MADRI - A seca de capital nos últimos meses para as startups fez com que dois mantras passassem a fazer parte da filosofia das gestoras que atuam com venture capital no Brasil.
O primeiro é o de que as startups precisam quase que a qualquer custo virar a chave de suas finanças para atingir o equilíbrio financeiro. O segundo foi de que isso precisaria ser feito sem captar mais dinheiro do que o necessário.
Sob essas regras, diferentes startups estabeleceram metas para o breakeven e reduziram suas expectativas de captação de investimentos. Para a gestora britânica DN Capital, que investiu na brasileira Sami, é preciso fazer o contrário. Principalmente para as companhias que ainda estão em estágio inicial e encontram um mercado mais favorável para navegar.
“Em um mundo onde o capital estava disponível, havia o entendimento de que se poderia levantar capital a qualquer momento e com uma diluição reduzida”, diz Ian Marsh, sócio da DN Capital, ao NeoFeed. “Agora está mais difícil. Isso significa que você não apenas precisa reduzir a queima de caixa, mas que também precisa ter mais dinheiro.”
De acordo com o investidor, é preferível que os empreendedores aumentem a diluição em rodadas de investimento early stage para garantir uma gordura extra de capital. “É mais fácil você levantar US$ 10 milhões do que levantar US$ 6 milhões e depois tentar fazer um follow on com mais US$ 4 milhões”, diz Marsh.
Em relação ao breakeven, Marsh acredita que há um exagero em relação a necessidade das startups se tornarem rentáveis de forma precoce.
“Mais do que uma startup que já atingiu o breakeven, eu prefiro uma empresa que mostre fundamentalmente que pode fazer isso”, diz Marsh. "A diferença está em quando a companhia irá colocar isso em prática."
Para o investidor, a queima de capital deve servir para que o negócio cresça de forma sustentável. "Se você está queimando dinheiro de forma excessiva, é preciso reduzir”, diz Marsh. “Mas se a queima de caixa fizer sentido, continue. Mas tenha um plano de contingência pronto para ser colocado em prática.”
A opinião vai em uma direção contrária de que outros gestoras adotam. "Não é possível você dar cinco vezes mais dinheiro do que uma startup precisa e achar que está tudo bem”, disse Pedro Melzer, sócio-fundador da Igah Ventures, em um painel do South Summit, realizado em Porto Alegre, em março deste ano. “Se você der cinco vezes mais comida para uma criança, ela só vai ficar doente e obesa.”
Questionado sobre isso, Marsh afirmou que é preciso separar as startups que receberam muito dinheiro de forma desnecessária daquelas que levantam mais capital como uma forma de “seguro”. Ele, no entanto, admite que alguns rounds “monstruosos” aconteceram nos últimos anos. “Houve falta de disciplina do fundador e do conselho”.
Em relação aos investimentos da DN Capital, a gestora recentemente aumentou sua aposta no Brasil ao investir novamente na Sami, startup que atua como uma operadora de planos de saúde e enfrenta uma dura competição no setor.
Na semana passada, a healthtech informou ao mercado que levantou R$ 90 milhões em uma rodada de série B que, além da DN Capital, contou ainda com investidores como Redpoint eventures e Mundi Ventures.
A DN Capital já havia investido no negócio na rodada anterior da Sami, em que a startup havia levantado R$ 111 milhões. De acordo com Marsh, o que motivou o aumento da aposta foi o fato de que a Sami mostra uma combinação de pontos como redução de custo através de uma plataforma digital, melhora da experiência do usuário e aperfeiçoamento de processos de triagem.