A vinícola Catena Zapata é conhecida pela qualidade dos seus tintos, elaborados, principalmente com a malbec, e os brancos, com a chardonnay.
Mas essa vinícola referência nos vinhos argentinos ainda não tinha um rosé com a sua marca, mesmo com o sucesso crescente desta categoria nos últimos anos – a importação dos rosados no Brasil cresceu 45% no ano passado, segundo dados da Ideal Consulting.
O interessante é que o primeiro Catena Rosé está sendo lançado agora graças a uma solicitação do Brasil. “Eu pedi o vinho para eles, para nos ajudar com as vendas”, diz Ciro Lilla, o dono da importadora Mistral.
Não é a primeira vez que Lilla percebe uma lacuna de mercado e pede um vinho especial para uma das vinícolas que tem em seu portfólio. O Cisplantino, da uruguaia Pisano, é um dos exemplos.
A diferença desta vez é que o pedido do importador coincidiu com um anseio dos enólogos. “Estávamos elaborando rosé há dez safras, testando os vinhedos, as regiões e a maneira de vinificar”, conta o enólogo Nesti Bajda, da Catena Zapata.
Assim, quando o departamento comercial solicitou o produto para o Brasil, a vinícola argentina já tinha o rosado pronto para apresentar, o que fez do País o primeiro a ter um rosé da Catena Zapata.
A Mistral importou, nesse primeiro lote, um container do vinho, com 10 mil garrafas, que é vendido por R$ 184 por garrafa. “Agora tem mais países pedindo o rosé para a Catena”, afirma Ken Silvério, especialista de mercados chaves da Catena Zapata.
Pelo preço, certamente o Catena Rosé não disputará mercado com o Mateus Rosé, que segue como o rótulo rosado mais vendido no mercado brasileiro, com preço médio de R$ 40. Mas o novo vinho argentino deve surfar na onda dos rosados.
Há várias razões que explicam o sucesso atual deste estilo de vinho. Primeiro, define Thiago Mendes, fundador da escola Enocultura, os vinhos seguem ciclos, que vão mudando com o tempo e com a chegada das novas gerações de consumidores. “Teve a época dos tintos concentrados, dos brancos com madeira e agora estamos numa fase de rosé”, afirma ele.
Há também um avanço nas técnicas de vinificação. No passado, os rosados eram elaborados como um sub-produto dos tintos, quando as vinícolas faziam sangrias para concentrar o seu vinho principal.
Atualmente, os rosés são planejados desde o vinhedo, com as uvas colhidas na maturação ideal para esse estilo. Na Catena, por exemplo, a malbec que dará origem ao rosado é colhida duas semanas antes do que aquela que será elaborada como tinto.
Além disso, os rosados são atrativos para vários perfis de consumidores pela infinidade de tons de rosados e vermelhos, que, ao contrário dos brancos e tintos, se destacam nas prateleiras. São vinhos de complexidades diferentes, o que atrai públicos diversos. Eles têm um maior potencial de combinar com receitas que se encaixam no clima tropical do Brasil.
No caso do Catena Rosé, o rosé é elaborado com 90% de malbec, dos vinhedos de Agrelo, onde está a famosa La Pirâmide, a vinícola de inspiração inca da Catena, ponto turístico obrigatório para todos que fazem enoturismo na Argentina.
Nas primeiras experiências, conta Bajda, o vinho era um rosé mais escuro, com maior extração da cor, que vem da casca da uva. Com o tempo, a equipe de enologia começou a testar um rosado mais fresco, sem tanto contato da casca com a polpa, o que dá a cor do vinho.
O caminho foi selecionar uvas de vinhedos de clima mais frio, para obter uvas mais frescas, e também colher mais cedo, cerca de 15 antes do ponto ótimo de maturação para um vinho tinto. E assim, com avanços safra após safra, o rosé da Catena foi ganhando o seu estilo. “Mas queríamos fazer um rosé próprio, também gastronômico”, conta o enólogo.
O caminho foi fazer uma breve maceração carbônica, com a casca e a polpa juntas por seis horas após a prensagem, e um amadurecimento do vinho por quatro meses em barricas de carvalho. Foram escolhidas as barricas já usadas em safras anteriores para amadurecer o Angélica Zapata.
Mas o segredo deste vinho está na co-fermentação. Ao malbec, são acrescentados 5% de syrah e 5% de grenache. As três uvas são prensadas juntas e seguem para a fermentação em inox. O comum é as uvas fermentarem separadamente. E, numa próxima etapa, os enólogos definirem a assemblagem final.
“O blend traz a química, com as propriedades dos vinhos se juntando. Na co-fermentação, temos a química, mas também a física, da pressão das uvas e da temperatura da fermentação, e a biologia, porque as bactérias e as leveduras também fazem parte do processo”, explica Bajda, de uma forma mais técnica.
Com a proposta do malbec definida, o desafio final foi apresentá-lo a Nicolás Catena, o representante da terceira geração da família que decidiu, na década de 1980, focar na qualidade dos vinhos argentinos. “Um dos seus primeiros comentários foi que era um rosado para acompanhar comida”, lembra Bajda. O aval para o rosé estava dado.