Austin - Enquanto o Brasil recebe com ceticismo o projeto da Petrobras de investir na construção de uma infraestrutura offshore para a energia eólica, os Estados Unidos buscam acelerar os projetos de instalação de torres no oceano. Para um país que depende 80% das energias fóssil e nuclear, essa transição deveria ser tranquila. Mas não é o que está acontecendo.
No South by Southwest, o festival de inovação mais conhecido como SXSW, há mais de duas dezenas de painéis sobre transição energética e fontes limpas de energia. Um específico trouxe especialistas para mostrar por onde começar a construção da infraestrutura no meio do oceano.
“Os Estados Unidos estão 15 anos atrás da Europa”, disse Jason Busch, diretor-executivo da Pacific Ocean Energy Trust, uma organização que apoia o desenvolvimento responsável da energia na região do Pacífico. “Não precisamos reinventar a energia eólica, mas ver o que de melhor foi feito em infraestrutura em diferentes lugares do mundo”, completou o nigeriano Olusola Dosunmu, consultor global que já liderou projetos de US$ 60 bilhões em energia renovável.
Com uma capacidade global instalada de 55,7 GW em 2022, 62,4% mais do que no ano anterior, a energia eólica offshore tem um total conhecido de 700 GW no pipeline para a próxima década. Nessa projeção, os EUA já aparecem marginalmente enquanto o Brasil não está contemplado.
Mas os dois países estão no potencial de mudança do setor. A projeção é o mercado crescer de US$ 32,5 bilhões no ano passado para US$ 129 bilhões em 2030. Nos EUA, a capacidade instalada é de 2.000 GW de geração com os ventos do oceano e os investimentos projetados podem gerar um retorno de US$ 25,4 bilhões em produção econômica.
Tanto Brasil como Estados Unidos podem se aproveitar da evolução tecnológica, na última década, tanto das diferentes maneiras de instalação das torres no mar como da força de produção dos aerogeradores. A estimativa é que houve uma redução de custo de 75% desde 2014, além do aumento de geração das turbinas de 5 MW para 18 MW - o tamanho das pás também aumentou de 171 metros para 260 metros.
A discussão neste momento nos Estados Unidos engloba tanto o impacto no meio ambiente, que vai do problema para colônias de aves e até as áreas de proteção, como as mudanças para a economia local que a migração de peixes pode causar para pescadores, por exemplo.
“O que pode acabar com um projeto rapidamente não é a escolha técnica, mas o impacto que vai causar para as pessoas”, disse Crystal Pruitt, líder de relações institucionais da Atlantic Shores Offshore Wind, uma joint venture entre a Shell New Energies e a EDF Renewables North America, que licenciou uma área em New Jersey para gerar 1,5 GW de energia eólica offshore e abastecer 700 mil residências.
Todas essas fontes são unânimes em afirmar que não há uma resposta clara para todas as essas questões, inclusive a que mais incomoda as comunidades: o aspecto visual das torres e das hélices, que podem ser instaladas no mínimo a 15 milhas da costa (nos EUA).
O projeto de energia eólica offshore é de longo prazo. O investimento de hoje só deve entrar em funcionamento em, pelo menos, uma década. A estimativa é que são necessários dois anos para o planejamento, que envolve as discussões com a comunidade envolvida; no mínimo um ano para conseguir as licenças; outros cinco anos para a execução com a construção e instalação; e mais dois anos para o processo final, que envolve a transmissão dessa energia para o continente.
“Há 2 bilhões de pessoas que não têm acesso a qualquer tipo de energia no mundo. Além do óleo e gás ser uma energia finita, temos de saber comunicar as pessoas que é preciso mudar a fonte de energia. É minimizar o impacto de uma transição de 10 a 15 anos”, disse Dosunmu.
Neste momento, além do projeto na Costa Leste americana, outros cinco foram aprovados na Costa Oeste e terão um Capex de US$ 757,1 milhões. Quando o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, falou sobre os estudos que a companhia vem fazendo com a Equinor, ele informou que os parques eólicos ficarão em cinco estados e poderão gerar 14,5 GW de energia (uma capacidade instalada superior a da hidrelétrica de Belo Monte).
Questionado sobre o anúncio recente da Petrobras e o potencial do Brasil, Dosunmu disse ao NeoFeed que não conhece os detalhes do projeto nacional, mas não tem dúvida que as barreiras são as mesmas.
“Os problemas são iguais em todo o mundo para essa transição e eles não estão ligados ao acesso à tecnologia. O desafio é convencer as pessoas e, principalmente, os políticos.”