“Hipocrisia ESG.” É esse o argumento usado pelo fundo ativista Bluebell Capital Partners para pedir a renúncia de Larry Fink do cargo de CEO da BlackRock, a maior gestora de recursos do mundo, com US$ 7,96 trilhões de ativos sob sua administração.
Em carta enviada a Fink, em 10 de novembro, mas que se tornou pública agora, Giuseppe Bivona e Marco Taricco, sócios fundadores da companhia de investimentos, se dizem apreensivos com o “risco reputacional” ao qual a BlackRock está sujeita sob a liderança de Fink.
“Estamos cada vez mais preocupados com o risco de reputação (incluindo o risco de greenwashing) ao qual você expôs a empresa de forma irracional, potencialmente alimentando uma lacuna entre o discurso e a prática no investimento ESG”, escrevem os dois executivos. “E a reação causada pela estratégia ESG da BlackRock, que alienou clientes e atraiu um nível indesejado de publicidade negativa.”
Ao mesmo tempo em que Fink defende com veemência a agenda ESG, dizem Bivona e Taricco, a BlackRock continua a ser a principal acionista de empresas com alto risco de sustentabilidade, como as produtoras de petróleo e gás.
“Quando o preço do carvão estava em torno de US$ 76 por tonelada, a BlackRock falava em desinvestir”, diz Bivona, em entrevista à plataforma CNBC. “Agora que o preço do carvão é US$ 380 por tonelada, eles mudaram o discurso para propriedade responsável. Acho que há uma alta correlação entre a estratégia da BlackRock para o carvão e o preço do carvão.”
As cartas anuais de Fink para os acionistas da gestora são famosas, pela defesa veemente do “capitalismo de stakeholders”. Por esse modelo, as empresas não devem se pautar pelo lucro a qualquer preço, mas que estejam alinhadas às necessidades socioambientais de todas as partes interessadas e da sociedade, em geral.
Em 2020, Fink anunciou que a BlackRock iria desinvestir em companhias produtoras de carvão para termoelétricas. “Nossa convicção de investimento é que os portifólios integrados com a sustentabilidade e o clima podem proporcionar retornos ajustados ao risco para os investidores”, escreveu o executivo.
Mas, conforme a carta enviada pelos fundadores da Bluebell, a gestora continua a ser o principal acionista de companhias como a Glencore, Exxaro, Peadbody e Whitehaven, “mineradoras intensivas de carvão”.
A Bluebell não está sozinha nas críticas à gestão de Fink. Em agosto passado, autoridades do Texas incluíram a BlackRock em um lista de empresas que serão proibidas de operar no estado caso não revertam suas políticas em relação às companhias de combustíveis fósseis. Também integram o rol o UBS, BNP Paribas, Credit Suisse e Danske Bank, entre outros.
Fundada em 2019, em Londres, com cerca de US$ 250 milhões em ativos e sede em Londres, a Bluebell detém 0,01% de participação na BlackRock. Bivona e Taricco reclamam que Fink não apoiou nenhuma das campanhas recentes do fundo.
Fink não é o primeiro CEO na qual a Bluebell faz críticas duras. A gestora está por trás da derrubada de Emmanuel Faber da liderança da gigante alimentícia Danone, em 2021.
Depois de assumir uma participação na Danone, a Bluebell liderou o pedido de afastamento de Faber com a justificativa de que, sob sua liderança, o desempenho da empresa estavam aquém do esperado, com queda nas vendas desde o início da pandemia do novo coronavírus.
Mesmo sem ataques diretos às políticas de sustentabilidade do executivo, a gestora londrina e o fundo americano Artisan Partners manifestaram desagrado às práticas ESG da companhia. Para os ativistas, as ações estavam desequilibradas, focadas sobretudo nos interesses dos acionistas.
O fundo também pediu a demissão do CEO da empresa química Solvay e o da Leonardo SpA, companhia italiana do setor aeroespacial.
“Nos últimos 18 meses, a Bluebell realizou uma série de campanhas para promover sua agenda de clima e governança. A BlackRock não as apoiou, pois não as considerava do interesse econômico de nossos clientes”, respondeu a BlackRock, em nota.
A BlackRock também não aderiu às propostas do fundo para dar mais voz aos acionistas minoritários nas eleições de diretores. Na carta enviada a Fink, Bivona e Taricco pedem também a saída do diretor Murry Geber.