Se o assunto é a busca por sistemas agroalimentares mais sustentáveis e resilientes às mudanças climáticas, as bactérias são os melhores amigos do homem. Com, no máximo, 0,75 milímetro de tamanho, elas têm se revelado um poderoso aliado, ao longo de praticamente toda a cadeia produtiva - da semeadura da lavoura à comida no prato.

Pesquisadores da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, agora propõem usar esses seres microscópicos para capturar metano. Embora seja lançado na atmosfera em quantidades inferiores e se decomponha mais rapidamente, o gás é mais potente do que o CO² para o aquecimento global.

Nos últimos 15 anos, as emissões vêm aumentando. As atividades relacionadas à produção de alimentos respondem por quase 40% da liberação anual de metano. Entre as fontes mais importantes, está o rebanho global bovino, via o arroto e o estrume das vacas e bois. Os aterros sanitários, sobretudo os restos de comida, também exalam o gás.

Entre todas as bactérias, as metanotróficas usam o metano como alimento. E entre as metanotróficas, revelam os estudiosos de Washington, uma cepa específica “come” o gás com uma voracidade cinco vezes maior do que qualquer outra linhagem.

Além disso, a tal variante, batizada cientificamente como Methylotuvimicrobium buryatense 5GB1C, se dá bem em locais de baixa concentração da substância, longe de seus habitats naturais – os pântanos e alagados. Outra virtude das metanotróficas: elas transformam metano em carbono. Sim, isso é bom.

Nas quantidades ideais, o CO² é fundamental para o desenvolvimento das plantas. O gás garante o metabolismo e o equilíbrio hormonal das lavouras, a fotossíntese e a absorção de nutrientes. As culturas crescem mais produtivas e resistentes a doenças e ao ataque de pragas.

“As características fazem desta cepa [Methylotuvimicrobium buryatense 5GB1C] uma candidata biológica promissora para o desenvolvimento de tecnologias para a remoção do carbono”, escrevem os especialistas da Universidade de Washington, em artigo recém-publicado na PNAS, a revista oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.

Abordagem de mitigação do metano via bactérias difere da maioria das soluções desenvolvidas pelas startups do ecossistema de inovação agrifoodtech. Em geral, as startups focam no desenvolvimento de aditivos alimentares para reduzir a formação do gás no estômago dos ruminantes.

Outro campo de pesquisa busca a criação de vacinas que “desativem” os micróbios presentes no sistema digestivo dos animais. Por fim, há aquelas tecnologias para tratamento do excremento das vacas e bois. Em vez de manter os dejetos a céu aberto, o esterco fica armazenado em uma espécie de estufa, conhecida como digestor anaeróbico, onde o gás é capturado e convertido em biocombustível.

Agora, a liga pela redução do metano conta com o reforço poderoso das microscópicas bactérias metanotróficas.