Em seu primeiro investimento no mercado brasileiro, a gestora de capital de risco americana Lowercarbon Capital está participando de aporte Série A de R$ 60 milhões na Lemon, startup que leva energia renovável para empresas
A injeção de capital é liderada pela Kaszek e contou ainda com a participação de investidores como Kevin Efrusy (um dos primeiros investidores do Facebook quando ainda estava à frente da gestora Accel Partners) e Sergio Furio, da Creditas
Antes desta injeção de capital, a Lemon já havia captado recursos em duas ocasiões, sendo a mais recente com um investimento de valor não revelado pela Z-Tech, o braço de corporate venture capital da cervejaria Ambev. A empresa também havia levantado US$ 1 milhão em uma rodada seed que contou com a participação dos fundos Canary e da Big Bets, e de alguns investidores-anjo.
Fundada em 2019 por Rafael Vignoli, Rafael Mezzomo, Luciano Pereira e Ariel Amar, a Lemon conecta usinas de energia limpa de fonte solar ou eólica com a rede de grandes distribuidoras e gera créditos que são descontados das empresas que são clientes da startup. No modelo de operação, não há custos ou a necessidade de instalação de placas solares nos clientes.
Segundo Rafael Vignoli, CEO da operação, a ideia é focar o capital recebido nesta rodada em produto, tecnologia e dados. Com uma operação remota composta por 90 funcionários, a companhia quer ampliar a força de trabalho neste ano e pretende abrir mais de 40 vagas até o fim deste ano, voltadas principalmente para o tratamento de dados.
“O mercado de energia está na mesma situação do mercado financeiro há uma década, quando existiam grandes bancos, uma regulamentação relativamente nova e se falava sobre fintechs”, diz Vignoli ao NeoFeed. “Passados dez anos, a gente viu o que aconteceu e o mercado de energia segue a mesma toada, com grandes empresas e novas tecnologias.”
Do lado da Lowercarbon, a ideia é aproveitar este momento. “Não há motivo para o Brasil não ser uma potência em energia renovável, até pelo clima de sol abundante”, diz Alex Laplaza, sócio da Lowercarbon. “A Lemon viu uma oportunidade neste ponto e está digitalizando um mercado analógico, que era o mercado de energia.”
Estruturado nos Estados Unidos em 2019 por Chris Sacca, que passou pelo Google, o Lowercarbon já investiu em mais de 50 startups que desenvolvem soluções relacionadas à mudança climática. O foco está em negócios early stage, aportando startups com cheques em rodadas de pré-seed, seed e Série A – como foi o caso da Lemon.
Entre os exemplos estão a Mootral, que produz um aditivo alimentar que reduz em até 38% a emissão de metano – gás que é 21 vezes mais poluente do que o carbono – nos arrotos. Outra investida é a Heart Aerospace, que desenvolve pequenos aviões elétricos para o transporte de passageiros. A Lowercarbon também apostou na operação da Dendra, cuja tese de reflorestamento envolve drones munidos de sementes.
No caso da Lemon, vale lembrar que a startup brasileira firmou uma parceria com a Ambev para ajudar a gigante no plano de zerar as emissões de carbono próprias e de terceiros de sua cadeia de valor até 2040. Para fazer isso, a Lemon quer levar energia limpa para 250 mil bares, restaurantes, casas de show e estádios de futebol no Brasil até 2025.
Se a meta for atingida, a ação vai resultar na redução de 290 mil toneladas de CO2 na atmosfera, o que equivale ao "trabalho" de mais de 4 milhões de árvores por mês. Por ora, a companhia opera em 2,7 mil estabelecimentos em São Paulo, Pernambuco, Minas Gerais e Brasília e pretende chegar em 10 estados até o fim do ano. No radar estão Rio de Janeiro, Goiás, Mato Grosso, entre outros.
Agora que já desembarcou no Brasil, a Lowercarbon está atenta a outros negócios. Nas últimas semanas, Laplaza esteve em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre reunido com investidores e empreendedores de startups que desenvolvem soluções climáticas. “Gostaríamos de fazer mais aportes por aqui, mas é difícil dizer se isso vai acontecer ainda neste ano”, diz o Laplaza.
O momento de retração nos investimentos no mercado de tecnologia não é um impeditivo para a gestora. “Se você encontrar empresas que estão resolvendo grandes problemas climáticos, esta será uma empresa que será um investimento válido no longo prazo”, afirma Laplaza. O executivo afirmou que não há um valor definido para investir nas operações no Brasil ou na América Latina.