quanto à necessidade de adotar um padrão único de recarregamento móvel dos veículos elétricos (EV, na sigla em inglês), no qual o Supercharger, da Tesla, é considerado o melhor e com rede mais disseminada.
O segundo motivo é que o acordo levou vários analistas da indústria a especular se a parceria não foi um tiro no pé de Musk, uma vez que tira da Tesla a vantagem competitiva de manter a exclusividade do melhor carregador do mercado, o que sempre contribuiu para a venda de veículos da marca.
A partir de agora, nada impede que um proprietário troque seu Tesla por um Ford Mustang, modelo elétrico mais moderno da tradicional montadora americana, cuja grife do "muscle car" sempre foi considerada como sonho de consumo dos americanos.
O acesso ao carregamento móvel nas cidades e estradas é visto como crucial para acelerar a adoção de veículos elétricos. E a Tesla possui a maior rede de carregadores, que só servem para os veículos elétricos da marca.
Por isso, a batalha pelos conectores de carregamento dos veículos elétricos lembra a disputa de tecnologia de vídeo entre VHS vs. Betamax, ocorrida uma geração atrás.
A maioria dos modelos elétricos usa um estilo de porta chamado Combined Charging Standard. A Tesla desenvolveu outro, que chama de North American Charging Standard.
Padrão único de recarga
A Tesla está à frente nesse mercado desde 2012, quando desenvolveu e implementou seu próprio carregador de veículos de alta velocidade pelos EUA e Canadá. Com apenas 15 minutos de recarga pelo Supercharger, os veículos elétricos da marca têm autonomia de 322 milhas, ou 518 km.
Embora a maioria dos proprietários carregue seus veículos elétricos em casa, a vantagem da Tesla é inegável. Os donos de carros elétricos de outras marcas, que não são da montadora de Musk, precisam usar carregadores públicos, que podem ser difíceis de encontrar, são mais lentos e cercados de problemas de confiabilidade.
Os carros elétricos atuais da Ford precisarão de um adaptador especial para se conectar aos plugues de carregamento da Tesla, mas os EVs de próxima geração da Ford virão equipados com uma porta estilo Tesla.
A Casa Branca anunciou, em fevereiro deste ano, que a Tesla havia concordado em disponibilizar parte de sua extensa rede de recarga para motoristas de outras marcas. Na quinta-feira, o CEO da Tesla disse que a mudança garantirá que a Ford esteja em "pé de igualdade" com a Tesla.
“Não queremos que a rede Tesla Supercharger seja como um jardim murado”, disse Musk. “Queremos que seja algo que apoie a eletrificação e o transporte sustentável em geral”, acrescentou. O dono da Tesla nunca escondeu que seu objetivo maior é no desenvolvimento do carro autônomo, e não no mercado de veículos elétricos.
Se o Supercharger for adotado por toda a indústria, a Tesla deve ganhar dinheiro no segmento de recarga. Mas vários proprietários da marca reclamaram no Twitter – comprado por Musk meses atrás – de ter de dividir os pontos de recargas com “estranhos”.
Outros afirmaram que escolheram o Tesla justamente por causa da vantagem da recarga rápida e só considerariam comprar o EV de outra montadora se tivessem acesso à rede da Tesla ou a uma rede igualmente confiável. Em boa parte das postagens, em tom provocativo, o Mustang foi citado como o futuro carro desses proprietários dos EV da Tesla.