Todo ano, Larry Fink, CEO global da BlackRock, gestora com espantosos US$ 10 trilhões de ativos sob gestão, escreve a sua tradicional carta aos CEOs de suas empresas investidas. As cartas de Fink servem como um norte para o mundo dos negócios. Afinal, a BlackRock tem o poder de influenciar mercados, setores e companhias.

Nos últimos anos, Fink vem batendo na tecla do ESG como a única saída para as empresas se perpetuarem e gerarem valor aos acionistas e a sociedade. Há quem diga que ele faz política, que é puro ideologismo. Mas na carta deste ano Fink deixou claro, com todas as letras, o significado de seu posicionamento.

“O capitalismo de stakeholders não se trata de política. Não é uma agenda social ou ideológica. Não é ‘justiça social’. É capitalismo, conduzido por relacionamentos mutuamente benéficos entre você e os funcionários, clientes, fornecedores e comunidades nos quais sua empresa depende para prosperar. Esse é o poder do capitalismo”, escreveu Fink.

Na carta, ele ainda ressaltou. “Não se engane, a busca justa pelo lucro ainda é o que anima os mercados; e a rentabilidade de longo prazo é a medida pela qual os mercados determinarão o sucesso da sua empresa no fim das contas.” Fink ainda fez uma análise do impacto da pandemia no dia a dia das empresas e na sociedade.

“A pandemia tem acelerado uma evolução no ambiente operacional de praticamente todas as empresas. Ela está mudando a forma como as pessoas trabalham e como os consumidores compram. Ela está criando novos negócios e extinguindo outros. Mais notavelmente, ela está acelerando drasticamente a forma como a tecnologia está redefinindo a vida e os negócios.”

As mudanças comportamentais também foram ressaltadas pelo gestor. “À medida que as empresas se reconstroem saindo da pandemia, os CEOs encaram um paradigma profundamente diferente do que estávamos habituados. As empresas esperavam que os trabalhadores estivessem no escritório cinco dias por semana. A saúde mental raramente era discutida nos locais de trabalho. E os salários para aqueles com rendimentos baixos e médios mal aumentavam. Esse mundo acabou.”

A pandemia, diz Fink, também evidenciou questões como igualdade racial, cuidados infantis e saúde mental – e revelou a lacuna entre as expectativas geracionais no trabalho. “Esses temas agora são o centro das atenções dos CEOs, que devem ser cuidadosos sobre como usam suas vozes e se conectam a questões sociais importantes para seus funcionários.”

A fartura de capital no mundo não passou despercebida. “Nas últimas quatro décadas, vimos uma explosão na disponibilidade de capital. Hoje, os ativos financeiros globais totalizam US$ 400 trilhões. Esse crescimento exponencial traz consigo riscos e oportunidades para investidores e empresas, significando que os bancos não são mais os únicos guardiões de financiamento. Empresas jovens e inovadoras nunca tiveram acesso tão fácil ao capital. Nunca houve tanto dinheiro disponível para novas ideias se tornarem realidade.”

Essa nova realidade, analisa Fink, está alimentando um cenário dinâmico de inovação. E praticamente todos os setores têm uma grande quantidade de startups tentando destronar os líderes de mercado. O gestor também falou sobre o papel das empresas na descarbonização da economia global e que os investimentos sustentáveis atingiram US$ 4 trilhões, nos últimos dois anos. "Os próximos 1.000 unicórnios não serão mecanismos de busca ou empresas de redes sociais, eles serão inovadores sustentáveis e escaláveis – startups que ajudam o mundo a se descarbonizar e tornar a transição de energia acessível para todos os consumidores."

E terminou dizendo que vai ajudar suas investidas, criando um Centro para o Capitalismo de stakeholders, a fim de criar um fórum de pesquisa, diálogo e debate. "Isso irá nos ajudar a explorar de maneira mais aprofundada as relações entre as empresas e seus interessados e entre o envolvimento dos interessados e o valor para os acionistas. Vamos reunir CEOs, investidores, especialistas em políticas e acadêmicos líderes para compartilhar suas experiências e apresentar seus insights."

Leia abaixo a carta na íntegra.

O PODER DO CAPITALISMO

Prezado(a) CEO,

Todos os anos eu faço questão de escrever para você em nome dos clientes da BlackRock, que são acionistas da sua empresa. A maioria de nossos clientes está investindo para financiar suas aposentadorias. Seus horizontes de tempo podem durar décadas.

A segurança financeira que buscamos ajudar nossos clientes a alcançar não é obtida da noite para o dia. É um esforço de longo prazo, e assumimos uma abordagem de longo prazo. É por isso que, na última década, tenho escrito para vocês, tanto CEOs quanto presidentes das empresas nas quais nossos clientes investem. Escrevo essas cartas como fiduciário para nossos clientes que confiam em nós para gerir seus ativos – para destacar os temas que acredito serem vitais para gerar retornos duradouros a longo prazo e ajudá-los a atingir seus objetivos.

Quando meus sócios e eu fundamos a BlackRock como uma startup há 34 anos, eu não tinha experiência em administrar uma empresa. Nas últimas três décadas, tive a oportunidade de conversar com inúmeros CEOs e aprender o que distingue as empresas verdadeiramente excelentes. Repetidamente, o que todas elas compartilham é um claro senso de propósito; valores consistentes; e, de forma crucial, reconhecimento da importância de se envolver e atender aos principais stakeholders. Essa é a base do capitalismo de stakeholders.

O capitalismo de stakeholdersnão se trata de política. Não é uma agenda social ou ideológica. Não é "justiça social". É capitalismo, conduzido por relacionamentos mutuamente benéficos entre você e os funcionários, clientes, fornecedores e comunidades nos quais sua empresa depende para prosperar. Esse é o poder do capitalismo.

No mundo globalmente interconectado de hoje, uma empresa deve criar valor e ser valorizada por sua gama completa de stakeholders, a fim de oferecer valor de longo prazo para seus acionistas.É por meio de um capitalismo de stakeholders eficaz que o capital é alocado de maneira eficiente, as empresas obtêm lucratividade duradoura e o valor é criado e mantido em longo prazo. Não se engane, a busca justa pelo lucro ainda é o que anima os mercados; e a rentabilidade de longo prazo é a medida pela qual os mercados determinarão o sucesso da sua empresa no fim das contas.

Na base do capitalismo está o processo de constante reinvenção – a forma como as empresas devem evoluir continuamente à medida que o mundo ao seu redor muda para não correrem o risco de serem substituídas por novos concorrentes. A pandemia tem
acelerado uma evolução no ambiente operacional de praticamente todas as empresas. Ela está mudando a forma como as pessoas trabalham e como os consumidores compram. Ela está criando novos negócios e extinguindo outros. Mais notavelmente, ela está acelerando drasticamente a forma como a tecnologia está redefinindo a vida e os negócios. Empresas inovadoras que procuram se adaptar a esse ambiente têm acesso mais fácil do que nunca ao capital para concretizar suas visões. E a relação entre uma empresa, seus funcionários e a sociedade está sendo redefinida.

A COVID-19 também aprofundou a degradação da confiança em instituições tradicionais e exacerbou a polarização em muitas sociedades ocidentais. Essa polarização apresenta uma série de novos desafios para CEOs. Ativistas políticos, ou a mídia, podem politizar o que sua empresa faz. Eles podem sequestrar sua marca para avançar suas próprias agendas. Nesse ambiente, os fatos em si são frequentemente contestados, mas as empresas têm a oportunidade de liderar. Os funcionários estão cada vez mais buscando seus empregadores como a fonte de informação mais confiável, competente e ética – mais do que governo, mídia e ONGs.

É por isso que sua voz é mais importante do que nunca. Nunca foi tão essencial que os CEOs tenham uma voz consistente, um propósito claro, uma estratégia coerente e uma visão de longo prazo. O objetivo da sua empresa é definir seu rumo neste ambiente turbulento. Os stakeholders dos quais sua empresa depende para gerar lucros para os acionistas precisam ouvir diretamente de você – estar engajados e ser inspirados por você. Eles não querem nos ouvir, como CEOs, opinar sobre cada questão do dia, mas precisam saber nossa posição em relação às questões sociais intrínsecas ao sucesso de longo prazo de nossas empresas.

Colocar o propósito da sua empresa na base de seus relacionamentos com os stakeholders é fundamental para o sucesso no longo prazo. Os funcionários precisam entender e se conectar com seu propósito; quando fizerem isso, eles poderão se tornar seus defensores mais fiéis. Os clientes querem ver e ouvir seus princípios, pois cada vez mais procuram fazer negócios com empresas que compartilham seus valores. E os acionistas precisam entender o princípio orientador que impulsiona sua visão e missão. Eles serão mais propensos a apoiar você em momentos difíceis se tiverem uma compreensão clara de sua estratégia e do que está por trás dela.

Um novo mundo de trabalho

Nenhuma relação foi mais alterada pela pandemia do que a relação entre empregadores e funcionários. A taxa de pedidos de demissão por colaboradores nos EUA e no Reino Unido atingiu altas históricas. E nos EUA, estamos vendo um dos maiores crescimentos nos salários em décadas. Aproveitar novas oportunidades é uma coisa boa: demonstra a confiança dos trabalhadores em uma economia em crescimento.

Embora a rotatividade e o aumento dos salários não sejam uma caraterística de todas as regiões ou setores, funcionários em todo o mundo querem mais de seus empregadores, incluindo maior flexibilidade e trabalhos mais significativos. À medida que as empresas se reconstroem saindo da pandemia, os CEOs encaram um paradigma profundamente diferente do que estávamos habituados. As empresas esperavam que os trabalhadores estivessem no escritório cinco dias por semana. A saúde mental raramente era discutida nos locais de trabalho. E os salários para aqueles com rendimentos baixos e médios mal aumentavam.

Esse mundo acabou.

Trabalhadores que exigem mais de seus empregadores são uma caraterística essencial do capitalismo eficaz. Isso impulsiona a prosperidade e cria um cenário mais competitivo para os profissionais, forçando as empresas a criar ambientes melhores e mais inovadores para eles – ações que os ajudarão a alcançar maiores lucros para seus acionistas. As empresas que oferecem isso estão colhendo os frutos. Nossa pesquisa mostra que as empresas que forjaram fortes vínculos com seus funcionários observaram níveis mais baixos de rotatividade e maiores retornos durante a pandemia.

As empresas que não se adaptam a essa nova realidade e não respondem aos seus trabalhadores fazem isso por sua conta e risco. A rotatividade aumenta as despesas, reduz a produtividade e prejudica a cultura e a memória corporativa. Os CEOs precisam se perguntar se estão criando um ambiente que os ajuda a competir por profissionais. Na BlackRock, estamos fazendo o mesmo: trabalhando com nossos próprios funcionários para navegar neste novo mundo de trabalho.

Criar esse ambiente está mais complexo do que nunca e vai além das questões de pagamento e flexibilidade. Além de melhorar nossa relação com o local onde trabalhamos fisicamente, a pandemia também evidenciou questões como igualdade racial, cuidados infantis e saúde mental – e revelou a lacuna entre as expectativas geracionais no trabalho.

Esses temas agora são o centro das atenções dos CEOs, que devem ser cuidadosos sobre como usam suas vozes e se conectam a questões sociais importantes para seus funcionários. Aqueles que demonstram humildade e permanecem fundamentados em seus propósitos são mais propensos a construir o tipo de vínculo que prolonga a carreira de alguém.

Na BlackRock queremos entender como essa tendência está afetando seu setor e sua empresa. O que você está fazendo para aprofundar o vínculo com seus funcionários? Como está garantindo que funcionários de todas as origens se sintam seguros o suficiente para maximizar a criatividade, a inovação e a produtividade deles? Como você está garantindo que sua administração tenha a supervisão correta desses problemas críticos? Onde e como trabalhamos nunca será o mesmo. Como a cultura da sua empresa está se adaptando a esse novo mundo?

Novas fontes de capital que estimulam a disrupção de mercado

Nas últimas quatro décadas, vimos uma explosão na disponibilidade de capital. Hoje, os ativos financeiros globais totalizam US$ 400 trilhões. Esse crescimento exponencial traz consigo riscos e oportunidades para investidores e empresas, significando que os bancos não são mais os únicos guardiões de financiamento.

Empresas jovens e inovadoras nunca tiveram acesso tão fácil ao capital. Nunca houve tanto dinheiro disponível para novas ideias se tornarem realidade. Isso está alimentando um cenário dinâmico de inovação. E praticamente todos os setores têm uma grande quantidade de startups tentando destronar os líderes de mercado. CEOs de empresas estabelecidas precisam entender esse cenário em constante mudança e a diversidade de capital disponível se quiserem permanecer competitivos diante de empresas menores e mais ágeis.

A BlackRock quer que as empresas em que investimos para nossos clientes evoluam e cresçam para que gerem retornos atraentes por décadas. Como investidores de longo prazo, temos o compromisso de trabalhar com empresas de todos os setores. Mas também temos de ser ágeis e garantir que os ativos dos nossos clientes sejam investidos, de acordo com os seus objetivos, nas empresas mais dinâmicas – quer sejam iniciantes ou já estabelecidas – com as melhores chances de sucesso ao longo do tempo. Esse é o nosso trabalho, como capitalistas e como administradores.

Acredito na capacidade do capitalismo de ajudar as pessoas a alcançar melhores futuros, impulsionar a inovação, construir economias resilientes e resolver alguns dos nossos desafios mais intratáveis. Os mercados de capitais permitiram que as empresas e os países prosperassem. Mas o acesso ao capital não é um direito. É um privilégio. E o dever de atrair esse capital de forma responsável e sustentável é seu.

Capitalismo e sustentabilidade

A maioria dos stakeholders – desde acionistas a funcionários, clientes, comunidades e reguladores – agora espera que as empresas desempenhem um papel na descarbonização da economia global. Poucas coisas afetarão as decisões de alocação de capital – e, portanto, o valor de longo prazo de sua empresa – mais do que a eficiência com que você navegará na transição energética global nos próximos anos.

Há dois anos escrevi que risco climático é risco de investimento. E, nesse curto período, vimos um deslocamento gigantesco de capital. Os investimentos sustentáveis atingiram US$ 4 trilhões. As ações e ambições para a descarbonização também aumentaram. Isso é apenas o começo – o gigantesco deslocamento para os investimentos sustentáveis ainda está acelerando. Seja o capital que está sendo investido em novos empreendimentos focados na inovação energética ou a transferência de capital dos índices tradicionais para portfólios e produtos mais personalizados, veremos mais dinheiro em circulação.

Todas as empresas e todos os setores serão transformados pela transição para um mundo de emissão zero. A pergunta é: você conduzirá ou será conduzido?

Em poucos anos, todos assistimos pessoas inovadoras reimaginarem a indústria automobilística. E hoje, todos os fabricantes de carros estão correndo em direção a um futuro elétrico. No entanto, a indústria automotiva está apenas na vanguarda – todos os setores serão transformados por tecnologias novas e sustentáveis.

Engenheiros e cientistas trabalham 24 horas por dia em soluções para descarbonizar cimento, aço e plásticos; setores de transportes marítimos, de transportes rodoviários e aviação; agricultura, energia e construção. Eu acredito que a descarbonização da economia global criará a maior oportunidade de investimento de todos os tempos. Também deixará para trás as empresas que não se adaptarem, não importando o setor em que se encontrem. E, como algumas empresas correm o risco de ficar para trás, o mesmo também poderá ocorrer com cidades e países que não planejarem o futuro. Esses locais correm o risco de perder postos de trabalho, mesmo enquanto outros os ganham. A descarbonização da economia será acompanhada por uma enorme criação de empregos para aqueles que se envolvem no planejamento necessário em longo prazo.

Os próximos 1.000 unicórnios não serão mecanismos de busca ou empresas de redes sociais, eles serão inovadores sustentáveis e escaláveis – startups que ajudam o mundo a se descarbonizar e tornar a transição de energia acessível para todos os consumidores. Precisamos ser honestos sobre o fato de que os produtos ecológicos geralmente têm um custo mais alto hoje. Reduzir esse “prêmio verde” será essencial para uma transição ordenada e justa. Com a quantidade sem precedentes de capital à procura de novas ideias, os incumbentes precisam ser claros sobre seu caminho para serem bem-sucedidos em uma economia de emissão zero. E não são apenas startups que podem e vão incomodar os setores. Incumbentes ousados também podem e devem fazer isso. Na verdade, muitos deles têm uma vantagem em capital, conhecimento de mercado e experiência técnica na
escala global necessária para a revolução que está por vir.

Nossa pergunta para estas empresas incumbentes é: o que você está fazendo para revolucionar seu negócio? Como está se preparando e participando da transição para emissão zero? À medida que seu setor se transforma pela transição de energia, você irá para o caminho da extinção ou do renascimento?

Nós nos concentramos em sustentabilidade não porque somos ambientalistas, mas porque somos capitalistas e fiduciários para nossos clientes. Isso requer a compreensão de como as empresas estão ajustando seus negócios para as grandes mudanças pelas
quais a economia está passando. Como parte desse foco, pedimos às empresas que definam metas de curto, médio e longo prazo para reduções de emissões de gases do efeito estufa. Essas metas e a qualidade dos planos para cumpri-las são fundamentais para os interesses econômicos de longo prazo de seus acionistas. É por isso que também pedimos que você emita relatórios consistentes com a Força-Tarefa Sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD): pois acreditamos que eles são ferramentas essenciais para entender a capacidade de uma empresa de se adaptar para o futuro.

A transição para emissão zero já é irregular, com diferentes partes da economia global se movendo em velocidades diferentes. Ela não acontecerá da noite para o dia. Precisamos passar por tons de marrom até chegar aos tons de verde. Por exemplo, para garantir a continuidade de fontes de energia acessíveis durante a transição, os combustíveis fósseis
tradicionais, como o gás natural, desempenharão um papel importante tanto para a geração de energia como para o aquecimento em determinadas regiões e para a produção de hidrogênio.

O ritmo da mudança será muito diferente nos países em desenvolvimento e desenvolvidos. Mas todos os mercados exigirão investimentos sem precedentes em tecnologias de descarbonização. Precisamos de descobertas transformadoras como as lâmpadas elétricas, e precisamos promover o investimento nelas para que sejam escaláveis e acessíveis.

Enquanto perseguimos estes objetivos ambiciosos – que levarão tempo, governos e empresas devem garantir que as pessoas continuem a ter acesso a fontes de energia confiáveis e baratas. Essa é a única forma de criarmos uma economia verde que seja justa e evitarmos conflitos sociais. E qualquer plano que se concentre unicamente em limitar a oferta e não atender à demanda de hidrocarbonetos aumentará os preços de energia para aqueles que menos podem pagar, resultando em maior polarização em torno das mudanças climáticas e impedindo o progresso.

Desinvestimento de setores inteiros – ou simplesmente a passagem de ativos com uso intenso de carbono de mercados públicos para mercados privados – não fará com que o mundo tenha uma emissão zero. E a BlackRock não busca o desinvestimento de empresas de petróleo e gás como política. Temos clientes que optam por se desfazer de seus ativos, enquanto outros rejeitam essa abordagem. Empresas com visão de futuro presentes em uma ampla gama de setores com uso intenso de carbono estão transformando seus negócios, e suas iniciativas são uma parte essencial da descarbonização. Acreditamos que as empresas na liderança da transição apresentam uma oportunidade de investimento vital para nossos clientes e impulsionar o capital para esse renascimento será essencial para alcançar um mundo de emissão zero.

O capitalismo tem o poder de moldar a sociedade e agir como um poderoso catalisador para a mudança. Mas as empresas não podem fazer isso sozinhas, e não podem ser a polícia climática. Isso não trará um bom resultado para a sociedade. Precisamos que os governos forneçam caminhos claros e uma taxonomia consistente para a política de sustentabilidade, regulamentação e divulgação em todos os mercados. Eles também devem apoiar as comunidades afetadas pela transição, ajudar a catalisar o capital para os mercados emergentes e investir na inovação e tecnologia que serão essenciais para descarbonizar a economia global.

Foi a parceria entre o governo e o setor privado que levou ao desenvolvimento de vacinas contra COVID-19 em tempo recorde. Quando usamos o poder dos setores público e privado, podemos realizar coisas realmente incríveis. Isso é o que devemos fazer para chegar à emissão zero.

Empoderamento de clientes com escolhas de voto em ESG

O capitalismo de stakeholders tem tudo a ver com a entrega de retornos duradouros e de longo prazo para os acionistas. E a transparência em torno do planejamento de sua empresa para um mundo de emissão zero é um elemento importante. Mas é apenas uma das muitas divulgações que nós e outros investidores pedimos que as empresas façam. Como administradores do capital de nossos clientes, pedimos que as empresas demonstrem como elas assumirão sua responsabilidade com os acionistas, inclusive por meio de práticas e políticas ambientais, sociais e de governança sólidas.

Em 2018, escrevi que dobraríamos o tamanho da nossa equipe de investment stewardshipe ela continua sendo a maior do setor. Criamos essa equipe para que possamos entender o progresso da sua empresa ao longo do ano, não apenas durante a temporada de assembleias gerais. Cabe a você traçar seu próprio caminho e nos dizer como está progredindo. Procuramos compreender toda a variedade de questões que você enfrenta, não apenas as que estão em votação, e isso inclui sua estratégia de longo prazo.

Assim como outros stakeholders estão ajustando seus relacionamentos com as empresas, muitas pessoas estão repensando seus relacionamentos com as empresas como acionistas. Vemos um interesse crescente entre os acionistas – inclusive entre nossos próprios clientes – na governança corporativa de empresas públicas.

É por isso que buscamos uma iniciativa para usar tecnologias para dar a nossos clientes a escolha de ter uma palavra a dizer sobre como os direitos de voto por procuração são exercidos nas empresas em que seu dinheiro é investido. Oferecemos agora essa opção para alguns clientes institucionais, incluindo fundos de pensões que atendem 60 milhões de pessoas. Estamos trabalhando para expandir esse universo.

Estamos comprometidos com um futuro em que cada investidor – até mesmo investidores individuais – possa ter a opção de participar do processo de votação por procuração, se assim o desejarem.

Sabemos que existem barreiras regulatórias e logísticas significativas para conseguir realizar isso hoje, mas acreditamos que isso poderia trazer mais democracia e mais vozes ao capitalismo. Cada investidor merece o direito de ser ouvido. Continuaremos a buscar inovação e a trabalhar com outros participantes e reguladores do mercado para ajudar no avanço dessa visão rumo à realidade.

É claro que muitos líderes corporativos são responsáveis por supervisionar ativos de renda variável, seja por meio de fundos de pensão de funcionários, contas de tesouraria corporativa ou outros investimentos feitos por sua empresa. Recomendo que você peça a seu gestor de ativos a oportunidade de participar do processo de votação por procuração mais diretamente.

A equipe de Investment Stewardship da BlackRock continua a ser o centro de nossa abordagem fiduciária e muitos de nossos clientes preferem que a equipe continue a se envolver e executar a votação em nome deles. Mas, fundamentalmente, os clientes devem ter pelo menos a opção e a chance de participar de votações mais diretamente.

Nossa convicção na BlackRock é que as empresas têm melhor desempenho quando são deliberadas sobre seu papel na sociedade e agem no interesse de seus funcionários, clientes, comunidades e acionistas.

No entanto, também acreditamos que ainda há muito para aprender sobre como o relacionamento de uma empresa com os stakeholders afeta o valor de longo prazo. É por isso que estamos lançando um Centro para o Capitalismo de Stakeholders, a fim de criar um fórum de pesquisa, diálogo e debate. Isso irá nos ajudar a explorar de maneira mais aprofundada as relações entre as empresas e seus interessados e entre o envolvimento dos interessados e o valor para os acionistas. Vamos reunir CEOs, investidores, especialistas em políticas e acadêmicos líderes para compartilhar suas experiências e apresentar seus insights.

Não é fácil cumprir os interesses concorrentes de muitos stakeholders divergentes de uma empresa. Como CEO, sei disso muito bem. Neste mundo polarizado, CEOs invariavelmente terão um grupo de stakeholders exigindo que façam uma coisa, enquanto outro grupo exigirá que façam exatamente o oposto.

É por isso que é mais importante do que nunca que a sua empresa e gestão sejam orientadas pelo seu objetivo. Se você se mantiver fiel ao propósito de sua empresa e se concentrar no longo prazo, enquanto se adapta a esse novo mundo ao nosso redor, entregará retornos duradouros aos acionistas e ajudará a perceber o poder do capitalismo para todos.

Atenciosamente,
Larry Fink
Presidente do Conselho de Administração e diretor executivo