Frequentemente definido como o alicerce do mundo contemporâneo, o cimento é o segundo material mais usado pela humanidade depois da água. Como entre 50% e 70% das construções previstas para 2050 ainda não foram erguidas, a demanda por esse ligante à base de calcário só tende a aumentar. Apenas em 2022, a produção global foi de 4 bilhões de toneladas – contra a 1,3 bilhão de toneladas em 1995, informa a empresa de análise de mercado Statista.
Há, porém, um problema. A fabricação de cimento é danosa ao meio ambiente. Sozinho, o produto responde por 8% das emissões dos gases de efeito estufa (GEE). Ou seja, é preciso encontrar alternativas mais sustentáveis ao material. A startup americana Sublime Systems parece ter encontrado um caminho promissor, rumo a um futuro mais limpo.
Tradicionalmente, o calcário é aquecido a uma temperatura de cerca de 1.500 graus Celsius, até se decompor. Gigantescos, os fornos usam combustíveis fósseis e consomem uma quantidade enorme de energia – o que responde por 40% de toda a poluição lançada no ar pela indústria cimenteira, lê-se no relatório “Transition to Net Zero”, da consultoria global McKinsey.
Fundada em 2020, na cidade de Sommerville, em Massachussets, a Sublime desenvolveu um processo inédito de produção de cimento, sem a necessidade dos fornos. Baseado na eletroquímica, o processo é realizado em temperatura ambiente, alimentado por energia renovável. É como trocar um veículo a combustão por um elétrico.
Em setembro deste ano, a startup recebeu a certificação ASTM C1157, da ASTM International. Criada em 1989, nos Estados Unidos, a organização gerencia cerca de 13 mil padrões industriais de desempenho, em todo o mundo. O reconhecimento atesta que o Sublime Cement é tão eficiente quanto o cimento Portland, o tipo mais usado hoje em dia.
Pouco tempo antes, a empresa havia levantado US$ 40 milhões. A rodada série A foi liderada pelo fundo climático Lowercarbon Capital, com a participação de The Engine e Energy Impact Partners, entre outros. O maior produtor de cimento do sudeste asiático, o Siam Cement Group, se junta ao negócio como investidor estratégico.
A Sublime nasceu dentro do Massachussets Institute of Technology (MIT). A startup foi cofundada por Yet-Ming Chiang, professor e pesquisador do instituto, e por Leah Ellis, atual CEO, eleita como uma das mais brilhantes inovadoras com menos de 35 anos pela MIT Technology Review.
Celebrado como um dos mais importantes engenheiros de materiais da atualidade, Chiang levou várias descobertas do laboratório para a vida cotidiana, como as baterias de fosfato de ferro-lítio de alta potência. Além disso, ele ajudou a fundar várias empresas de tecnologia climática, como a A 123 Systems e a 24M Technologies.
Com o último aporte, a Sublime pretende ampliar pretende ampliar a planta-piloto de Sommerville. A ideia é passar da produção atual de 100 toneladas de cimento por dia para 30 mil toneladas anuais. Leah e Chiang sabem que têm grande desafios pela frente.
Primeiro, eles precisam provar que o "cimento verde" pode ser escalado. Em seguida, têm de lidar com a questão do preço. Do modo como é produzido hoje, o produto custa cerca de US$ 130, a tonelada. Em entrevista á plataforma Bloomberg, Leah diz que já há várias cimenteiras interessadas na nova tecnologia. A previsão é lançar o Sublime Cement comercialmente em dois anos.