O Yahoo é apenas uma sombra da empresa que já chegou a valer mais de US$ 125 bilhões e rivalizou com Google e Amazon. Há dois anos, contudo, um grupo de investidores passou a acreditar que poderia recuperar a companhia e assumiu o controle do negócio (e da AOL) por US$ 5 bilhões.
O acordo foi feito entre a gestora de private equity Apollo Global Management e a Verizon, que até então era a detentora das companhias. Com o negócio concretizado, a Apollo começou a realizar mudanças no Yahoo. A mais impactante foi a chegada de Jim Lanzone ao cargo de CEO.
O executivo que já havia comandado empresas como Tinder e CBS foi escalado com a missão de revitalizar o negócio. “Eu sempre soube que esses produtos já tiveram dias melhores. Mesmo que eles tenham grande audiência, eles precisam ser modernizados”, disse Lanzone no mês passado, conforme reportado pelo The Information.
Essa modernização vem sendo feita em etapas. A primeira consistiu em reduzir custos significativos de uma empresa que via suas receitas com publicidade caírem gradativamente. Para tapar o buraco, a companhia redimensionou o negócio com demissões e venda de ativos considerados não essenciais.
O pontapé para as mudanças foi o resultado ruim no ano passado. No quarto trimestre, o Yahoo reportou que as vendas de anúncios totalizaram US$ 1,4 bilhão, queda de 18% ante o mesmo período de 2021. As perspectivas para o primeiro trimestre também apontavam para números pintados de vermelho.
Em fevereiro deste ano, o Yahoo demitiu 1,6 mil funcionários – inclusive encerrando a operação brasileira. A companhia também anunciou que fecharia sua plataforma de fornecimento responsável por auxiliar na venda de publicidade automatizada para sites, encerrou o Ad Exchange e informou que passaria a usar serviços do Google.
Entre os ativos vendidos estão a Z Holdings (dona de sites como Line, Yahoo! Japão e PayPay) para o SoftBank, por US$ 1,6 bilhão, e de redes e distribuição de conteúdo, endereços de IP, entre outras propriedades e que renderam quase US$ 2 bilhões de retorno.
Em outro esforço para mudar seu negócio, o Yahoo firmou uma parceria com a Taboola na qual adquiriu 25% da companhia. Com isso, a empresa encerrou seu negócio de publicidade nativa e passou a apostar no parceiro.
De acordo com Reed Rayman, um dos sócios da Apollo, o negócio de tecnologia de publicidade do Yahoo estava perdendo “muitas centenas de milhões de dólares” quando a gestora comprou a companhia há dois anos. As mudanças realizadas, contudo, fizeram com que os resultados passassem a ser positivos.
A segunda parte do plano é mais complicada. Consiste em mudar a perspectiva do mercado em relação ao Yahoo e rejuvenescer a audiência. “Esta é uma marca que, definitivamente, não é o que era nos anos 90”, afirma Lanzone. Na visão do executivo, as pessoas precisam entender que o Yahoo era muito maior do que aparentava.
A ideia é trazer novas frentes de receita para a operação. Assim, o Yahoo começa a apostar com mais força nas divisões de finanças e esportes - na qual a empresa comprou o site de jogos de azar Wagr e também a startup de mídia StrictlyVC.
Em finanças, destaque para o lançamento de um serviço de assinatura que oferece dados financeiros e ferramentas de pesquisa exclusivos e que já tem 2 milhões de usuários mensais e rivaliza contra o Robinhood, que, por sua vez, tem 11 milhões de assinantes.
O Yahoo também contou com uma dose de sorte. No ano passado, a companhia chegou a estudar uma parceria com a exchange de criptomoedas FTX. O negócio não foi para a frente. Em novembro daquele ano, a corretora implodiu em uma série de escândalos financeiros.
Nem tudo, porém, está mil maravilhas. Ainda que o Ebitda esteja melhor, a receita bruta do Yahoo vem caindo e deve totalizar algo na casa de US$ 7 bilhões em 2023 contra US$ 8 bilhões do ano anterior. O crescimento orgânico também apresenta queda, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.
Futuro IPO?
Para a Apollo, o interesse na recuperação do Yahoo visa uma possível abertura de capital da companhia nos próximos anos. A gestora, que tem mais de US$ 92 bilhões em ativos sob gestão, já tinha planos de adquirir o Yahoo mesmo antes da companhia ter sido vendida para a Verizon em 2017 por US$ 4,5 bilhões.
Em 2021, quando finalmente conseguiu adquirir o negócio, a Apollo precisou superar a concorrência da gestora Silver Lake e da Microsoft. A gigante de Redmond – que em 2008 chegou a fazer uma oferta de US$ 45 bilhões pelo negócio e que foi rejeitada pelo conselho – tinha interesse principalmente nas tecnologias publicitárias da empresa.
“Se fizermos o que pretendemos fazer aqui, um IPO deveria ser uma opção”, disse Rayman. Segundo o executivo, a empresa vem sendo questionada sobre a possibilidade de abertura de capital. “Tendemos a adiar [essas conversas] por enquanto porque estamos no modo de construção”, afirma.