Algumas startups focam na venda de verduras, legumes e frutas “feios”. Outras desenvolvem embalagens e produtos para prolongar o frescor dos vegetais. Há também as empresas dedicadas ao upcycling e à reciclagem. E ainda aquelas que resgatam comida (boa) do fluxo do lixo para destiná-la a quem tem fome. A sul-coreana PureSpace, porém, adotou uma estratégia diferente para combater o desperdício de alimentos.
Fundada em 2018, em Busan, a foodtech desenvolveu um aparelho de captação do gás etileno para evitar perdas ocorridas nas etapas de transporte e armazenamento. Foram quatro anos de tentativas e erros até que a equipe de P&D da PureSpace chegasse à tecnologia atual.
Espécie de hormônio vegetal, o etileno é produzido pelas plantas durante sua maturação. Ao agir nos tecidos vegetais, é o responsável, por exemplo, pela queda das folhas mais velhas e pela senescência das flores. A maciez e a coloração das frutas e legumes maduros resultam de reações químicas deflagradas pelo gás.
Uma questão, porém. No processo de amadurecimento, o etileno é liberado no ar, acelerando a madureza das plantas ao redor. E é esse ar que a PureSpace quer purificar – e, com isso, deixar os alimentos frescos por mais tempo. A tecnologia criada pelos sul-coreanos capta o gás e o decompõe em CO² e água.
Pelos relatórios da foodtech, um único aparelho remove 99,5% do etileno de um caminhão refrigerado, de grande porte. “Portanto, é possível oferecer frutas e vegetais de frescor semelhante ao momento imediatamente depois da colheita”, lê-se nos documentos.
A tecnologia da foodtech já foi testada em quase três dezenas de alimentos. Morango, abacate, maracujá, mamão, maçã, damasco, tomate, folhas verdes, beringela, pimenta, abobrinha... A máquina está em uso pelo Walmart, Samsung e algumas redes sul-coreanas de supermercados. Desde sua fundação, a startup levantou US$ 4 milhões e recebeu vários prêmios, como o oferecido pelo Ministério de Alimentação e Agricultura da Coréia do Sul às inovações para a indústria alimentícia.
Reduzir a perda de alimentos é um dos desafios mais prementes da contemporaneidade. Cerca de um terço de tudo o que é produzido anualmente vai para o lixo. Isso equivale a 1,3 bilhão de toneladas e US$ 750 bilhões em prejuízos financeiros. Diminuir o desperdício de comida é também diminuir o desperdício de recursos – terra, água, energia...
Alimentos desperdiçados têm uma pegada de carbono estimada de 3,3 gigatoneladas, usa cerca de 28% das terras agrícolas e responde por 8% do total de gases de efeito estufa (GEE) lançados na atmosfera, anualmente.
De acordo com o relatório “Alimentação e Economia Circular”, da Fundação Ellen MacArthur, sistemas agrícolas saudáveis, regenerativos e sem desperdícios, até 2050, poderiam evitar a emissão de 4,3 bilhões de toneladas de GEE, até 2050 – o mesmo que tirar das ruas, para sempre, um bilhão de carros.